Monday, December 27, 2010


Quando tocam seus pés em chãos já vistos em ruas esguias a enaltecer as ultimas garoas de um lugar comum.

Fumaça e vapor enquanto se confundem a um transito estático que não resulta a lembranças perdidas e assim inéditas.
No espaço de portas entreabertas com dizeres cheios de palavras em códigos e não entendíveis para confundir a cidade.
Desenhos são vistos aqui de cima como uma tela, a olhar de um avião imaginário de um aeroporto travado por falta de asas.
Tenta com desvalia, atravessar entre prédios que escondem cenas entre suas janelas e portarias sempre tão desérticas e que dão sono.
Poderia jogar rosas fossem elas de qualquer forma ou cor, sob esse céu torpe e vazio, a quebrar os caules a uma ventania e tirar toda a pigmentação antes de chegar ao solo?
O que dizer a bocas que falam em desarranjos horripilantes enquanto sobrancelhas arqueiam ao que bem entendem, em uma lasciva inconsciência de palavras?
Levanta, desce as escadas e deixe-se levar por elas, como um carrossel envelhecido de luzes que piscam a cada andar como se falhassem ao pular os desníveis.
Escutaste antes as músicas instrumentais que por falta de suas linhas, faziam dançar em porões úmidos e cheios de baratas escondidas entre os copos noturnos.
Quer agora o seu corpo aqui, a levar idéias absurdas em conjunção a cérebros mentirosos, que calculam entre os desviares de retinas perdidas e secamente inflamadas.
Solta brilhos em camadas sangrentas em plantações de milhos, antes de quebrar xícaras de café da tarde, em uma cozinha matriarcal.
Aquelas prateleiras estarão sempre lá, mesmo que não haja lugar para expor seus dedos silenciosos a lerem o que tocam.
Vai sempre a andar sob esgotos para observar o que ninguém vê, como ratos invisíveis cor de asfalto preto fálido.
Achariam o que sabem de cartilhas impregnadas de fórmulas seguras que unem à mesmice em seu grupo de discussão enquanto sente um vento gélido repentino.
Olhares familiares que ainda não foram trucidados com o passar de décadas, e que talvez carreguem esse peso de uma morte tão miserável que não existiu.
Desperta no limiar dos seus panos a mostrar que é outro dia a revelar em espelhos que se movem numa consistência de humores instáveis e derretem as imagens para sempre.
Ficam incrustadas nas paredes que desmoronam pó das idéias fixas da juventude envelhecida com pulsações tão infantis.

Saturday, December 25, 2010

No ano que vem.



Perdoar as ofensas não feitas.
esquecer as palavras não ditas.
superar as cenas não vistas.
desistir de tudo que já tentou.
dançar as músicas não tocadas.
olhar através da imagem.
sorrir para a tristeza.
cantar as músicas instrumentais.
libertar tudo que conquistou.
sabe agora que viver sem ilusões será um sonho.

Wednesday, December 08, 2010


Queria dizer para algumas pessoas que hoje sou muito mais feliz sem a presença delas.
Mas isso seria abdicar das boas lembranças.
Ou talvez confundir outras ausências.

Monday, December 06, 2010


Acho que sei.
O que.

Eu quero.
Luzes coloridas durante a noite, mas nenhuma delas artificial.
Eu quero o cheiro da terra na ponta dos pés, a pisar algum espaço sem deixar rastros.
Eu quero dedos entre os cabelos quando menos restar força em minhas mãos.
Eu quero um vento que cobre a cortina e desata os seus nós na ponta da cama.
Eu quero uma porta batida no compasso do que se espera ao deixá-la aberta.
Eu quero um reflexo no espelho sem precisar olhar ou lembrar da imagem.
Eu quero o gosto que vier, pois tudo sempre precisa um pouco de doce para não azedar.
Eu quero palavras que se perdem em arquivos ou nunca serão ditas.
Eu quero um relógio que diga as horas, mas que seja invisível.
eu quero.
O que.
Acho que sei.

