Thursday, December 22, 2011


Alí pra frente








Gostava de olhar para o céu a noite quando havia apenas uma estrela, em sua direção.
Nao apenas por um mero costume de gostar da solidão.
Mas como um contato, um entendimento.
Alguma forma irreal de conversa e alguma esperança.
Sentia-se novamente uma garota, querendo sonhos.
Hoje relutava, entre as dúvidas.
Mas sabia o mais reduzido volume de pensamento.

Tuesday, December 13, 2011



Ela esperava o vento passar,
Mesmo nos dias de calor,
não queria que ele ficasse.

Queria sentir uma sensação de alivio…
de mudança, de coisas fora do lugar.
Mas tinha a necessidade de ver outras a se alinhar,
A fazer sentido, a ter uma explicação.
Mania de querer ter resposta pra tudo.
Talvez era por isso que todos aqueles meses pareciam tão difíceis.
Era isso, era essa a explicação!

Inferno astral, 2011, sorte, azar,
Perder a semente que plantou.
Colher algo que não se escolhe.
Retirar da terra tristes galhos ressecados e tentar renascer.

Observar as outras flores a surgir com a água da chuva.
Não era nada otimista.
Eram vidas insistentes.
Era a contestação de qualquer tipo de sorte.
Era a desmistificação de qualquer temor.
Era a fuga de qualquer aparencia segura
Que gritasse perigo
Devagar, e com calma.
Que se fosse para ficar, se explicasse.
Que houvesse entendimento.
Lento, passageiro, com todo o seu sincero e puro horror

Thursday, November 10, 2011


Quando tudo parece errado.
Errado.
Como uma página em branco de ponta cabeça.
Uma tolerância criada depois de perde-la.
Uma chuva criada no chão.
O calor a cair em nuvens escuras.
E todas as coisas quebradas no teto.
Vai atravessar um rio de terra.

Tuesday, October 25, 2011

Essa é uma obra de ficção (quase) literalmente contrária.


Seu nome> Maria Alice. Trabalha com publicidade. Quando pequena adorava brincar com as bijouterias e perfumes da irmã mais velha. Passava horas em frente ao espelho se inventando. Gosta de uva e detesta chá.
Aos treze anos ganhou uma caixa, onde, até hoje, guarda segredos. Escrever tornou-se parte de sua vida. Os personagens do espelho, agora moram nas páginas de seus contos. É capricorniana. Nasceu no dia 30 de dezembro, por isso ou não é teimosa. Não desiste dos planos. Vai até o fim. Gosta de dormir cedo, de andar no parque, mas detesta bichos. Talvez por causa da mordida que levou do cachorro da vizinha, e que passou bem perto da jugular. Adora plantas - principalmente flores - e até hoje é fascinada por perfumes e aromas. Mora sozinha, há três anos não vê sua irmã, que mora no Canadá, e aos domingos almoça na casa dos pais.


Encontrei hoje este texto, que foi escrito por uma integrante da minha turma na época, durante os primeiros dias de oficinas literárias que fiz há uns dois anos. O exercício era olhar para uma pessoa do grupo e descrevê-la um pouco, e em poucas palavras.

Friday, October 07, 2011




Cada vez que encontrava nas esquinas qualquer
Pessoa que fazia companhia por um risco
De linhas tortas da rua, se desfazia, olhava
Para o farol de frente da sua casa agora
Não mais desmerecia os riscos vazios de coisas
Infinitas lembranças do presente, afanavam com suas letras
Cantava por dentro, entre seu ventre desconhecido
Criava o que queria, como uma ilusão consciente do seu sonho
Ao lado, poderia ser conversas de um canto inexistente
E por isso se materializava em poeiras imaginárias de alguem que se foi.

Wednesday, September 28, 2011

Às vezes tenho medo.

