Thursday, December 26, 2013

Nesse ano

Descobri que rever os dias é tarefa cotidiana de dezembros desde que aprendi a escrever sobre coisas que passaram.

Percebi que por algumas palavras tantos anos seriam definidos como surpresa, essa inesperada visitante certeira de alguns gloriosos dias.

Enxerguei tanta coisa transparente aqui um dia e não tinha me dado conta que às vezes queria escondê-las, quando eram belas principalmente.

Que as histórias que a gente não queria ter passado, nunca deixarão de existir, mas pode-se esquecer, nos dias em que se sorri com o corpo todo.

Que no vai e vem de tentativas na vida há o respiro de uma tarde de silêncio que pode explicar muitas coisas.

Que o corpo gritará o mais alto que puder quando precisar parar, e fará ele mesmo esse movimento.

Que podemos fazer poesia, mas nos transformarmos nela pode ser um perigo real, já dizia um poeta.

Que deixar os escritos de lado ou o que você mais sabe fazer pode ser tirar férias de si mesmo, ou descobrir novos dons.

Que posso desacelerar e confiar que as letras estarão sempre ali: basta despertá-las de algum sono.

Que podemos ser profundamente silenciosos ou tomarmos o espaço com nossa voz, e que algum lado pode querer existir por mais tempo.

Que a vida pode ser surpreendente e nos inspirar a sermos quando quisermos.

Que não precisamos ser o ideal de ninguém e nem de nós mesmos, que somos humanos errantes o tempo todo, na perfeição da eternidade.

Que o amor pode ser um encontro, mas também decisão, estado de espírito, personalidade.

Que as coisas mudam o tempo todo. E que isso só é aprendido quando se materializa e deixa de ser uma mera frase.

Que viver é transformar os dias, se transmutar.

A vida revela-se como a criação de novas vidas dentro de uma só, nesse renascer sem fim.



Wednesday, October 02, 2013

A flutuar

Eu aprendi a nadar um dia no raso
Sem querer, ou não tendo certeza.
Desacreditando, diante o medo que sentia do mar.
Você achou que eu já sabia
Mas me puxou para o fundo, e me agarrei a você
Senti medo e por isso quase afundei
Arrisquei alguns passos entrar no oceano e mesmo tão transparente recuava
E então pulei, e afundei.
Tinha a certeza que estaria lá fora.
Mas que só poderia voltar a respirar sozinha.
Agora caminho, flutuando nas águas desse mar de olhos seus.



Tuesday, August 20, 2013

Não foi de repente

Foi assim, um dia os passarinhos cantavam, e eu estava de novo com dor de cabeça, mas pensava com os olhos fixos no desnível da cerâmica cinza do chão que eu já há muito havia cansado de dores de todos os tipos que percorriam o meu corpo e em alguns dias me deixavam em paz.
Esses dias há alguns anos, faziam eu perder a tranquilidade, era como se eu relutasse em receber algo que tão difícil e raro, e assim desconstruísse em horas a fio que se tornaram anos enrolados em um emaranhado complicado de desfazer que só matando ou morrendo para cortar os laços da linha que não eram tão bonitos.
Eu esfregava os olhos com uma preguiça sem fim e ia correr pelo buraco da calçada, torcer o pé com vontade de parar um dia e algo falava sempre no canto do ouvido como um zumbido sem fim adquirido em uma casa de show e eu mantinha ali como um eco de uma música que não ouvia mais.
Meus braços volviam pelo ar como se puxassem o denso ar que esgotava por dentro e faltava por se fazer com as próprias mãos.
Passou, nas cadeiras de balanço enviesadas de tiras transparentes cores azul e rosa, e que enferrujavam ali enquanto arrastavam uma poeira no caminho do chão da sala, deixando um rastro.
Eu não sei bem em dizer de tanto que disse e escutei, e dos vincos do rosto que faziam sorrir e depois de umas semanas estava em algumas garoas finas a encolher os braços e de novo a caminhar na rua como se desse a volta na cidade e das solas do pé incontáveis sapatos gastos.
Se eu soubesse, andaria então com um gravador no pulso, guardando as vozes que depois não escutamos mais, e não sei em que espaço de memória resgatamos de quem não está mais aqui ou só em sonho tento apertar os olhos forte pra tentar ouvir.
E desse espaço cravou-se um eco frio e brilhante da cidade em que vim, como uma certeza minha, que por ser assim, sorria ao vê-la, essa verdade nossa que criamos nas fábulas de quando nossa coluna cresce e não nos movemos mais de certas formas.
A vida toda poderia ser um silêncio de coisas mais falantes do que qualquer palavra que aprendemos, mas como dia, há de correr e preencher com algo que denote onde há dúvidas e pra onde falta crescer.

Doces luas ensolaradas e incontáveis que dividiu entre olhar ao céu de tantas formas. 


Sunday, August 11, 2013

O incrível causo da garota sem pai

Passou no cartório, e registrou-se .
Era pequena para falar , e também para andar, não tateava o balcão, mas pedia, com seus pequeninos olhos de um centímetro, que colocasse ali o nome de seu pai. 
Sua mãe a carregava no colo, enquanto ele ficava ao lado, e pagaria os custos do registro.

Sim, ele continuou, durante todos aqueles anos, e em alguns primeiros mostrou existir ali ao seu lado, como o pai que ela queria registrar.

Como o seu primeiro cartão de natal, uma das lembranças que super valoriza em um mistério de sonhos em que nos agarramos nos únicos momentos bons, em uma caixinha de cartas e cheiros de mofos, datado de 1982, com tinta vermelha, afeto e palavras poetizadas, que durante muitos anos chorava quando procurou ler.
Mas outros registros foram cobrindo entre pó, o cartão. E não lembra quando parou de relê-lo. 