Thursday, December 02, 2010





Meu nome é dor. Meu sobrenome é drama.
Doi às vezes de feliz, dói de machucado, dói de inchado, inflado, mexido, dor cheia que chega a causar um drama.
Encenado, dito, escrito, cuspido, morto, sofrido, amado, de chorar, ou parte de expressões de um conto tão bem tesourado.
De traços de linhas, de tecido, da caligrafia, na tela, nas mãos, imaginárias, a grade da janela, que delineada ajuda a ver.
A cena, interpretada, vívida, foto, impressa, piscada, pausada, ou luzes, em movimento.

Friday, November 05, 2010



Sobre a rotina incessante dos sentimentos desconexos


Acordou.
Pisou o pé no mundo,
Como de costume,
Foi à cozinha
Esquentou o café, regou as plantas.
Lembrou da sua mãe
Ao conversar com ela
Seguiu no corredor
Saiu do chuveiro,
Pensou entre vapores refletidos em suas mãos.
Sempre volta para ver
O que poderia estar ligado
Mas nunca está.
Deu bom dia para o porteiro.
Às vezes ele não responde.
Assusta.
As pessoas que a trombam na rua.
Outra vez.
Imersa a atravessar
Sol.
Relógio.
Sombra.
Um moço triste com um carrinho de algodão doce colorido.
Aqueles mesmos desenhos
Do muro, frases.
Caminha, esquece, lembra, olha para o alto.
Mais um dia.

Thursday, October 28, 2010

SEM FOTO.


O tempo todo.
Não como costumava fazer.
Diurno.
Desmoronam cascalhos de vestígios aglutinantes
Sob sua cabeça
Taciturna.
Cores difusas a se repartir em quadrados montados por alguém.
Madeiras fazem janelas, e também bengalas.

Tuesday, September 21, 2010



perdia as palavras, esqueceu o que era.
importante
tremia, não palpitava
o seu coração
sumia a cor
seus pés
fincavam por lá
nao se despedia
mesmo que tentasse
dava voltas
no mesmo lugar
fitava olhos que não olhavam
sorria fora de hora
trocava frases
se desconhecia
jogava tudo o que tinha
em um pleno nada furioso por querer.

Friday, September 17, 2010



Ponto.

Gostava de ver as coisas cozinharem.
O calor da água borbulhando, fazendo tudo tomar outra cor, como se estivessem antes sem vida.
A forma que crescia, a criar movimento nas panelas, espalhadas no fogão.
Os cheiros invadiam toda a casa, e como uma ausência familiar, traziam lembranças e aqueciam sua mão encostada nos talheres, a criar rotas circulares, entre pausas, enquanto olhava para os outros pratos, a pensar em como organizar as coisas para o jantar.
A surpresa do que resultaria a fome de novos sabores.
Aprender a misturar os temperos, as combinações, o tempo certo para gratinar , o ponto ideal para cada um, sem receitas.
Não gostava tanto da demora do forno, que apressava os alimentos em consistências secas. Também evitava a agressividade do que fritava, com óleos agitados para terminar.
Tempos exatos para a água ferver, até que ela se acalmaria no final, reduzindo os sons de ebulição.

Thursday, September 16, 2010


Aquela casa tinha muitos cadeados, que sufocavam todo o ar lá de fora.
Dentro,
Havia grades e arames em uma janela.
No fundo,
Uma porta aberta.
No meio,
Um quarto difícil de abrir.
Mas com chaves.
À frente,
Ficava uma entrada, que caia na rua.
Corredores.
Mais travas.
Escadas que desciam para a sala.
Da porta da rua
Trinco.
Mais um.