Não lembro muito bem quando ouvi as primeiras músicas, ou quando achava que tinha virado punk, nem ao menos a letra que mais me moveu. Pois muita gente dá a mão só pra empurrar. Talvez fosse já verdade dita lá dentro sobre o que eu acreditava, o que eu queria e o que eu não queria para mim, para o mundo, e o que eu não suportava, e nunca ia aceitar pela frente.
Mas isso é algo sentido por todo o mundo. Você tinha dessa generosidade em querer todos por perto, e todos para todos. Criava laços, não se desvencilhava.
Dos primeiros shows, lembro muito pouco, coisas das memórias que nunca viram memórias, crescem, fazem parte de tudo ali dentro, sem você se dar conta direito pra onde está indo na hora.
Mas lembro da primeira entrevista, a segunda para o trabalho de conclusão da faculdade. Do meu gravador velho, com fita K7, das risadas que arrancou de mim e que sempre arrancaria. Do seu projeto na época para uma ópera punk, por seu gosto por Mestre Ambrósio, por eu achar aquilo tudo tão sem limites, um coração aberto, uma alma livre.Dos almoços, das suas dicas de horta, do primeiro baseado dividido em um sofá desgastado pelo tempo lá em sua casa na Vila Mariana, e dos outros lá na sala da Mooca. Nos churrascos, nos aniversários, no primeiro trabalho de assessoria de imprensa. Na felicidade que eu tinha de propagar na época os 30 anos de estrada. Em sua vertente punk tão definida, em todas as outras conversas para trabalho, ou quando comecei a receber o pagamento em aulas. Queria tocar guitarra, e comecei com o violão. Que levava para casa todos os fins de semana, para treinar durante a semana. Não lembro se era sábado, mas acho que sim, era sol, de tarde, descia pelo metrô com o seu violão. Não fazia os exercícios, ou desistia, sabia que não levava jeito. Ganhava broncas, que vou sentir saudade. Você fazia sorrindo, quando eu menos esperava, e começava a falar sério por alguns minutos. Era tão fácil absorver aquilo, e eu não lembro também exatamente de tudo, mas sei tudo o que eu ouvi.
Depois eu desisti. Não queria mais decepcionar com o meu fracasso em conseguir estudar notas, em entender tudo que parecia ciências exatas. Para você tudo parecia possível. Tudo. E eu comecei a acreditar. E você tinha esse poder. Fazer crer. Não parar. E depois disso, foram meros desencontros por alguns meses, que sempre retornavam a algum ponto que haviamos parado.
E recomeçava. Pra aula de canto, para os shows, para as festas. Em você dizer que eu estava cantando bem. Em eu dizer que não acreditava. E as broncas, e eu falar que sim, que eu ia acreditar. Em você suportar todas aquelas músicas deprês e algumas cafonas que eu escolhia para cantar. De você tirando elas no violão, e a gente cantando juntos “Dream a little dream” . Meu tão querido admirado que se tornou amigo, que me fez tão triste de repente, com algo que eu nunca pude imaginar. Assim como qualquer herói, era impossível algo acontecer. Nunca pensaria, nunca. Alguém que eu vou admirar pelo resto da vida, por toda a força do seu sorriso, por toda a sua bondade. Admirava você com o poder de um pai, ou um irmão mais velho. A gente ainda precisava conversar muito. Eu ainda precisava muito te ouvir falar. A gente precisava ir a Teodoro, pra você me ajudar a escolher um violão. Eu queria saber de tanta coisa. Eu queria te contar as coisas que vi, e as pessoas que eu conheci nos últimos meses. Queria te agradecer por ter feito tanta presença na minha vida, quando tudo era ainda mais confuso do que agora, mas agora eu já nem sei mais. Queria dizer como eu voltava para casa à noite, no ônibus, depois das aulas de canto. Prestando atenção em cada nota do mp4. Que eu cantava sempre à noite, quando chegava. Que eu comprei um caderno de música, que tá em branco, ainda. E que eu carreguei ele hoje comigo, junto com todos os outros. Que eu fiz outras aulas, mas parei de novo. Que eu vou voltar sim, se eu acreditar. Que eu sempre lembro de você, desde que te conheci, em 2005, eu acho. Que aquele show no centro, na rua, há anos, foi um dos melhores pra mim. Mas eu também não lembro se era festival, muito menos o dia. Mas sei que vai ter sempre alguém a lembrar de todas essas tantas datas. E eu sei que eles nunca vão esquecer,nunca.