Guarda hoje, o sertão, Mazzaropi, vitrolas de Nelson Gonçalves , as buscas na porta da escola, os gatos e cachorros, os filmes dos Trapalhões no cinema, o Viola minha Viola aos domingos.E é só. 


Friday, August 09, 2013

Diz.

... E então quis saber o que havia.
Ajeitou a peruca de um estranho, desencantou o olhar da padaria, foi demitida, resolveu o que afligia.

...e andava na rua assim, com a cabeça inclinada, para ouvir o que dizia. 

Saturday, June 29, 2013

... talvez esse otimismo era resquício daquela sensação que sentia toda a vez que uma dor passava. Como uma dor de cabeça muito forte, e que de repente vai embora,e te deixa livre. Aquela sensação de poder viver sem sofrer, vai se repetindo, acumula, toma força em se transforma em uma grande fé. 

Saturday, May 11, 2013

Mãe


Entro no metrô e só hoje percebi que o teto parece muito baixo.
Ando olhando para o alto, para o chão, para os lados, depois que parei de beber.
Antes olhava para frente, obstinada, sem me preocupar com as árvores.
Como pude passar por elas e desaperceber?
Continuam assim, incrivelmente crescendo por baixo do solo, e florindo para avisar isso.
Percebo suas cores, olho para o céu, e desde que contei estrelas com aquelas crianças, jamais deixo de olhá-las de forma alinhada, buscando três marias.
Elas dividem espaço ali, entre seus diversos galhos e folhas, concentradas em fixar raízes.
Se eu fosse uma delas, eu queria ser aquela estrondosa, que quebra as calçadas pra falar em existir. De tantas formas que fica impossível decorar seus braços, mudando sua estrutura com seus caminhos de crescer para o alto.
Destruindo o concreto que a oprime, mesmo quando em silêncio, e sem mover um passo, grita, que qualquer espaço é pouco.
A rua se move enquanto as plantas dormem no escuro.

Tuesday, May 07, 2013

Ah se eu te dissesse assim, o quanto eu ví, e tantos abraços, e toda a saudade, assim, por si só, aquela que não tem motivo nem alguém, que fica por qualquer coisa, a placa torta da rua, a tinta falha na parede, um cheiro que nunca sei qual é, talvez você diria que eu enlouqueci, e que a vida está sem gritar meu nome a correr os dias encobertos de lembranças. Eu lhe responderia com o tempo, esse espaço em que finjo parar os ponteiros pra encher meu ar de surpresa.

Tuesday, April 30, 2013

Tarde vazia


Esvaia-se como que um vento fugidio.
Acordou pra retomar o tempo.
O tempo que te cantou e entorpeceu.
Retoma o ar faltante e distraído.
...
Não sabes se foi um dia triste.
Tristeza não se combatia.
Pensou que ela poderia ficar. Se não a entristecesse.
Como se a recebesse com um sorriso.
Não faz jus mais ao que sentes.
...
Quantas tardes passariam assim, em dúvidas de canto.
Outras tantas, sem fôlego ou espanto.
Ausência dos ecos do vento.
Quando passa e nada diz.


Tuesday, April 23, 2013

Passou.


Descobriu-se daquelas cenas intocáveis, atravessou a rua, com pressa, a calcular a distância do carro por uma nota sonora, sem olhar para o lado e apenas para a frente;
arriscando alguns atropelos.

A ponta do dedo do pé, arranha no canto da bota que esquiva-se em um passo de vento frio, a  adentrar num espaço fino entre as linhas e o fecho.

Não era um sorriso, apenas a mistura de saliva com os fios de cabelo insistentes a confundir o seu rosto.

Dói. Aqui no canto esquerdo das costas, logo abaixo de um osso recalcado, na angústia dúvida do que se pode ser.

Receia o intervalo entre um respiro de nenhuma palavra para captar o ar enquanto falta algo no pulmão, talvez silencie.

Tanto lhe disse e o que ouviu?


Mas passou... Os carros e a fumaça, delirando entre um balé desgovernado num misto de dor e gritos suaves de sussurros.

Não reconheces, pois as pessoas estão sempre deixando algo por entre os seus dedos, enquanto crescem ou enrugam, descascam, nas unhas que tentam falar algo.

Agora estamos em outro espaço de combinações de paredes, que se dobram entre os dias e os anos que você não suspeita, sob sonhos indecifráveis esquecidos em copos deixados na ponta da mesa, palavras encurtadas em um eco esofágico.

Digeres a vida meu amor, como uma última folha de papel de tintas borradas que carregaste por alguns segundos entre seus dedos.

Lá vai, a esquina das gotas de dias a apagar as marcas da sua voz que dizia algo que não vai nunca lembrar, fica no espaço como suor perdido.

E ninguém quer perder nada. Até que se lembre. 

Algumas pessoas precisam guardar coisas que não precisam.
Outras passarão a vida sempre com saudades, entrecortando cenas do que não pode ter espaço pra assistir.
Sem terminar, foi quando inspirou e parou. Com algo ali que cabia mais do que uma página, um caderninho de anotações, a palma da mão, uma conversa que faça sentido.

Rodopiar, até que canses na volta de seus braços. Por detrás dos olhos, em algum canto de intervalo entre suas piscadas, todo sorriso passa algo incompleto.

Monday, February 18, 2013

1997

Tinha dias lentos em que de feliz sentia um nó profundo desaguado consciente de nenhuma tristeza, talvez apenas por isso, sua pele.
Esse transitável dia de mais uma vez único, seguiu-se uma chuva, prenúncios de fim de mundo, descrença nos fins, coisas guardadas, músicas que não lembrava como ouvir, nem como dizer mais.
Agora, o que já se foi.