Thursday, September 09, 2010

Foi dispersando ali, na borda da calçada como pó, entrou no bueiro, atrapalhou até o transito de pessoas, em pequenas poças irritantes que encharcam os sapatos, ou invadem meias desavisadas de sua falta de proteção.
Até chegar ao ponto de promover um trânsito entre um vento frio, fino, desconfortável, e a enchente travou a cidade, que já sempre andava torridamente cinza, com nuvens arrogantes de certezas de sua condição temporal.
São todas iguais, cada gota insignificante em sua partícula perdida a descer no espaço que lhe cabe entre o vento. Reduzidas de tal forma que não são capazes de limpar ou promover qualquer tipo de ação por sua condição sem unir-se a outras gotas.
Chuva, tempestades, garoas. Ligadas eternamente a um significado de um lugar onde todos buscam ser iguais, mesmo quando apregoam à sua mesmice diferença.
Se opõem com a esperança de serem únicos em uma carência de fazer parte ou parecer a algo além, aquilo que não é exposto em sua memória ínfima e vazia de aparatos próprios.
Iguais, guardam medíocres referencias de coisas já vistas repetidas vezes.
Tanta originalidade em conseguir transparecer um autentico brilho fálido no refletir dos vidros embaçados de um ônibus cheio de respiração vazia e qualquer .




Friday, August 27, 2010



Fim de mês
Mosquitos de verão. E agosto ainda não terminou.
Sobem por todos os cantos, parede, suas teclas, passam pelos olhos, enroscam-se nos seus cabelos, criam zumbidos no seu ouvido, rodopiam em um balé desesperado e mudo.
Um dia ainda batia portas de aço ao gritar por uma rua de bares de esquina, bancos de madeira verde claro entre cachorros perdidos, em outro volta para sentir um pouco do ar que perdeu em janelas de tons falhos de laranja.
Não antes de receber doses de nitrato de oxigênio, enquanto suspira aliviada entre fumaças gélidas que te traz de volta a uma vida mais colorida após passar por jalecos brancos e cobertores quadriculados cinzas em um plantão da madrugada. Olha pra cima e o que vê é fumaça e pensa como é bom desintegrar todas as coisas, reduzi-las e assim causar a real importância do que algo é em sua realidade, lá na poça ou em pó, que se espalha e multiplica, tornando-se vários pelo mundo, sem nunca saber de onde veio ou ao que pertenceu antes.
Acredita em um céu menos sufocante assim que agosto terminar, para quem sabe visualizar nuvens de um azul mais escuro, em noites limpas e claras como um novo dia, sinceras por não prometer tanta claridade que vai dispersar, hora ou outra. Não anda de máscaras por aí, nem poderia, já que elas pesam muito: os fios, e nem os galões de alumínio a acompanhariam.
Sem entender várias coisas,
fica.
Como.
pode ter?
Decidiu não absorver mais ou com tanta radiofreqüência, embora continue a acreditar ou lembrar de palavras e nomes impregnados em seus dedos enrugados por um tempo tão curto dentro da água.
Sim, aqueles que apregoam ditos não estabelecidos ou nem sequer são de fato o que vieram fazer ao mundo, mas não vai desmitificar lençóis forjados em papel de cartolina.
Assim enoja-se de cartazes súbitos a falar com línguas soltas de purpurina na sua nuca esnobe por alguma faixa continua de linhas brancas em um circulo que acredita habitar cones implantados milimetricamente entre pontes.
Pois de fato tudo aquilo que pensou um dia ali com orelhas grudadas em copo no asfalto, ecoava do outro lado da parede e fofocava contos e conversas que um dia já suspeitou.
Quer mais um ano que agosto passe, e assim poderá limpar todas as veias e artérias abruptamente corroídas por um tempo calculado em agendas de um povo que nem conheceu, mas que espalhou por ali as letras em páginas arrancadas dos cadernos intermináveis de sua memória criada...

Tuesday, August 17, 2010


Antes que eu não consiga
ou sobre como irritava feito lã na pele nua.