Sunday, August 28, 2011



Dos trinta.

Quando eu tinha tão pouco, que me esmerava do mais que me faltava.
Não havia luz, nem tampouco escuridão.
Não ganhava linhas tortas da partida de uma noite qualquer.
Era pouca, pequenina, quase um nada , a blefar sonhos infantis.
Nada valia, para que, para pouco.
Sempre achava que tinha acordado.
Como um sonho, dentro de um sonho, dentro de outro sonho.
Máscaras de sorte em faces de azar.
Dava sua volta, a achar menos, como desertos marcados em pequenas montanhas dissolvidas, que nunca ficam estáticas como paisagem.
Pequenas particulas de poeira, sao pensamentos que jamais voltam a se encontrarr
Assim pensa, a sua aparente consciencia.
Ñao sabe mais de nada, mas se recorda.
Lembra do que não disse, e o que não quis
Todas as mão tortas, embrulhadas em pedaços de palavras mudas e agitadas
Não quer o que não quer, apenas pressente
Abre a porta, a janela, a cortina ainda está por vir
Cobrir todas as aparencias do que nunca escondeu
Hoje sabe, das manias distorcidas em um mero espaço de segundo vazio de vento.
Nunca torpes arrependida, as coisas qualquer de querer.
O eco.
Nada diz, para que, pois sabes o que deveria olhar nesse tão fácil de um minuto.
Mira para as mãos, tanto espaço incalculável.
Sabes, quase tudo sobre esse nada .
Uma tecla.

Monday, August 08, 2011

do que não se escolhe:
esquecimento.
desmembrar o impossível acontecimento dos laços irrefutáveis.
de tanto santificadas veias sanguíneas, forçosas lembranças de infância.
o amor imposto só fere quando passa a existir.
e cobra juros.
caixinhas de papéis picados querem formar fotografias que nunca existiram.

Tuesday, August 02, 2011

Não é nada.
é tudo.

Monday, August 01, 2011


Na volta.


O que poderia ter sido
O que foi e não poderia.
Poderia ser…
O que?
Que pode ter,
Poder.
Não poderia.

Sunday, July 31, 2011


O sentido.




Sonhou que o mar revolto, recuava quilômetros, e ao voltar, criava grandes ondas, chegando até os seus pés, sentada em uma janela.
Dizia que precisava muito mergulhar, e então, assustadas, as pessoas da região olhavam e sorriam afetuosamente.
Acordou alí onde cachorros velhos olham para o horizonte, e observam os barulhos que chegam e que passam,
mudos.
Interagem ao sentir cheiros humanos em seus tímidos contatos.
Parecem pessoas.
Mas então o silencio quase absoluto impôs o seu barulho.
E como se fosse impossível não ouví-lo, tirou os fones.
Escutou que na volta da estrada sozinha, andando ao anoitecer, que se sentisse medo, lembrasse que a sua voz fala, e a luz responde.
Não há total vazio.
Te pedí uma vez para olhar no escuro, e unir as cores difusas no espaço negro, como pequenos pontos de mega pixels.
Nos quartos silenciosos,
Ouvia sussurros, como entre frestas da janela.
As estruturas de madeira pareciam vibrar mesmo quando os passos passavam por lá dias antes.
Meu querido desconhecido sem nome,
A ponta do topo é o chão em fuga de quando se esquece de cair.
E as histórias lindas que virão só poderiam ter sido pelo que foi agora.

Saturday, July 23, 2011

Eu não moro na angústia.
Mas ela fica ao lado
.
E todos os meus sonhos me darão insônia
.

Thursday, July 21, 2011



a glória da liberdade imaginada

Distancio da minha forma maldita.
Escolha,
o que seja,
dita.

Friday, July 01, 2011

2 segundos a cada batida
Com os meses transparentes pela fumaça escura,
Das névoas de idéias flutuantes ...
Seu cansaço quer ser cansado.
Pela insistência do silêncio

Thursday, June 30, 2011

Os títulos sem texto.
As coisas que falam.
A fala das coisas.
A coisa do tempo.
O tempo das coisas.


tem gente em que a língua tropeça.

