Friday, December 07, 2007

A vida é uma infinidade de situações repetidas...
...contadas cada vez de um jeito diferente.

Thursday, November 29, 2007

O Ministério das Indústrias de cigarro advertem:


Ouvir In Rainbows três vezes ao dia supre a necessidade de nicotina.

"You paint your house white and fill it with noise"
Nude

Wednesday, November 07, 2007

A mentira de um olhar verdadeiro



É somente em alguns dias que temos a certeza de que nada somos, em meio a esse emaranhado de gorduras, pulsações, hormônios, terminações nervosas e transmissores de um lado para o outro...

O mais irônico é que precisamos chegar a esse ponto para olharmos para nós mesmos. Nesse momento se explica o quanto somos egoístas . Pois os humanos só olham para as pessoas com mais atenção, em um rápido e quase inexistente instante perceptível, quando acreditam que os outros são menores do que sua ilusória grandeza. E isso acontece inconscientemente, mesmo que nós humanos, não tenhamos essa intenção.

Até mesmo aquele artista aclamado por imensidões de pessoas, só o conseguiu quando mostrou alguma fragilidade, mesmo que para isso, tivesse demonstrado sentimentos em alguma estrofe barata.

Já o instrumentista apático, que recebeu extensas criticas positivas ao seu trabalho, foi absorvido como um frágil pelo público, mesmo por aqueles que só viam a sua máscara de arrogância.

E assim olhamos para nós, quando nos sentimos pequenos e inofensivos...

Thursday, September 20, 2007


Ode

Aos bares falidos e vazios, que tocam Luiz Melodia enquanto os funcionários levam o lixo pra fora, sem deixar de trazer mais uma cerveja pra única cliente.

Aos propagadores da fé, que entregam panfletos com palavras bíblicas e não percebem que não estão sendo escutados e nem sequer enxergam fones em seu ouvido.

Aos passageiros de ônibus, que fingem não ver o que acontece em seus olhos.

À lua, que está todos esses dias no mesmo horário, no fim da minha rua.

Tuesday, August 28, 2007


Cai folhinha seca...

Você não era de sol,

Pra que foi se meter com o verão?

Já está sem proteínas há muitas primaveras, e foi a primeira a perder a cor.

Seus dias sempre são de frio,e é assim que se mantêm bela.

Mas por que insiste, em parecer verde, enquanto os ventos gélidos que te deixam viver!

Acostumou-se a duras tempestades, e à escuridão tenebrosa,

se manteve intacta na sua firmeza ,sem quebrar totalmente a cada passo que recaia em suas ramificações.

De tão opaca, tornou-se visível, e a cada empurrão do vento, tentava esconder-se em gramas muito verdes, ou num mero asfalto acinzentado.

Agora o sol te queima e traz dores intermináveis,

e a eminência de nuvens brancas , te deixa em pedacinhos que se dispersam pelo ar,

e te tornam parte do mundo, mesmo que imperceptível...

Friday, July 20, 2007





Fogo


Luzes pelos músculos
Vejo saindo
Uma força para fazer fumaça dos dedos
Poderes inúteis
Reflexo
Puro reflexo
Errôneo para achar as teclas
E lá de cima não chora
Porque a tristeza se transformou patética
E todo o riso inútil
Vem para celebrar
A morte do que era naturalmente
Triste, pálido, mórbido
Agora o que era infeliz
Se transformou em vazio
A angustia só era feliz
Quando havia tristeza

Friday, June 01, 2007


Estava no meio da Amazônia e precisava voltar para casa antes do anoitecer.
Foi quando avistei duas escadas rolantes no meio do matagal, mas elas só desciam.
Resolvi enfrentar o sentido dos degraus e comecei a subir, correndo sobre eles.
Quando cheguei ao final da escada não havia nada para descer, e lá embaixo se avistava só mato. Pulei com os olhos fechados e senti aquele frio na barriga quando se desafia a gravidade.
Mas quando olhei para cima... Havia mais escadas rolantes, e todas só desciam.
E fui assim, ultrapassando várias escadas sem chegar a lugar nenhum, enquanto dormi...

Wednesday, April 18, 2007


(...)

-Porque nosso mundo não é o mesmo de Otelo. Não se pode fazer calhambeques sem aço. – e não se pode fazer tragédias sem instabilidade social. Agora o mundo é estável. O povo é feliz; todos têm o que desejam e nunca querem o que não podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não tem medo da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se afligem com pais e mães; não tem esposas, filhos nem amantes a que se apeguem com emoções violentas; são condicionados de modo a não poderem deixar de se comportarem como devem.

(...)