Cabelos
Visto do alto.
Na calçada.
O tremor de algum liquido em copo branco
Pés sentados em uma porta de vidro
Não refletiam ainda por onde queriam ir
E ainda não sabe.
Os olhos são tão reais visto de perto
E às vezes eles chegam a lembrar
Frestas de sol , chegava com aquele ar abafado
Mas não sem vozes
Que não dissessem palavras
Embora houvesse sonoridades
Ao ouvido
Vermelho, rasgado
Unha . cravada. Rosa.
Meu rosto.
Assim , sem esconder, como as funções que deveria ter.
Outras coisas. Por ali, envolta em luzes dos prédios que andavam quando chegava.
Tinha raiva. Palpitava.
Obviamente sim, pois ardia.
Minhas pernas .
Não poderiam ir para nenhum lugar agora, sobre aquele corpo
Ali, por horas, a delimitar a ausência dos seus limites tão inexistentes, como sempre.
Por querer.

Friday, August 13, 2010



Todo mundo é ninguém
Ninguém foi alguém
Alguém é ninguém
Ninguém não é alguém

Monday, August 09, 2010


as pessoas são contos
letras, alinhadas e entrecortadas
desvios, garranchos caligrafados
histórias, fábulas, orelhas no pé da página!
réguas apagadas no esfumaçado cinza de um lápis
borrões de tinta azul que nunca se apagam
amassados formando um xadrez de linearidades 
algumas se fixam
outras lá na estante

Tuesday, July 27, 2010


Tinha sol, era limpo, em tudo havia flores desenhadas em cerâmicas de vários tons de verde.


Subia escadas forradas com papel na mesma cor, que faziam um barulho de existência ao pisar.
Se sentia bem.
Resolveu entrar no banheiro, olhou no espelho, e mais um dente caia em sua mão.
Pensou em deixar como estava , já que eram os inferiores, e não dava para perceber ao sorrir.
Ficou com receio, e então antes de ligar para o dentista, deu mais uma olhada, e percebeu que no lugar deles, nasciam algumas pedras coloridas. Onix, safira, quartzos, entre outras mais.
Já não era uma boca , e sim um aquário, ficou lá dentro, então decidiu se calar.

Tuesday, July 20, 2010

Todo mundo tem um pouco de esconderijo
todo mundo tem um pouco de coisa que valha, coisa pequena, passageira,

todo mundo tem um jardim, uma duvida, uma bolha
todo mundo quem?
todo mundo quer uma porta, fita e passagem

todo mundo quer precisar, novidade ou caixinhas de som
todo mundo é valente, colchetes, sol e pilhas
todo mundo isso
todo mundo ou

aquilo.

Monday, July 19, 2010


Arre pende!
Tanta coisa.
Que deveria ficar por lá.
Ou não chegar aqui.

Por não se arrepender
Faz o que pretende
Fica pendido
O que não surpreende

Thursday, July 15, 2010

Quando está tentando se encontrar
Encontra várias coisas
Não desencontra encontros
Quando se encontra desencontra
E encontra desencontros
E encontra a desencontrar...
contos, desencantos, encantos,
E o que sobra é o canto.

Monday, July 12, 2010


Simples

Suco de beterraba com cenoura de manhã
Figo em calda com doce de leite e coca cola
Descalça no chão frio
Brisa pela cortina que entra com uma fresta de sol
Olhar várias flores da janela
Rede sem balanço, apenas quieta
Focinho de cachorro, ofegante tal sua sinceridade
Despertar vagaroso, os pés para fora do lençol
Quarto claro com as luzes lá de fora
Azul marinho, algodão, alças de outra cor
Pontas dos dedos sujos em uma lousa com giz
Vento direto, cadeira na varanda.
A deriva no mar, dormir com musica
Voltar a página de livros.
Violino, acordar sorrindo, ter saudade
Dança, criança, para brincar
Não tem medo, mas chora
Andar em pontes. Tem preguiça. Não tem tempo
Lembrar, sorrir com os olhos
Fazer careta, olhar prédios.
Cabelo molhado, chuva fina, janelas
No banco de trás . Silêncios.
Sem telefone, só conversa.
Maquiagem, bota , camisa, colete e vestido.
Torta de maçã, falar com estranhos
Cheiro de terra na mão
Dormir a encarar o céu.