Wednesday, February 13, 2013

Quantas despedidas cabem em uma vida?



Teve um dia, ontem, em que você imaginou que aquilo poderia virar saudade.
Mas, de um viver tão grandioso como é, daquele momento, trouxe a saudade que fica, e que não existe agora.
É algo que foi, e não volta, reluz em reviradas de fotos ou algo que nem na memória reproduz ao certo.
Necessária companhia de quem também passou aqueles dias, pra relembrar o que apagou-se com o vento.
Como uma carta não lida, fechada, com carimbos de correio, e tentativas de entrega.
Formam-se segundos de alegria absoluta de uma surpresa, como um presente em forma de lembrança que alguém vem entregar.
É um misto de felicidade que não volta, e um frescor de uma certa dor de um choro que não vem.
Fixa-se em uma respiração longa e nova, o instante exato em retomar o dia de hoje, e deixar a memória em uma caixa imaginária.
No coração, na alma, na mente, em volta do corpo, na história.
A transformação de algo em saudade é de tamanha existência por não ser mais visto.
Você sabe, mas não vê mais do jeito que viveu.
É um filme que paira no ar, sem localização ou projetores.

Thursday, December 20, 2012

Conto.


Então você desceu aquelas escadas de pedras cinza, escorou um pouco na parede, olhou para o alto do céu, e pensou se conseguiria olhar um pouco mais para fora dele.
Das próximas vezes que você falasse qualquer coisa eu ia ver um conto retalhado de páginas escoradas em uma história que não foi rabiscada.
Parecia aqueles meninos que davam volta em luzes, não se queimava, e voltava ali pra ver.
Eu não sei, mas foi em um tropeço em que descobri uma coisa escondida atrás daquele muro de paredes que desmoronavam.
Não precisava se questionar de algumas coisas que você nem mesmo sabia explicar, até mesmo uma distância do que parecia lá na frente conseguiria fazer-se entendida.
Quero acreditar em tudo que vi, de certa forma tão deturpado do que poderia ser visto.
Mas o coração falava não por saltos, mas parecia flutuar aqui dentro, dava voltas, voltava para onde estava, e então eu te olhava.
Talvez sim, eu poderia criar uma coisa da minha cabeça assim e fazer ele girar, por comandos racionais.
Acontece é que não consegui dizer que não estava me sentindo muito bem com esses movimentos e que se eu tivesse coragem...
Você calou.
Ouve, um espaço de tempo?
Talvez escutei algumas longas horas que não dava para ver, mas não tinha nada, não tinha uma ponte, não tinha o que te dizer.
Então eu ficava ali, ao seu lado, pra tentar que um dia aquilo tudo criasse uma cor.
Pensei, misturei, escolhi, manchei, derrubei, desperdicei todas as combinações impossíveis.
Esgotou-se, como se tivesse escapado todas as alternâncias e ficado só uma base sem cor, quase branca, mas nem chegava a ser isso.
Então. Há um mundo que talvez você tenha me dado a mão, enquanto eu atravessava por ali sem saber pra onde ia.
Esse mundo está longe de ti, você conseguiu sair de cena, e eu te tirei desse quadro.
Eu voltarei a ele.
Você fica.
Até eu precisar me esforçar pra recordar as vozes e as formas do rosto e então te trazer à lembrança.

Tuesday, December 18, 2012

Os pensamentos esquecidos estão em um filme sem roteiro


Pra onde vão parar os poemas não escritos?
E em qual forma as palavras não ditas são transcritas?
Onde estão as ideias que você não conhece?
O que a gente vê sozinho, quem vê também?
Se você sente algo, como alguém percebe?
As palavras que não existem surgem quando?
Essas frases aleatórias retornam embaralhadas em um papel inesperado?
Quantos sons você não ouve?
Qual pensamento você vai esquecer pra sempre?
Alguém viu aquele mesmo espaço de olhar que você focalizou?
A raiva quando passa vai pra onde?
E o amor quando acaba, vai pro ar ou cai na terra?
Quantas palavras você leu hoje?
O que você sabe sem se dar conta?



Monday, December 17, 2012


Quando ainda não é,
Porque ainda não veio
Ou que nunca foi.
Você deixou passar,
Como deixa algo tão necessário refletir ali no espelho
Era só um reflexo de algo que ainda não existe.
Um pensamento cantando alto
Tornando-se a ilusão de existência.
São treinos ou cantos,
Matéria dissolvendo-se para formar o que ainda não tem.
Ou o que existiu tão forte queimou,
Virou pó.
Comemore essa certeza do que sempre ainda não é.
Pois mudar é sempre criar algo bom.
Recriar as cinzas de cores que ainda não vê.

Tuesday, November 27, 2012


Os imensos intervalos.
As horas do barulho das gasolinas acesas de luzes pálidas.
Minutos do vento real de um ventilador de mentira.
Enquanto deixamos de olhar para alguma coisa, outras surgem num piscar de olhos.
Semanas de mudar de tempo.
É que parece que sempre partimos de alguém.
Meses de unhas roídas.
Tudo pareceu mesmo ter seu tempo.
Anos de cola de sapato trocaram asfalto.
Hora de partir, hora de voltar.
Girando bagagens, guardando universos.
Décadas de dedos feitos no apontar do lápis.
Juntando tudo, nessa destruição construtiva de mundos na mesma vida.




Monday, October 29, 2012

fim. ou sobre o desamor.


da janela, olhou para os trilhos do trem subterrâneo, que hoje, andava devagar, como para lembrar alguma coisa.
sufocada.

lá embaixo de tanto concreto, lembrou de alguém, antes de esquecer.
voltou à superfície.

se não escrevesse, não esqueceria.