- Mas vocês gostam de ser escravos? Estava dizendo o Selvagem quando eles entraram no Hospital.Tinha as faces coradas, os olhos brilhantes de ardor e indignação. Vocês gostam de ser bebês? Sim, bebês.
Babando e chorando, acrescentou exasperado pela sua estupidez de animais, a ponto de atirar insultos naqueles que se propunha a salvar. Os insultos deslizaram sobre sua espessa carapaça de estupidez; eles o olharam espantados, com o olhar vago, cheio de ressentimento. Sim, babando! Gritou ele incisivo. Dor e remorso, compaixão e dever-tudo agora estava esquecido e de certo modo absorvido num ódio intenso que dirigia contra aqueles monstros subumanos. Vocês não querem ser homens e livres?Não podem compreender o que significa ser homem e ser livre? A fúria tornava-o fluente, as palavras vinham-lhe facilmente, aos borbotões. Então, muito bem, prosseguiu feroz. Vou ensiná-los; vou torná-los livres quer queiram quer não.

(...)

-Decerto. A felicidade real parece bem sórdida e comparação às compensações que se encontram na miséria. E sem dúvida a estabilidade não é tão bom espetáculo quanto à instabilidade. E estar contente nada tem do encanto de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de uma batalha contra a tentação, nem de uma derrota fatal pela paixão ou pela dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.


Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo

Wednesday, April 11, 2007


Quando


Quando amamos é
Quando odiamos alguém?
Quando amamos alguém e
Quando odiamos alguém é quando?
Quando amamos alguém...
...é quando há qualidades de quando odiávamos
Quando amamos alguém...é quando há qualidades até nos defeitos
Quando odiamos alguém...
...é quando os defeitos escondem as qualidades
E assim o ser amado é venerado por qualquer ato imbecil
E o odiado torna-se insuportável apenas pela sua existência
Humanos.
E as formas exageradas e egoístas de sentir.

Tuesday, April 10, 2007


Feitiço




Existe uma distância mínima para nos tornarmos aquilo que criticamos


Monday, April 09, 2007



"Prefiro ser odiada com coerência a amada sem razão."


"She tries not to shatter, Kaleidoscope style

Personality changes behind her red smile..."

(Siouxsie And The Banshees)

Thursday, April 05, 2007


Nobre horário

Ele pulou o muro, olhou para você.
Você anda mais rápido, mas ele está quase te alcançando, com a mão por baixo da blusa.
Você não pensa duas vezes e sai correndo, caminha junto a uma mulher, mas ele está correndo também.
Você volta a correr e entra em casa ofegante, não brinca com a cachorra e apaga as luzes.
Alguns minutos depois alguém toca a campainha, era seu vizinho, dizendo que o viu te seguir, e olhar por baixo do portão quando você entrou.
Seu celular recebe uma mensagem, a mãe de um amigo morreu.
Você liga para ele, que está acabado, e ouve de fundo o som no volume máximo da TV, sintonizada na Globo.
Nesse momento todas as pessoas estão de frente à televisão. E é muito perigoso voltar para casa sozinha no horário da final do Big Brother Brasil.

Tuesday, April 03, 2007



Quando só vi uma criança em mim enquanto eu envelhecia.
Quando visualizei meus erros pela ótica da condenação.
Quando me esqueci em quartos empoeirados.
Quando me uni a incompreensão dos outros sobre mim mesma.
Quando me indaguei sobre coisas que eu não queria saber.
Quando subi num palco para mostrar os meus erros enquanto atiraram pedras.
Quando esperei os tapas de olhos fechados.
Quando não escapei da máquina de rótulos.
Quando me violentei nua por baixo de holofotes.
Quando fui ao encontro de dedos apontados sem ao menos tentar me esquivar.
Quando pensei só em defeitos enquanto eu crescia.
Quando economizei para não comprar as minhas próprias brigas.
Quando fui cruel comigo mesma.

Monday, April 02, 2007


Ferida

Caminhava naquele mesmo cruzamento no fim da noite, enquanto observava os malabarismos do engolidor de fogo no farol.
O espetáculo era o mesmo, mas ficaram ali por alguns instantes, para ver as labaredas que se dispersavam , e se movimentavam lentamente pelo ar.
O vermelho já mudava para o verde quando um loiro alto gordo e fascista chegou e socou o rapaz, que caiu no chão. Ele , na tentativa de se defender, foi caminhando em sua direção e jogou uma tocha que não o atingiu. As pessoas já se aglomeravam ao redor e o agressor ficou ali, estático, apenas gesticulando ao recuar.
Covardia e intolerância contra quem é diferente de você.Coisas que não tem explicação, seja o tipo de dogma que a pessoa tenha. E assim o mundo se move.