O nó que foi dado, arrancara todas as ranhuras imaginárias da sua pele
Parcos são os olhos que dizem o que vêem
Nuca próxima de um conforto dado à idéia fixa.
Lascas dos dedos que apontas durante as décadas
Finges válida aquela tão espera nenhuma já vista
Corpo dos desavisos ganhando a alma.

Wednesday, June 29, 2011


Vez ou outra cai assim, dentro de si, fecha a porta e tranca.

Ouve sussurros, vê paredes limpas ou quartos bagunçados.

Lá fora parece inverno, aqui dentro entra algumas frestas de luz.

Muito pó e cadeiras fora do lugar.

Tenta organizar: não sabe por onde sair, não sabe por onde entrar.

Senta e observa o que esquece por ali. A janela bate, e o barulho cessa.

Depois de descansar, sai. E, como sempre, esquece a porta um pouco aberta, para voltar lá, ofegante pra fechar.

Tuesday, June 28, 2011


os arquivos de fotos poderiam se mover na pasta para melhor visualização


Já tiradas as medidas das pontas de mesas
Avistados os prédios que ficam em sol de cores destoantes
Para reflexos da saída
O que não se explica por palavras indizíveis

Thursday, June 23, 2011



Com quantas piscadas de olhos se forma um pensamento?

O líquido sólido de suas maçãs a despertou de um sonho estranho, como se quisesse se explicar pelos inexplicáveis lenços desconhecidos do inconsciente.
Tarde para as escadas de ferro sustentadas pelo ar.
O indizível para o inexistente, nunca imaginado.
Precisava pensar em outra coisa, seus pensamentos saltavam em tom alto da mente.
E formavam quase palavras.

Wednesday, June 08, 2011


Farol


Vento .Cinzas. Caos. Úmidos .Chuva. Garoa.Frio.. Não podia ir pra casa.
Nem pra outro lugar. Pra onde ir. Quando sabia pra que ficar.Dos saudosismos encheu um copo justo de alguma bebida quente. Era sempre careta nos primeiros goles.
Gostava de conversar com quem trabalhava naquele bar, não só à amizade, mas para esmorecer como se nada fosse ali , naquele espaço, mera pessoa intransigente a passar e pedir algum copo de alguma coisa. A soda cáustica na chapa, a proibiçao do cigarro, a buzina, os problemas dos guardas da CET. Assuntos para que a assimilasse como uma qualquer, e para que pudesse ficar ali, quieta, a ler o seu livro de forma a esquecer o mundo. Nao queria que ninguem a olhasse. E quando olhava para alguém garantia isso. Encarava, pra despistar. Lembrava de pneus de borracha a correr alguma ladeira. Horas pra passar. Frios, diversos, quantos invernos. Perdia conta, não sabia mais quantas letras.
Seu casaco, sua bolsa, suas impressões. Seu olhar. Não sabia, nunca. E como achava sempre tudo. O gosto amargo, mudava, doce, ácido. Sempre imergida, egoista, talvez, pura impressão. Daquelas pontes, esquinas, balançadas de ar, folhas, árvores, pessoas apressadas, não mais as via. Submeteu-se a uma jaula de janelas abertas ao ar. Escorava, pendia algo sólido, liquido, puro ar pra verter suas pontas de dedos gélidas no canto de unhas roídas de um susto qualquer. Transpassava lembranças pálidas de uma cadeira torpe de um sonho. Vozes, nomes, e soluços, nada a fazer. Não as conhecia. Era como se criações de frases partes de sua vaidade incomensurável orgulho de coisas não ditas. Ilusões, sempre tão confortáveis em suas fitas de veludo, afetuosas, a chamar quem nunca as conheceu. Menina, correr , voar. Fabulosos defeitos de ninguem que disse. Conversas numa parede torpe passageira nas folhas. Sons de palavras não lineares sempre ali. Parecia ter aqueles inexistentes a manchar seus lenços a cada instante. Ria, assim como que absoluto, aquela vontade de estar. Nunca parecia preocupada com o que não de fato existia ali. Turvas, aquelas linhas de pele, fixas em sangue disposto, Reticências, vida, maldita, por estar. Nada que fizesse efeito. Aquelas patas marcadas em plano firme de um dia de sol ao luar. Sem inexistência, sim. Sussurros aparentes de sonoridades. Parece que sabiam. Certeza nunca chegava naqueles espaços tenros de nuvens marcadas pelo dia. Esquinas e ruas de proporções das luzes que precisavam se mostrar dispersas. Aqueles ventos novos para se achar na distância da velocidade em ligação. A falta de um espaço para guardar a tornou cada vez mais esquecida. Partiu de forma a pensar em horas intermináveis que não mais as via. A inocência encontrada, em repouso absoluto, fazia rir por corriqueiras passagens de humor. Percebia esse irrefutável grito.

