Sunday, April 24, 2011


Domingo

Conversava com prédios coisas inconfessáveis, prendia a sua xícara de chá no vão da janela, enquanto vertia o cigarro entre quadriculados falhos da sacada, e derrubava algumas cinzas sem querer no andar de baixo.

Com isso olhava para o vão entre eles como luzes vazias em um eco de um corredor qualquer.

Nunca pensou em contar luzes unidas como uma nuvem cintilante de pessoas desconhecidas.

Mas sempre escorava repentinamente e memorizava os movimentos da avenida para logo esquecer antes de fechar a cortina.

Em certos dias assim, tinha a imaginação do que poderia estar debaixo do azulejo. Pratos de porcelana, cabelos cinzas presos com alguns fios soltos, cachorros pequenos e inquietos, nhoque, pisos de madeira, TV, barrigas, outras luzes refletidas de outras janelas.

Olhava para o céu antes de dormir.

E depois , era como um fechar de cortinas involuntário.

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