Friday, October 26, 2012

Respiro


Sabe quando parava para escolher um filme e ficava encarando listas de sinopses, perdida entre histórias, receosa não entre a melhor, mas como se o tempo fosse morrer a cada minuto, reunindo listas de coisas por fazer nos próximos que não morrem.
O instante em que encara os olhos de estranhos pelas ruas em que passa e quando não sabe por que sorriu ou fez cara feia, como se quisesse falar com todas as pessoas da rua, da cidade e do mundo.
A música que desce pelos olhos e encara lá dentro o que reflete o som que nunca imaginou gostar e não foi ouvido por sua boca que antes tinha certos barulhos.
Tem a impressão que devia estar em talvez todos os aviões que passam pela sua cabeça de ontem a diante.
Ainda bate. Lá dentro quando cai tudo por fora que não existe de fato, pois o tempo é um garoto que sorri e vai.
Pensei que poderia ter existido algum momento daquele dia em que passou e hoje vejo que ele ainda não chegou.
Tudo é tão repetitivo na sua sempre novidade de tal forma que nunca mais nos cansaremos.
Parece que em alguns momentos tais sonhos inacabados se misturam com outras imagens e se transformam em outras coisas.
Essa coisa de escolher a combinação de palavras e o que precisa falar e escrever como se o que ficasse de lado fosse sempre o mais importante do que o que enfim, fez.
O tempo passou. Nada ficou mais como antes daquela velha história que cria novidade em um rumo incerto de coisas dialogadas no cômodo espaço de pensar.
Hoje tem colocado algumas coisas em prateleiras e as palavras algumas ficam na espera de um lugar.
Não faz questão do que não foi e o que veio recebe em troca do que pode ser.
Sabe eu não tinha certeza de nada e agora tenho a completa certeza disso.
O que escondo. Deveria vir aqui à tona.
Das coisas mais inofensivas e sem pontuação.


Thursday, July 05, 2012


A pipa

Eu pensei que todas as coisas que estavam misturadas podiam um dia refletir alguma imagem que não existiu até agora.

Mas era só olhar para o céu para lembrar quando passou dias de criança, na realidade.

Era bom imaginar que aquele céu de pipas eram esperanças soltas no ar, imerso em uma cortina de cores.

A se aproximar da sua janela, voa, e cai em outro muro.

Uma tesoura talvez, para voltar.
Mas não precisou: o vento puxou a pipa de volta para o outro lado da parede.
Está ali, mas é só voar.


Thursday, June 21, 2012

A raiva e o medo.
São a mesma coisa.
Vou tentar juntar outros sentimentos
 Para que se pareçam.

Thursday, December 22, 2011


Alí pra frente








Gostava de olhar para o céu a noite quando havia apenas uma estrela, em sua direção.
Nao apenas por um mero costume de gostar da solidão.
Mas como um contato, um entendimento.
Alguma forma irreal de conversa e alguma esperança.
Sentia-se novamente uma garota, querendo sonhos.
Hoje relutava, entre as dúvidas.
Mas sabia o mais reduzido volume de pensamento.

Tuesday, December 13, 2011



Ela esperava o vento passar,
Mesmo nos dias de calor,
não queria que ele ficasse.

Queria sentir uma sensação de alivio…
de mudança, de coisas fora do lugar.
Mas tinha a necessidade de ver outras a se alinhar,
A fazer sentido, a ter uma explicação.
Mania de querer ter resposta pra tudo.
Talvez era por isso que todos aqueles meses pareciam tão difíceis.
Era isso, era essa a explicação!

Inferno astral, 2011, sorte, azar,
Perder a semente que plantou.
Colher algo que não se escolhe.
Retirar da terra tristes galhos ressecados e tentar renascer.

Observar as outras flores a surgir com a água da chuva.
Não era nada otimista.
Eram vidas insistentes.
Era a contestação de qualquer tipo de sorte.
Era a desmistificação de qualquer temor.
Era a fuga de qualquer aparencia segura
Que gritasse perigo
Devagar, e com calma.
Que se fosse para ficar, se explicasse.
Que houvesse entendimento.
Lento, passageiro, com todo o seu sincero e puro horror

Thursday, November 10, 2011


Quando tudo parece errado.
Errado.
Como uma página em branco de ponta cabeça.
Uma tolerância criada depois de perde-la.
Uma chuva criada no chão.
O calor a cair em nuvens escuras.
E todas as coisas quebradas no teto.
Vai atravessar um rio de terra.

Tuesday, October 25, 2011

Essa é uma obra de ficção (quase) literalmente contrária.


Seu nome> Maria Alice. Trabalha com publicidade. Quando pequena adorava brincar com as bijouterias e perfumes da irmã mais velha. Passava horas em frente ao espelho se inventando. Gosta de uva e detesta chá.
Aos treze anos ganhou uma caixa, onde, até hoje, guarda segredos. Escrever tornou-se parte de sua vida. Os personagens do espelho, agora moram nas páginas de seus contos. É capricorniana. Nasceu no dia 30 de dezembro, por isso ou não é teimosa. Não desiste dos planos. Vai até o fim. Gosta de dormir cedo, de andar no parque, mas detesta bichos. Talvez por causa da mordida que levou do cachorro da vizinha, e que passou bem perto da jugular. Adora plantas - principalmente flores - e até hoje é fascinada por perfumes e aromas. Mora sozinha, há três anos não vê sua irmã, que mora no Canadá, e aos domingos almoça na casa dos pais.


Encontrei hoje este texto, que foi escrito por uma integrante da minha turma na época, durante os primeiros dias de oficinas literárias que fiz há uns dois anos. O exercício era olhar para uma pessoa do grupo e descrevê-la um pouco, e em poucas palavras.