Thursday, June 02, 2011


Nada, não.

Teus dedos pousam em teclas gastas.
O sol que entra na tela, te confunde do real céu.
Não havia ar, nem água, nem vento.
Não havia folhas espalhadas pela mesa.
Havia cores soltas, na multidão de um preto.
A madeira transcorrida de traços desordenados.
Como se ali não existissem, na imensidão de um plano.
Todas as plantas metades, pela janela.
Faz surgir linhas desregulares.
De um laço em círculos.
A formar idéias de espaço, no formato de uma ida.
Pousa os pés em um chão móvel.
Como a falta da lembrança nítida dos seus olhos assim que fixavam frente ao mar.
Areia perdida na plena certeza dos seus pés.
A girar seus braços na companhia do seu espaço.
Amplo, cheio do que já não existe.
Formas convictas dos seus respiros humanos.
Números para pintar um quadro de azulejos em sequência.
Visto ali parecia um embaralhado de cenas reflexas do dia.
Mais do que para, e na nitidez de seu sentido, nada fazer.
Minhas capas de chuva do jardim.
Nas esquinas pálidas de dor.
Converte suas moedas, poço cheio e relutante.
Presente suas escadas de andares atônitos.
A formar círculos dentro de uma árvore.
Corre, o muro de navios cravados de um giro.

Monday, May 30, 2011

Àqueles dias

Ir para a rua. Naquele sábado à tarde, era preciso muito.
Um pouco até, mas já que achávamos que tudo estava quase perdido...
Um resgate das flores que cresciam meses antes, para talvez mostrar o resultado dessa vez.
Das pessoas que esperavam, enquanto se movimentavam, por algo que poderia mudar o discurso resignado em suas impetrações.
E foram aos milhares, crescendo em mordaças, cartazes, gestos, gritos, cantos, sorrisos, olhares cada qual com seus sentidos, diante a um mesmo destino.
Uma fila de policiais militares parecia impedir o acesso livre, dos que estavam para ecoar por isso. Era preciso certa vontade, para passar por ali, pra fazer o que seria possível, até o fim que fosse.
Barulhos. Dessa vez não eram bombas quando vários rostos se viravam pra trás. Eram balões coloridos explodindo o seu vazio. Do silêncio, que não cabia naquele espaço.
Logo o que se viu foi a mistura de tantas manifestações em uma só via, e a caminhada seguiu tranqüila, Paulista, Consolação, República. Mais balões do alto dos prédios. Palmas, gritos, sorrisos, o peito sossegado, mesmo diante de tudo que ainda está muito errado.
Por algumas longas horas a paz parecia tomar conta de todos, como se tudo fosse mais possível de dialogo, de tentativa, de mudança.
Quem observava de fora, nos pontos de ônibus, nas esquinas e nos metrôs, logo vinha para manifestar apoio, para pedir algo, o que fosse, mesmo que contido em uma frase de continuem!
Crianças segurando faixas. Bebês sendo levados em uma manta de palavras.
Cachorros nos colos de seus donos carregavam no mesmo braço cartazes.
Minutos de silêncio seguidos.
E o barulho era a música, que não devia se calar. Falar enquanto soar.


Vitória


Era ela no fundo do bar, do lado do sexshop, na frente da avenida mais movimentada de domingo à noite.