Thursday, April 29, 2010


-Sabe aquela coisa?

-De fugir

-Pessoas…

-Irritam.

-Pois é, precisava.

-Longe.

-Não por muito tempo.

-Mas sempre distante.

-Uma casa, areia, barulho.

-Do vento.

-Adoraria.

-Eu sabia.

-Mas manteria contato. Até gosto delas.

-Só não suporta em grandes quantidades ou alguém em excesso?

-Em alternados momentos.

-Sei que não é sempre assim.

-Talvez eu seja quem mais não as desreverencie nesse universo.

-Sempre as absorve ou és …

-Absorta…

-E as histórias?

-Ninguém percebe que todas são contos.

-Por isso não consegue

-Decerto.

-Está até conversando comigo nessa sua lassidão momentanea.

-Primeiro deve-se ouvir a consciencia.

Wednesday, March 24, 2010


Michê lê Maria.

Ele decidiu um dia mudar de casa,então teve que tirar as paredes esperadas e virou janelas.

Aberta, livre, para a brisa passar sem curvas.

De tanto espaço precisou ir para a rua. E lá fora às vezes é abafado.

Para sair do sufoco é preciso criar vento. Com as mãos.

E saia por ai, a trocar pés.

De tanto entortar as pernas longas sob um salto agulha branco, tornou seus passos tortos.

Andava por aí a gesticular, a tomar a rua com a sua voz rasgada.

Mas pensou muito antes de se dar esse nome.

E o sobrenome sempre foi para lhe proteger. Nome de santa, purificado, homenagem a sua mãe.

Mas ela nunca imaginou que isso a faria forçar a casta, virar puta.

Ficavam as duas por aí andando de mãos dadas, como uma possessão de espíritos bilateral.

E assim todas as vezes que abusava demais da noite que virava dia, entrava em uma igreja, ficava uns minutos sentada e ia embora, mesmo sob olhares assustadores das beatas. Mas isso nunca incomodou: nem putas, nem santas, pacatas.

Horas antes estava lá, a dançar entre os faróis dos carros, divina, e entorpecida, distribuia santinhos.

A maioria respeitou, e alguns até se converteram naquela mesma noite.

Ainda assim, fitaram os seus dedos cor prata de unhas grandes, passando pelas sandálias brancas, as pernas morenas, o volume que não mais existia entre a saia cotton preta, o piercing de brilhantes no umbigo, a blusa dourada, os ombros cavados, os fios pretos, o queixo bem delineado, a boca disforme, até olhar, e desviar.

Agora em sua casa sempre lotada , havia várias imagens do Expedito, seu favorito, ao lado de cinzeiros cheios, luzes vermelhas, tombos da escada de azulejo devidamente limpa com a cândida das noites iluminadas.

Thursday, March 18, 2010


William matou alguém

Mas diz que está limpo

E gosta de perfume

Quer um celular para o seu chip

Joga charme mesmo sem lugar para dormir

E precisa ligar para a esposa

Questiona a atenção que ganha em um amanhecer sem lar

Mas desce a rua como se soubesse.

Wednesday, March 10, 2010


Ao filho que eu não tive ou sobre a pílula do dia seguinte*


Como paredes incrustadas de vermes que corroíam um sentimento maciço a desenrolar pelos cabelos até o ventre

Desmistifica parâmetros sociais que querem apartar um momento de terribilidade

A doçura de seus olhos a não formar um foco ou seus dedos iniciais a tocar cada pedaço da pele saturada

Aquele que faria um começo de algo interminável e traria um torpor das lágrimas que sufocam e nunca saem

Sorrisos vazios, mas cheios de felicidade como os primeiros raios de sol a serem mostrados

Ou quando é levado por um carrinho nas ladeiras das mesmas ruas que passei um dia, sem imaginar o que seria fixo ao meu lado

Grunhidos de pura falta de comunicação a elucidar coisas a querer em sua trajetória incerta