Friday, October 07, 2011




Cada vez que encontrava nas esquinas qualquer
Pessoa que fazia companhia por um risco
De linhas tortas da rua, se desfazia, olhava
Para o farol de frente da sua casa agora
Não mais desmerecia os riscos vazios de coisas
Infinitas lembranças do presente, afanavam com suas letras
Cantava por dentro, entre seu ventre desconhecido
Criava o que queria, como uma ilusão consciente do seu sonho
Ao lado, poderia ser conversas de um canto inexistente
E por isso se materializava em poeiras imaginárias de alguem que se foi.

Wednesday, September 28, 2011

Às vezes tenho medo.

Não lembro muito bem quando ouvi as primeiras músicas, ou quando achava que tinha virado punk, nem ao menos a letra que mais me moveu. Pois muita gente dá a mão só pra empurrar. Talvez fosse já verdade dita lá dentro sobre o que eu acreditava, o que eu queria e o que eu não queria para mim, para o mundo, e o que eu não suportava, e nunca ia aceitar pela frente.
Mas isso é algo sentido por todo o mundo. Você tinha dessa generosidade em querer todos por perto, e todos para todos. Criava laços, não se desvencilhava.
Dos primeiros shows, lembro muito pouco, coisas das memórias que nunca viram memórias, crescem, fazem parte de tudo ali dentro, sem você se dar conta direito pra onde está indo na hora.
Mas lembro da primeira entrevista, a segunda para o trabalho de conclusão da faculdade. Do meu gravador velho, com fita K7, das risadas que arrancou de mim e que sempre arrancaria. Do seu projeto na época para uma ópera punk, por seu gosto por Mestre Ambrósio, por eu achar aquilo tudo tão sem limites, um coração aberto, uma alma livre.Dos almoços, das suas dicas de horta, do primeiro baseado dividido em um sofá desgastado pelo tempo lá em sua casa na Vila Mariana, e dos outros lá na sala da Mooca. Nos churrascos, nos aniversários, no primeiro trabalho de assessoria de imprensa. Na felicidade que eu tinha de propagar na época os 30 anos de estrada. Em sua vertente punk tão definida, em todas as outras conversas para trabalho, ou quando comecei a receber o pagamento em aulas. Queria tocar guitarra, e comecei com o violão. Que levava para casa todos os fins de semana, para treinar durante a semana. Não lembro se era sábado, mas acho que sim, era sol, de tarde, descia pelo metrô com o seu violão. Não fazia os exercícios, ou desistia, sabia que não levava jeito. Ganhava broncas, que vou sentir saudade. Você fazia sorrindo, quando eu menos esperava, e começava a falar sério por alguns minutos. Era tão fácil absorver aquilo, e eu não lembro também exatamente de tudo, mas sei tudo o que eu ouvi.
Depois eu desisti. Não queria mais decepcionar com o meu fracasso em conseguir estudar notas, em entender tudo que parecia ciências exatas. Para você tudo parecia possível. Tudo. E eu comecei a acreditar. E você tinha esse poder. Fazer crer. Não parar. E depois disso, foram meros desencontros por alguns meses, que sempre retornavam a algum ponto que haviamos parado.
E recomeçava. Pra aula de canto, para os shows, para as festas. Em você dizer que eu estava cantando bem. Em eu dizer que não acreditava. E as broncas, e eu falar que sim, que eu ia acreditar. Em você suportar todas aquelas músicas deprês e algumas cafonas que eu escolhia para cantar. De você tirando elas no violão, e a gente cantando juntos “Dream a little dream” . Meu tão querido admirado que se tornou amigo, que me fez tão triste de repente, com algo que eu nunca pude imaginar. Assim como qualquer herói, era impossível algo acontecer. Nunca pensaria, nunca. Alguém que eu vou admirar pelo resto da vida, por toda a força do seu sorriso, por toda a sua bondade. Admirava você com o poder de um pai, ou um irmão mais velho. A gente ainda precisava conversar muito. Eu ainda precisava muito te ouvir falar. A gente precisava ir a Teodoro, pra você me ajudar a escolher um violão. Eu queria saber de tanta coisa. Eu queria te contar as coisas que vi, e as pessoas que eu conheci nos últimos meses. Queria te agradecer por ter feito tanta presença na minha vida, quando tudo era ainda mais confuso do que agora, mas agora eu já nem sei mais. Queria dizer como eu voltava para casa à noite, no ônibus, depois das aulas de canto. Prestando atenção em cada nota do mp4. Que eu cantava sempre à noite, quando chegava. Que eu comprei um caderno de música, que tá em branco, ainda. E que eu carreguei ele hoje comigo, junto com todos os outros. Que eu fiz outras aulas, mas parei de novo. Que eu vou voltar sim, se eu acreditar. Que eu sempre lembro de você, desde que te conheci, em 2005, eu acho. Que aquele show no centro, na rua, há anos, foi um dos melhores pra mim. Mas eu também não lembro se era festival, muito menos o dia. Mas sei que vai ter sempre alguém a lembrar de todas essas tantas datas. E eu sei que eles nunca vão esquecer,nunca.

Sunday, August 28, 2011



Dos trinta.