O frio era cortante lá fora, mas lá dentro, bexigas coloridas, de várias cores, lotavam uma mesa grudada de vestígios de cerveja.

Com os cabelos longos e pretos, ela parou e olhou. Sorriu, com uma felicidade tão imensa por caber ali, sozinha.

À sua frente o som do funk, o cheiro de churrasco queimando, meninas dançando no ritmo, ou fora dele. O dono do bar havia saido, preso por algumas pedras de crack.

Ela tinha dito que era seu aniversário, fazia 9 anos. Mas resposta incrédula ou resignada , perguntei onde estavam os seus amigos, enquanto ajudava Vitória a preencher mais um espaço de ar em um balão, enquanto eles não chegavam.

Thursday, May 19, 2011

Mais uma vez seu corpo sai,
deixa ali,
volta,
olha ao redor.
Quase morre.
Em um espaço.
O coração parece que para. Os olhos não vibram. Sua alma,
Lá fora, em outro lugar.
Vai atrás.

Wednesday, May 18, 2011

Cetoprofeno 100 mg


Juntou pedaços caídos em alguns lugares, deixou outros, resolveu não buscar.
Para compor tudo de novo, as partes ainda não encaixam, mas um dia, tudo ia se moldar.

Thursday, May 12, 2011



No meu tempo

Não havia computadores, nem máquinas de escrever.
Na minha casa.
E naquela época,
Não existia a possibilidade de deixar um recado público.
E nem ao menos chamar alguém imediatamente para uma conversa.
Para marcar um encontro, era preciso ouvir a voz, ao menos pelo telefone.
Tomar coragem de pegar o telefone, discar o número que, romantizado em sua combinação, marcava o dia, as horas, e as intenções com sua sequência.
Não ligar mais, era um fator concreto, que poderia afirmar algo ou um simples esquecimento.
Que não seria lembrado com conversas banais online.
E não confundia intenções ou o tipo da conversa em um final de tarde entrecortado nas realidades distintas dos dois lados.
A saudade era mais possível.
O desgaste das fotos, dos perfis, das palavras, jogadas em uma página eletrônica não existia.
Para se ter noticias de alguém era preciso visitar essa pessoa, em sua casa, na escola, ou em qualquer lugar.
Impossível falar com mais de uma pessoa, sobre o mesmo assunto, no mesmo tempo.
As ligações de telefone também ficariam caras.
E talvez por isso, era preciso escolher, a quem ligar sob o que se pretendia.
Algumas vezes, ainda mais longe de hoje, ensaiava-se um diálogo imaginário, para não se perder tempo, em espaços mudos de conversas.
E todas essas parafernálias são para economizarmos nossos minutos frente à realidade imaginada.
É como se condensássemos a perda de tempo em vários profiles.
Ninguém escreve mais cartas, nem cartão de natal.
E há aquelas pessoas que acham que assim economizam papel, e reduzem o desgaste do planeta.
Será que alguém gastaria tanto papel e tinta de caneta falando besteiras?

Thursday, May 05, 2011

quem tem dor não tem tempo.

quem tem tempo

espera

Tuesday, May 03, 2011



Tanta coisa fora do lugar.
E você querendo arrumar.
Como se fosse tesouras picotando pontas de mesas gastas de plástico.
Colando encostos de cadeiras de papel nas cabeceiras das mesas
Servindo xícaras de chá em lustres empoeirados.
Derrubando café em estradas do ar.
Pingando gotas em nuvens brancas.
Aqui de baixo.

Monday, April 25, 2011


Por todas as tardes graciosas sem querer, assim como cada galho que se move em um reflexo de um espelho branco.
Nuvens que cobrem palavras atrás de alguns parcos raios.
Linhas para entrelaçá-los, como comuns, a destruírem seus corações de algodão.
Lã que tece quadriculados estratégicos, mas inúteis.
Não trazem o ar, e não cobrem o vazio.


trilhas

SONORAS.

Sunday, April 24, 2011


Domingo

Conversava com prédios coisas inconfessáveis, prendia a sua xícara de chá no vão da janela, enquanto vertia o cigarro entre quadriculados falhos da sacada, e derrubava algumas cinzas sem querer no andar de baixo.