Maleabilidade em teu corpo frágil que pretendia se confortar sempre em um amparo que o levaria a ver os ventos no fim da tarde

O enlaçar de suas dobras entre as minhas curvas antagônicas para te mostrar os pontos que nem sei

Aparecimento de uma identidade própria, a quem nada aprendeu, apenas ajudou a formar-se

O eternizado compactuante de palavras inexistentes para entender o que se explica com poucas ou nulas palavras

Ultrapassar os tempos para lançar-se em uma nova vida, aquela que não tinha consciência quando te mostrava ao mundo

Cheiros e cores de alegria que preencheriam qualquer significação contextual de música, literatura, arte ou determinado tom que escolhesse por conta própria

Amor eterno, sem duvidas ou incerteza mesmo que me odiasse ou temesse a própria entrada que insistia em mante-lo ali, preso

O risco dos convexos dissonantes que te mostraria um caminho com intenções de sua volta certeira

A aparente desconjuntura de nervos que estariam unidos e deformados na perfeição do que é retilíneo

Vai e volta para trazer ecos de alguém que já existiu por muitas vezes

Já viste a possibilidade de renascer, mas levantei e vesti minha roupa.

*do arquivo

Tuesday, March 02, 2010

Celebração


Débora passeava descalça, na rua da calçada de vidraças.
Virou-se e disse que fazia 34 anos. E seu aniversário.
Ofereceu-a cerveja , desde que pegasse um copo para si.
Sorriu e disse que estava com vergonha, entre as mesas.
Atravessou a porta de vidro , solicitou copo descartável.
Desprendeu-se entre os dedos sujos e marrons ao vento.
Seus dentes fixavam o voltar dos cabelos.
Olhou ao redor dos prédios avante.
Dividiu a sua bebida num dia de festa

Saturday, February 13, 2010


...Ela nunca foi embora antes do ultimo copo. E por isso mesmo não hesitava se ele tivesse que vir ao chão.Embora tivesse classe com copos de cristal...

Thursday, February 04, 2010


À luz vermelha


Ela não via nada a sua frente.
Desde criança, vítima mesmo antes de ter consciência do que a vitimava.
Nasceu com uma doença congênita na retina, e desde então as vozes, cheiros e toques a orientavam no caminho que desejasse seguir.
A cada dia, uma nova esquina, uma mudança na calçada, um braço, um ar quente ao seu ouvido para ajudar, mesmo quando não pedia.
Viveu seus amores, criou flores em seu jardim,
E sabia pelo toque identificar a estrutura da espécie antes do seu próprio nome.
Os estames, os pistilos, os caules, a formar uma idéia da imagem de girassóis, margaridas, orquídeas... Tateava com a ponta dos dedos compridos de unhas finas os vasinhos que ficavam na área de frente à rua movimentada.
Nenhuma delas deixava de ter a sua atenção, principalmente as polinizadas pelo vento, que achava mais belas ao seu toque, independentes de uma beleza esperada, ou de outros seres para mantê-las vivas.
Com os cabelos curtos molhados, terminava de fechar os botões do seu vestido azul marinho preferido. Já passava dos 40, mas possuía uma beleza imponente, do tipo a não dar abertura para questionamento algum sobre o que se via, mesmo sem ser possível explicar em adjetivos padrões.
Os traços bem marcados do rosto circundavam as linhas do tempo como se aceitasse passivamente a sua existência, mas sem deixar de formar aquelas expressões presas na memória nítida de seus amantes.
Fugia das bengalas: nunca as usava. Andava segura a bolsa abaixo do braço, não por automatismos materiais, ou apegos por objetos de sentimentalismo irracional em espelhinhos gastos, chaveiros com fotos, santinhos com orações... Mas apenas por estar com algo externo ligado ao seu corpo.
Tinha dessas inseguranças estranhas que se mostravam como manias infalíveis.
Mas foi a ausência de medo em finalmente enxergar o mundo como todos os outros, que a fez entrar num processo de testes contínuos, para uma equipe médica.
Em certo dia, abriu os olhos como se já conhecesse as coisas como eram apresentadas desde então.
A terapia genética consistia na ingestão de uma substancia que buscava causar uma reação para se propagar.
Via com um pouco de nebulosidade as suas tantas flores a receberem os vestígios de um pôr do sol tímido. Fitava cada pêlo, músculo ou fio dos cabelos agitados de seus amigos felizes a olharem para ela.
Sabia que não era uma cura, mas pensou em poucos segundos que a sua rebeldia contida ao mundo esvaia-se do visível e se alojava na sua estrutura física e biológica. Alguns raros pacientes rejeitavam a rejeição, e dessa vez ela era necessária.
As cortinas caiam a afrontar tanta sinceridade, e o vermelho vivo foi a ultima coisa que viu entre um chão de faixas brancas.