Quando eu tinha tão pouco, que me esmerava do mais que me faltava.
Não havia luz, nem tampouco escuridão.
Não ganhava linhas tortas da partida de uma noite qualquer.
Era pouca, pequenina, quase um nada , a blefar sonhos infantis.
Nada valia, para que, para pouco.
Sempre achava que tinha acordado.
Como um sonho, dentro de um sonho, dentro de outro sonho.
Máscaras de sorte em faces de azar.
Dava sua volta, a achar menos, como desertos marcados em pequenas montanhas dissolvidas, que nunca ficam estáticas como paisagem.
Pequenas particulas de poeira, sao pensamentos que jamais voltam a se encontrarr
Assim pensa, a sua aparente consciencia.
Ñao sabe mais de nada, mas se recorda.
Lembra do que não disse, e o que não quis
Todas as mão tortas, embrulhadas em pedaços de palavras mudas e agitadas
Não quer o que não quer, apenas pressente
Abre a porta, a janela, a cortina ainda está por vir
Cobrir todas as aparencias do que nunca escondeu
Hoje sabe, das manias distorcidas em um mero espaço de segundo vazio de vento.
Nunca torpes arrependida, as coisas qualquer de querer.
O eco.
Nada diz, para que, pois sabes o que deveria olhar nesse tão fácil de um minuto.
Mira para as mãos, tanto espaço incalculável.
Sabes, quase tudo sobre esse nada .
Uma tecla.

Monday, August 08, 2011

do que não se escolhe:
esquecimento.
desmembrar o impossível acontecimento dos laços irrefutáveis.
de tanto santificadas veias sanguíneas, forçosas lembranças de infância.
o amor imposto só fere quando passa a existir.
e cobra juros.
caixinhas de papéis picados querem formar fotografias que nunca existiram.

Tuesday, August 02, 2011

Não é nada.
é tudo.

Monday, August 01, 2011


Na volta.


O que poderia ter sido
O que foi e não poderia.
Poderia ser…
O que?
Que pode ter,
Poder.
Não poderia.

Sunday, July 31, 2011


O sentido.




Sonhou que o mar revolto, recuava quilômetros, e ao voltar, criava grandes ondas, chegando até os seus pés, sentada em uma janela.
Dizia que precisava muito mergulhar, e então, assustadas, as pessoas da região olhavam e sorriam afetuosamente.
Acordou alí onde cachorros velhos olham para o horizonte, e observam os barulhos que chegam e que passam,
mudos.
Interagem ao sentir cheiros humanos em seus tímidos contatos.
Parecem pessoas.
Mas então o silencio quase absoluto impôs o seu barulho.
E como se fosse impossível não ouví-lo, tirou os fones.
Escutou que na volta da estrada sozinha, andando ao anoitecer, que se sentisse medo, lembrasse que a sua voz fala, e a luz responde.
Não há total vazio.
Te pedí uma vez para olhar no escuro, e unir as cores difusas no espaço negro, como pequenos pontos de mega pixels.
Nos quartos silenciosos,
Ouvia sussurros, como entre frestas da janela.
As estruturas de madeira pareciam vibrar mesmo quando os passos passavam por lá dias antes.
Meu querido desconhecido sem nome,
A ponta do topo é o chão em fuga de quando se esquece de cair.
E as histórias lindas que virão só poderiam ter sido pelo que foi agora.

Saturday, July 23, 2011

Eu não moro na angústia.
Mas ela fica ao lado
.
E todos os meus sonhos me darão insônia
.

Thursday, July 21, 2011



a glória da liberdade imaginada

Distancio da minha forma maldita.
Escolha,
o que seja,
dita.

Friday, July 01, 2011

2 segundos a cada batida
Com os meses transparentes pela fumaça escura,
Das névoas de idéias flutuantes ...
Seu cansaço quer ser cansado.
Pela insistência do silêncio

Thursday, June 30, 2011

Os títulos sem texto.
As coisas que falam.
A fala das coisas.
A coisa do tempo.
O tempo das coisas.


tem gente em que a língua tropeça.

O nó que foi dado, arrancara todas as ranhuras imaginárias da sua pele
Parcos são os olhos que dizem o que vêem
Nuca próxima de um conforto dado à idéia fixa.
Lascas dos dedos que apontas durante as décadas
Finges válida aquela tão espera nenhuma já vista
Corpo dos desavisos ganhando a alma.

Wednesday, June 29, 2011


Vez ou outra cai assim, dentro de si, fecha a porta e tranca.

Ouve sussurros, vê paredes limpas ou quartos bagunçados.

Lá fora parece inverno, aqui dentro entra algumas frestas de luz.

Muito pó e cadeiras fora do lugar.

Tenta organizar: não sabe por onde sair, não sabe por onde entrar.

Senta e observa o que esquece por ali. A janela bate, e o barulho cessa.

Depois de descansar, sai. E, como sempre, esquece a porta um pouco aberta, para voltar lá, ofegante pra fechar.

Tuesday, June 28, 2011


os arquivos de fotos poderiam se mover na pasta para melhor visualização


Já tiradas as medidas das pontas de mesas
Avistados os prédios que ficam em sol de cores destoantes
Para reflexos da saída
O que não se explica por palavras indizíveis

Thursday, June 23, 2011



Com quantas piscadas de olhos se forma um pensamento?

O líquido sólido de suas maçãs a despertou de um sonho estranho, como se quisesse se explicar pelos inexplicáveis lenços desconhecidos do inconsciente.
Tarde para as escadas de ferro sustentadas pelo ar.
O indizível para o inexistente, nunca imaginado.
Precisava pensar em outra coisa, seus pensamentos saltavam em tom alto da mente.
E formavam quase palavras.

