Ir para a rua. Naquele sábado à tarde, era preciso muito.
Um pouco até, mas já que achávamos que tudo estava quase perdido...
Um resgate das flores que cresciam meses antes, para talvez mostrar o resultado dessa vez.
Das pessoas que esperavam, enquanto se movimentavam, por algo que poderia mudar o discurso resignado em suas impetrações.
E foram aos milhares, crescendo em mordaças, cartazes, gestos, gritos, cantos, sorrisos, olhares cada qual com seus sentidos, diante a um mesmo destino.
Uma fila de policiais militares parecia impedir o acesso livre, dos que estavam para ecoar por isso. Era preciso certa vontade, para passar por ali, pra fazer o que seria possível, até o fim que fosse.
Barulhos. Dessa vez não eram bombas quando vários rostos se viravam pra trás. Eram balões coloridos explodindo o seu vazio. Do silêncio, que não cabia naquele espaço.
Logo o que se viu foi a mistura de tantas manifestações em uma só via, e a caminhada seguiu tranqüila, Paulista, Consolação, República. Mais balões do alto dos prédios. Palmas, gritos, sorrisos, o peito sossegado, mesmo diante de tudo que ainda está muito errado.
Por algumas longas horas a paz parecia tomar conta de todos, como se tudo fosse mais possível de dialogo, de tentativa, de mudança.
Quem observava de fora, nos pontos de ônibus, nas esquinas e nos metrôs, logo vinha para manifestar apoio, para pedir algo, o que fosse, mesmo que contido em uma frase de continuem!
Crianças segurando faixas. Bebês sendo levados em uma manta de palavras.
Cachorros nos colos de seus donos carregavam no mesmo braço cartazes.
Minutos de silêncio seguidos.
E o barulho era a música, que não devia se calar. Falar enquanto soar.
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