Monday, February 01, 2010


O secreto decreto decrépito.

Sunday, January 31, 2010


Sobre a teoria das lacunas


Já estava antevisto o que poderia acontecer na propensão de lugares lotados de pessoas não existentes.
Pois não há como existir corpos que apenas se locomoveram para ter o esperado mesmo.
Dificil causar uma transição de fluxo quando o que está em matéria, atrai maior movimento.
Mas há luzes que se apregoam ao espaço em lacunas, que como o branco está alí para criar.
Nessa névoa de curvas ou brechas entre o que se esgota, demonstra onde se retrai.
Para nao movimentar os ventos ausentes do limite, cria-se um aprisionamento de retornos que se fixam.

Monday, January 25, 2010


Ah você deveria falar
Falar, por que não fala?
Fale o porquê, deveria.
Não guarde nada, diga.
Diga o que deveria.
Não deveria ser assim
O que guarda.

Saturday, January 23, 2010

Não lembro do ontem.
Porque não vivo do hoje
E quando estiver mais velha
Lembrarei de hoje
Só porque não olharei para o futuro.
Ninguém nunca está
Porque realmente não existe
São apenas pontos presentes
para outro dia.

Wednesday, January 20, 2010


A noite do dia passado dos últimos tempos


Perdeu lápis no caminho incerto das paredes limpas com oxigênio

Transcreveu linhas solúveis em uma parede de cascalho disperso do concreto

Suicidou-se em demasia para arrancar aquelas páginas unha a unha

E formou um livro de entulho.

Friday, January 15, 2010


Porta-aviões



Minha vida voa

Lá no alto

Rápida e serena

Em um avião

Mas tem horas que do céu ela cansa

E o avião resolve abrir a porta

E tudo cai

Lá do alto

Lentamente assisto um balé de coisas no ar

Até reduzirem no campo de visão como ínfimas

Pois chegam a realidade

E eu preciso descer para arrumar uma enorme bagunça

Até que outro avião surja

Lá no alto




Thursday, January 14, 2010


Antes
de tocar as teclas ou tintas de uma caneta qualquer, alongo os braços, bocejo, me contorço, provoco estalos nos dedos, coço os cabelos, enrolo os fios entre as mãos, faço ar de desespero, amplio pausas.
É como se estivesse diante um exercício dificultoso, como uma sequencia aeróbica, ou a construção de um muro.
Quando começo a verter junções horizontalmente num espaço branco e imaginário, é como se estivesse sentada a beira de um lago límpido e puro ou um rio denso e poluído, e de acordo com tal perspectiva, jogasse pedaços destroçados de alimento para que os respectivos seres desses ambientes se juntassem ali.

Respiro aliviada com o resultado que quis, ergo as pernas que estavam relaxadas diante dessa formação, levanto e avisto de longe as palavras que o objeto de meu alimento compôs, mesmo que para isso alguns seres tenham se trucidado.

Wednesday, January 13, 2010

vida.

por vezes são as mãos que suam, em outras são os olhos.