Wednesday, June 08, 2011


Farol


Vento .Cinzas. Caos. Úmidos .Chuva. Garoa.Frio.. Não podia ir pra casa.
Nem pra outro lugar. Pra onde ir. Quando sabia pra que ficar.Dos saudosismos encheu um copo justo de alguma bebida quente. Era sempre careta nos primeiros goles.
Gostava de conversar com quem trabalhava naquele bar, não só à amizade, mas para esmorecer como se nada fosse ali , naquele espaço, mera pessoa intransigente a passar e pedir algum copo de alguma coisa. A soda cáustica na chapa, a proibiçao do cigarro, a buzina, os problemas dos guardas da CET. Assuntos para que a assimilasse como uma qualquer, e para que pudesse ficar ali, quieta, a ler o seu livro de forma a esquecer o mundo. Nao queria que ninguem a olhasse. E quando olhava para alguém garantia isso. Encarava, pra despistar. Lembrava de pneus de borracha a correr alguma ladeira. Horas pra passar. Frios, diversos, quantos invernos. Perdia conta, não sabia mais quantas letras.
Seu casaco, sua bolsa, suas impressões. Seu olhar. Não sabia, nunca. E como achava sempre tudo. O gosto amargo, mudava, doce, ácido. Sempre imergida, egoista, talvez, pura impressão. Daquelas pontes, esquinas, balançadas de ar, folhas, árvores, pessoas apressadas, não mais as via. Submeteu-se a uma jaula de janelas abertas ao ar. Escorava, pendia algo sólido, liquido, puro ar pra verter suas pontas de dedos gélidas no canto de unhas roídas de um susto qualquer. Transpassava lembranças pálidas de uma cadeira torpe de um sonho. Vozes, nomes, e soluços, nada a fazer. Não as conhecia. Era como se criações de frases partes de sua vaidade incomensurável orgulho de coisas não ditas. Ilusões, sempre tão confortáveis em suas fitas de veludo, afetuosas, a chamar quem nunca as conheceu. Menina, correr , voar. Fabulosos defeitos de ninguem que disse. Conversas numa parede torpe passageira nas folhas. Sons de palavras não lineares sempre ali. Parecia ter aqueles inexistentes a manchar seus lenços a cada instante. Ria, assim como que absoluto, aquela vontade de estar. Nunca parecia preocupada com o que não de fato existia ali. Turvas, aquelas linhas de pele, fixas em sangue disposto, Reticências, vida, maldita, por estar. Nada que fizesse efeito. Aquelas patas marcadas em plano firme de um dia de sol ao luar. Sem inexistência, sim. Sussurros aparentes de sonoridades. Parece que sabiam. Certeza nunca chegava naqueles espaços tenros de nuvens marcadas pelo dia. Esquinas e ruas de proporções das luzes que precisavam se mostrar dispersas. Aqueles ventos novos para se achar na distância da velocidade em ligação. A falta de um espaço para guardar a tornou cada vez mais esquecida. Partiu de forma a pensar em horas intermináveis que não mais as via. A inocência encontrada, em repouso absoluto, fazia rir por corriqueiras passagens de humor. Percebia esse irrefutável grito.

Thursday, June 02, 2011


Nada, não.

Teus dedos pousam em teclas gastas.
O sol que entra na tela, te confunde do real céu.
Não havia ar, nem água, nem vento.
Não havia folhas espalhadas pela mesa.
Havia cores soltas, na multidão de um preto.
A madeira transcorrida de traços desordenados.
Como se ali não existissem, na imensidão de um plano.
Todas as plantas metades, pela janela.
Faz surgir linhas desregulares.
De um laço em círculos.
A formar idéias de espaço, no formato de uma ida.
Pousa os pés em um chão móvel.
Como a falta da lembrança nítida dos seus olhos assim que fixavam frente ao mar.
Areia perdida na plena certeza dos seus pés.
A girar seus braços na companhia do seu espaço.
Amplo, cheio do que já não existe.
Formas convictas dos seus respiros humanos.
Números para pintar um quadro de azulejos em sequência.
Visto ali parecia um embaralhado de cenas reflexas do dia.
Mais do que para, e na nitidez de seu sentido, nada fazer.
Minhas capas de chuva do jardim.
Nas esquinas pálidas de dor.
Converte suas moedas, poço cheio e relutante.
Presente suas escadas de andares atônitos.
A formar círculos dentro de uma árvore.
Corre, o muro de navios cravados de um giro.

Monday, May 30, 2011

Àqueles dias

Ir para a rua. Naquele sábado à tarde, era preciso muito.
Um pouco até, mas já que achávamos que tudo estava quase perdido...
Um resgate das flores que cresciam meses antes, para talvez mostrar o resultado dessa vez.
Das pessoas que esperavam, enquanto se movimentavam, por algo que poderia mudar o discurso resignado em suas impetrações.
E foram aos milhares, crescendo em mordaças, cartazes, gestos, gritos, cantos, sorrisos, olhares cada qual com seus sentidos, diante a um mesmo destino.
Uma fila de policiais militares parecia impedir o acesso livre, dos que estavam para ecoar por isso. Era preciso certa vontade, para passar por ali, pra fazer o que seria possível, até o fim que fosse.
Barulhos. Dessa vez não eram bombas quando vários rostos se viravam pra trás. Eram balões coloridos explodindo o seu vazio. Do silêncio, que não cabia naquele espaço.
Logo o que se viu foi a mistura de tantas manifestações em uma só via, e a caminhada seguiu tranqüila, Paulista, Consolação, República. Mais balões do alto dos prédios. Palmas, gritos, sorrisos, o peito sossegado, mesmo diante de tudo que ainda está muito errado.
Por algumas longas horas a paz parecia tomar conta de todos, como se tudo fosse mais possível de dialogo, de tentativa, de mudança.
Quem observava de fora, nos pontos de ônibus, nas esquinas e nos metrôs, logo vinha para manifestar apoio, para pedir algo, o que fosse, mesmo que contido em uma frase de continuem!
Crianças segurando faixas. Bebês sendo levados em uma manta de palavras.
Cachorros nos colos de seus donos carregavam no mesmo braço cartazes.
Minutos de silêncio seguidos.
E o barulho era a música, que não devia se calar. Falar enquanto soar.