Com isso olhava para o vão entre eles como luzes vazias em um eco de um corredor qualquer.

Nunca pensou em contar luzes unidas como uma nuvem cintilante de pessoas desconhecidas.

Mas sempre escorava repentinamente e memorizava os movimentos da avenida para logo esquecer antes de fechar a cortina.

Em certos dias assim, tinha a imaginação do que poderia estar debaixo do azulejo. Pratos de porcelana, cabelos cinzas presos com alguns fios soltos, cachorros pequenos e inquietos, nhoque, pisos de madeira, TV, barrigas, outras luzes refletidas de outras janelas.

Olhava para o céu antes de dormir.

E depois , era como um fechar de cortinas involuntário.

Friday, April 15, 2011




Alguma vez um mosquito já entrou no seu olho?
É como se fosse algo trazido pelo vento, mas que não sai.
Ele gruda na sua córnea e no máximo escorrega até o canto próximo ao nariz.
E aí você precisa olhar direito frente a um espelho, para conseguir retirá-lo de lá... Mesmo que ele ainda esteja tentando bater as pernas minúsculas e arranhando a sua proteção de visão instantaneamente.
Então ele precisa morrer pra você voltar a enxergar sem incômodo.
É como se fosse uma agressão ao vento.
Ao seu, e ao do mosquito.

Thursday, April 14, 2011

Eu vou ficar.
Não vou.
Pra colocar em ordem.
Tudo que saiu um dia.
Dos armários
Das paredes.
Das suas mãos.

Sunday, April 10, 2011

das últimas contradições

Eu quero uma folha.
que escreva em branco.
Eu nunca casei nessa igreja
E nunca peguei um taxi com essa freira.
Não comprei as flores de um cemitério qualquer!
E nem perdi o bilhete na saida.
Cada página não lida memorizada.
E as canetas que apagam o risco.
Pisando em estradas feitas de poeira.
As linhas tortas partidas.

Thursday, March 31, 2011



Um dia de cada vez.
Mas cada vez é um dia...
A vez do dia, de cada um.
Às vezes o dia, decai algum.

Tuesday, March 15, 2011


conto ágil

de 24hs


-Quero...

-...uma vacina.

-Qual vacina, senhora?

-Qualquer uma...

-... preciso me sentir protegida.

-de alguma coisa.

-...que eu não sei...

-...qual seria?

- Desculpe, senhora?

- A vacina.

Monday, February 28, 2011




Pareciam dias de luto.
Alguma coisa tinha morrido alí dentro.

Friday, January 28, 2011


Linhas horizontais sem tela

As palavras se esgotam de tão mesquinhas e individualistas em sua composição pra ser.
E hoje quem consegue dizer o nada, ou falar muito estando em silêncio?
Precisa jogar latas de tintas em paredes pichadas de mentiras simbólicas de protesto
Quer redesenhar lábios que se movem em sentido contrario
Com tesouras cortantes de pontas cegas
ainda encobre ouvidos perturbantes que gritam na escuridão de uma faixa levada ao vento.
Levar os buracos presos nas ruas para encobrir o ar em excesso dos tetos .
Empurre as suas escadas em pedaços redundantes das mãos.
Encoste os olhos todas vezes em que eles se cansarem de ver.
Assim atire em lâmpadas fluorescentes da sua rua com galhos de árvores caídos no chão.
Mire para o fim dela e desenhe o que quiser para formar outras esquinas em rascunhos de canetas impregnantes.

Thursday, January 27, 2011


Distraiu-se mais uma vez no universo paralelo. Lá, amigos invisíveis sussuram coisas que ninguém vê, apenas para ela voltar à terra.

Wednesday, January 19, 2011

Mudanças


São como caixas de papelão encostadas em uma casa.
Lá dentro algumas coisas vão cair no caminho.

Monday, January 17, 2011


Tenho boas memórias guardadas debaixo de uma falha de um belo azulejo azul que fica no chão do quarto que não existe.


Tenho más lembranças trincadas em uma madeira apodrecida, submersa nas águas do mar que visito quando preciso.