Monday, January 11, 2010


Não vai mais sair ninguém que reluzia jaz lá dentro.
Não vai mais entrar ninguém que relutava em estar latente

Não vais má naquela trilha

Não entra ninguém com matizes

Ninguém sai sem retornos equiparáveis

Friday, January 08, 2010


Algumas gotas de anestésico, para relaxar alguns músculos exaltados

Que tentam lutar ainda contra o torpor das direções

O sol forte não desperta, e por mais que traga algum embate, nada dói.

Machucados exaltam a cicatrização morosa, e a sensação inócua ...

...Paralisa entre faróis e volta entre algumas avenidas sem saber se suspende o ir

Não ouve, e apenas vislumbra o movimento de lábios, gestos e expressões que tentam transmitir, com preguiça, alguma mensagem.

Desvia formações com sentido que um dia criou para saber que no final, nada tem

Quer arrancar todas as peles, as unhas, cabelos, palavras não ditas, pensamentos equivocados.

A força

Ausente, retarda todas as coisas que te traz vida

Despreza a repetição doentia do sempre.

E tem aversão a sua própria animação repentina quando vibra na tentativa de se sentir humana.

Wednesday, January 06, 2010


Chuva



Cai em pedacinhos toda a imensidão de tua água
Cria movimentos perpendiculares a molhar apenas alguns
Desaba no chão e forma o que é por amplitude.
Olhada aqui de baixo é lenta, esparsa e iluminadora
Vista de cima é repleta de efeitos que pintam um chão gasto
Capaz de devastar civilizações, de desolar moradias
De causar paixões repentinas,
Ou de estressar um digno trabalhador
Provoca sonoridades que tranquilizam, ou atormentam
Batem a janela a pedir atenção ao teu espetáculo nunca quisto
Algumas começam arrebatadoras, sem avisar
Outras surgem aos poucos, a pingar alguns frangalhos de sua existência
Preenchem também as roupas, opacas pelo tecido
Leva pelos bueiros toda sujeira que existiu um dia
Causam uma sensação de companhia, em noites que esfriam

Tuesday, January 05, 2010


Sem titulo

E se lembrou dos horários que preferia
Escrever
De manha, assim que chegava a mesa de algum trabalho mais burocrático que muitas vezes nada tinha de beleza
Mesmo que fossem aqueles que traziam páginas que inspiravam cheiros de cosméticos ou qualquer outra coisa corriqueira, e que precisavam elevar-se a importância de algo coeso.
A junção de várias coisas que nada tinham em comum, o alterar de fatos que já se acostumara a briga incessante entre todos esses lados lá dentro, e nas ruas de pessoas várias não conhecidas mais ou nunca.
Precisava sempre sair dali, mas havia uma massa de ar com peso de fumaça inexistente que te levava de volta ao centro, o que se configurava mais como um andar para trás do que tal visibilidade.
Retornou ao que levou a pensar sobre tudo aquilo, como resoluções de fim de ano que não eram. Pensamentos absortos a qualquer momento, jogados num canto como papéis escoados pela água corrente dos bueiros. Juntavam-se entre si até secarem as idéias contidas em letras apagadas. Outras eram repaginadas, mesmo enquanto pensava em outros temas que a afligiam e passavam a pedir um novo texto, antes que terminasse a expor as primeiras angústias que viessem a sua mente.
Assustava-se em constatar que conseguira conversar com outras pessoas durante esse processo, e que não eram tão escapistas aquelas idéias vulneráveis.
Ignora sublinhados rubros em suas palavras inventadas, e acumula pesos das belas composições que lutam para não sair dali para qualquer momento.
Seca a boca no limiar das proporções desalinhadas que a infiltram num revés de termos e um meio fio sem fim.
Desestrutura as conjunções à procura de uma sonoridade implícita que tateia só quando relê.
Voltar a algo não quisto para aprofundar as suas eternas capacidades de superação insuportável e que implica em lesões invisíveis de pensamentos.
Destroçar-se em mil pedaços quando sorri para o previsível ou por sistemas lunáticos diários.
Afogar-se em gritos surdos quando afronta a sua tensão com uma paz que não sabe ser.