Vitória


Era ela no fundo do bar, do lado do sexshop, na frente da avenida mais movimentada de domingo à noite.

O frio era cortante lá fora, mas lá dentro, bexigas coloridas, de várias cores, lotavam uma mesa grudada de vestígios de cerveja.

Com os cabelos longos e pretos, ela parou e olhou. Sorriu, com uma felicidade tão imensa por caber ali, sozinha.

À sua frente o som do funk, o cheiro de churrasco queimando, meninas dançando no ritmo, ou fora dele. O dono do bar havia saido, preso por algumas pedras de crack.

Ela tinha dito que era seu aniversário, fazia 9 anos. Mas resposta incrédula ou resignada , perguntei onde estavam os seus amigos, enquanto ajudava Vitória a preencher mais um espaço de ar em um balão, enquanto eles não chegavam.

Thursday, May 19, 2011

Mais uma vez seu corpo sai,
deixa ali,
volta,
olha ao redor.
Quase morre.
Em um espaço.
O coração parece que para. Os olhos não vibram. Sua alma,
Lá fora, em outro lugar.
Vai atrás.

Wednesday, May 18, 2011

Cetoprofeno 100 mg


Juntou pedaços caídos em alguns lugares, deixou outros, resolveu não buscar.
Para compor tudo de novo, as partes ainda não encaixam, mas um dia, tudo ia se moldar.

Thursday, May 12, 2011



No meu tempo

Não havia computadores, nem máquinas de escrever.
Na minha casa.
E naquela época,
Não existia a possibilidade de deixar um recado público.
E nem ao menos chamar alguém imediatamente para uma conversa.
Para marcar um encontro, era preciso ouvir a voz, ao menos pelo telefone.
Tomar coragem de pegar o telefone, discar o número que, romantizado em sua combinação, marcava o dia, as horas, e as intenções com sua sequência.
Não ligar mais, era um fator concreto, que poderia afirmar algo ou um simples esquecimento.
Que não seria lembrado com conversas banais online.
E não confundia intenções ou o tipo da conversa em um final de tarde entrecortado nas realidades distintas dos dois lados.
A saudade era mais possível.
O desgaste das fotos, dos perfis, das palavras, jogadas em uma página eletrônica não existia.
Para se ter noticias de alguém era preciso visitar essa pessoa, em sua casa, na escola, ou em qualquer lugar.
Impossível falar com mais de uma pessoa, sobre o mesmo assunto, no mesmo tempo.
As ligações de telefone também ficariam caras.
E talvez por isso, era preciso escolher, a quem ligar sob o que se pretendia.
Algumas vezes, ainda mais longe de hoje, ensaiava-se um diálogo imaginário, para não se perder tempo, em espaços mudos de conversas.
E todas essas parafernálias são para economizarmos nossos minutos frente à realidade imaginada.
É como se condensássemos a perda de tempo em vários profiles.
Ninguém escreve mais cartas, nem cartão de natal.
E há aquelas pessoas que acham que assim economizam papel, e reduzem o desgaste do planeta.
Será que alguém gastaria tanto papel e tinta de caneta falando besteiras?

Thursday, May 05, 2011

quem tem dor não tem tempo.

quem tem tempo

espera

Tuesday, May 03, 2011



Tanta coisa fora do lugar.
E você querendo arrumar.
Como se fosse tesouras picotando pontas de mesas gastas de plástico.
Colando encostos de cadeiras de papel nas cabeceiras das mesas
Servindo xícaras de chá em lustres empoeirados.
Derrubando café em estradas do ar.
Pingando gotas em nuvens brancas.
Aqui de baixo.

Monday, April 25, 2011


Por todas as tardes graciosas sem querer, assim como cada galho que se move em um reflexo de um espelho branco.
Nuvens que cobrem palavras atrás de alguns parcos raios.
Linhas para entrelaçá-los, como comuns, a destruírem seus corações de algodão.
Lã que tece quadriculados estratégicos, mas inúteis.
Não trazem o ar, e não cobrem o vazio.


trilhas

SONORAS.

Sunday, April 24, 2011


Domingo

Conversava com prédios coisas inconfessáveis, prendia a sua xícara de chá no vão da janela, enquanto vertia o cigarro entre quadriculados falhos da sacada, e derrubava algumas cinzas sem querer no andar de baixo.

Com isso olhava para o vão entre eles como luzes vazias em um eco de um corredor qualquer.

Nunca pensou em contar luzes unidas como uma nuvem cintilante de pessoas desconhecidas.

Mas sempre escorava repentinamente e memorizava os movimentos da avenida para logo esquecer antes de fechar a cortina.

Em certos dias assim, tinha a imaginação do que poderia estar debaixo do azulejo. Pratos de porcelana, cabelos cinzas presos com alguns fios soltos, cachorros pequenos e inquietos, nhoque, pisos de madeira, TV, barrigas, outras luzes refletidas de outras janelas.

Olhava para o céu antes de dormir.

E depois , era como um fechar de cortinas involuntário.

Friday, April 15, 2011




Alguma vez um mosquito já entrou no seu olho?
É como se fosse algo trazido pelo vento, mas que não sai.
Ele gruda na sua córnea e no máximo escorrega até o canto próximo ao nariz.
E aí você precisa olhar direito frente a um espelho, para conseguir retirá-lo de lá... Mesmo que ele ainda esteja tentando bater as pernas minúsculas e arranhando a sua proteção de visão instantaneamente.
Então ele precisa morrer pra você voltar a enxergar sem incômodo.
É como se fosse uma agressão ao vento.
Ao seu, e ao do mosquito.