Wednesday, September 28, 2011

Às vezes tenho medo.

Não lembro muito bem quando ouvi as primeiras músicas, ou quando achava que tinha virado punk, nem ao menos a letra que mais me moveu. Pois muita gente dá a mão só pra empurrar. Talvez fosse já verdade dita lá dentro sobre o que eu acreditava, o que eu queria e o que eu não queria para mim, para o mundo, e o que eu não suportava, e nunca ia aceitar pela frente.
Mas isso é algo sentido por todo o mundo. Você tinha dessa generosidade em querer todos por perto, e todos para todos. Criava laços, não se desvencilhava.
Dos primeiros shows, lembro muito pouco, coisas das memórias que nunca viram memórias, crescem, fazem parte de tudo ali dentro, sem você se dar conta direito pra onde está indo na hora.
Mas lembro da primeira entrevista, a segunda para o trabalho de conclusão da faculdade. Do meu gravador velho, com fita K7, das risadas que arrancou de mim e que sempre arrancaria. Do seu projeto na época para uma ópera punk, por seu gosto por Mestre Ambrósio, por eu achar aquilo tudo tão sem limites, um coração aberto, uma alma livre.Dos almoços, das suas dicas de horta, do primeiro baseado dividido em um sofá desgastado pelo tempo lá em sua casa na Vila Mariana, e dos outros lá na sala da Mooca. Nos churrascos, nos aniversários, no primeiro trabalho de assessoria de imprensa. Na felicidade que eu tinha de propagar na época os 30 anos de estrada. Em sua vertente punk tão definida, em todas as outras conversas para trabalho, ou quando comecei a receber o pagamento em aulas. Queria tocar guitarra, e comecei com o violão. Que levava para casa todos os fins de semana, para treinar durante a semana. Não lembro se era sábado, mas acho que sim, era sol, de tarde, descia pelo metrô com o seu violão. Não fazia os exercícios, ou desistia, sabia que não levava jeito. Ganhava broncas, que vou sentir saudade. Você fazia sorrindo, quando eu menos esperava, e começava a falar sério por alguns minutos. Era tão fácil absorver aquilo, e eu não lembro também exatamente de tudo, mas sei tudo o que eu ouvi.
Depois eu desisti. Não queria mais decepcionar com o meu fracasso em conseguir estudar notas, em entender tudo que parecia ciências exatas. Para você tudo parecia possível. Tudo. E eu comecei a acreditar. E você tinha esse poder. Fazer crer. Não parar. E depois disso, foram meros desencontros por alguns meses, que sempre retornavam a algum ponto que haviamos parado.
E recomeçava. Pra aula de canto, para os shows, para as festas. Em você dizer que eu estava cantando bem. Em eu dizer que não acreditava. E as broncas, e eu falar que sim, que eu ia acreditar. Em você suportar todas aquelas músicas deprês e algumas cafonas que eu escolhia para cantar. De você tirando elas no violão, e a gente cantando juntos “Dream a little dream” . Meu tão querido admirado que se tornou amigo, que me fez tão triste de repente, com algo que eu nunca pude imaginar. Assim como qualquer herói, era impossível algo acontecer. Nunca pensaria, nunca. Alguém que eu vou admirar pelo resto da vida, por toda a força do seu sorriso, por toda a sua bondade. Admirava você com o poder de um pai, ou um irmão mais velho. A gente ainda precisava conversar muito. Eu ainda precisava muito te ouvir falar. A gente precisava ir a Teodoro, pra você me ajudar a escolher um violão. Eu queria saber de tanta coisa. Eu queria te contar as coisas que vi, e as pessoas que eu conheci nos últimos meses. Queria te agradecer por ter feito tanta presença na minha vida, quando tudo era ainda mais confuso do que agora, mas agora eu já nem sei mais. Queria dizer como eu voltava para casa à noite, no ônibus, depois das aulas de canto. Prestando atenção em cada nota do mp4. Que eu cantava sempre à noite, quando chegava. Que eu comprei um caderno de música, que tá em branco, ainda. E que eu carreguei ele hoje comigo, junto com todos os outros. Que eu fiz outras aulas, mas parei de novo. Que eu vou voltar sim, se eu acreditar. Que eu sempre lembro de você, desde que te conheci, em 2005, eu acho. Que aquele show no centro, na rua, há anos, foi um dos melhores pra mim. Mas eu também não lembro se era festival, muito menos o dia. Mas sei que vai ter sempre alguém a lembrar de todas essas tantas datas. E eu sei que eles nunca vão esquecer,nunca.

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