"Please could you stop the noise, I'm trying to get somerest

I may be paranoid, but not an Android (…)

you will be first against the wall With your opinion which is of no consequence at all..."

(radioh...)

Wednesday, March 28, 2007

Fica intermitentemente proibido :



- água com gás
-chicletes.
-doces com muita manteiga ou gordura.
-chocolate
-café
-capuccino
-refrigerantes, principalmente coca-cola
-quibes
-carnes difíceis de digerir
-carnes com molho....
...qualquer tipo de carne
-bolinhos de queijo
-pastel
-batata frita
-coxinha
-risoles...
...qualquer tipo de fritura
-orégano
-azeitona!!!!
-pimenta
-manjericão...
... qualquer tipo de tempero... ah, sal pode, em pequenas quantidades.
- manteiga
-maionese
-tomate
-limão, laranja , abacaxi ou morango.
-pizza
-cachorro quente
-misto quente
-bauru
-fast food...
... qualquer tipo de lanche.
-yakissoba
--molho no macarrão
-molhos de qualquer tipo, e qualquer tipo de comida gordurosa.
-cerveja, destilados e qualquer tipo de bebida alcoólica que pese num estomâgo infeliz e sensível.
-cigarros!

Devo ter esquecido de alguma coisa...
Eu era feliz e ainda reclamava da vida..
Momentos assim a gente vê como o básico é essencial nas nossas vidas.Mas por um lado, como é doce o sabor do desapego...Claro que até eu me curar da gastrite mais uma vez, ou seja lá o que for que exista nesse meu estômago. Ou quem sabe eu elimine de vez alguns itens nocivos.

Friday, March 23, 2007


Sobre o outono, formigas, e outras espécies



Na minha casa tem atrás da pia, em alguns lares as pessoas correm para colocar o açúcar na geladeira, e até no restaurante eu avistei uma fileira delas.
Chega a meia estação que antecede os dias frios, e junto com o outono, milhares de formigas saem das arestas profundas para conseguirem resgatar o máximo de comida que vão consumir dentro das suas casas, durante o inverno.
O poder organizacional desses seres é surpreendente, elas se separam por funções e hierarquizam os seus poderes. São tão trabalhadoras, que andam por aí destemidas, com movimentos frenéticos, e nem se assustam quando adentram sobre a sua sombra na mesa. E aí você pousa o copo sobre ela, e pronto, todo o trabalho perde a chance de ser reconhecido ou perpetuado. As colegas nem se abatem e continuam no mesmo ritmo de antes. E é nessas horas que elas passam de geniais a estúpidas.
Trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Sem descanso, apenas para lotar a dispensa.
Nenhum pensamento, memória, ou até mesmo uma filosofia profunda de trabalho. É assim com a maioria dos animais ou insetos, mas as formigas, são vencedoras de todas as castas operárias, perdendo talvez para as abelhas, ou até quem sabe, para os humanos?
A diferença é que pela dimensão dos seus corpos, as formigas se satisfazem apenas comendo e se reproduzindo. Já os humanos , gostam de comprar tudo o que seu trabalho diário possa pagar, para aí então, chamar a atenção do parceiro de copulação, e aí, eles
sentem fome, e em seguida, trabalham, e depois, compram, e depois...


Tuesday, March 20, 2007



Eu sou alguém que passa dias obscura, pessimista, sem querer ter contato com o mundo e às vezes com uma grande dificuldade de sorver palavras positivistas.
Mas preste atenção aos que reclamam demais: há um lado alegre na indignação, há energia nos xingamentos, há brilho na repulsa.
Por mais sincero e libertador que pareça, reclamar o dia inteiro com ares ranzinzas sobre um palco de nada vai ajudar a resolver certos problemas, ainda mais quando eles nem ao certo existem.
Eis um dia com Felícia:


- Nossa, peguei um trânsito agora, e na pressa de chegar logo aqui, acabei não passando naquele evento, que eu precisava ir com certeza. A assessora já está me ligando de cinco em cinco minutos me torrando a paciência para divulgar alguma coisa.
-Vocês pediram um lanche também? Nossa, faz meia hora e o menino ainda não chegou aqui, não sei como eles se enrolam tanto, porque é super perto daqui não é? É só atravessar a praça e trazer, não sei qual é o problema.
-Ontem eu passei um sufoco em casa. Porque eu já tinha contado daquele vazamento lá no meu apartamento, não contei? Pois então, além da água pingar do teto, começou a surgir um cheiro muito forte, eu não sabia o que fazer, chamei meu marido e ele ficou lá na sala, igual um bobo, olhando, parado. Ai depois de algum tempo ele resolveu sair e descobriu que o problema era do prédio do andar de cima. A nossa sala fica bem debaixo de uma lavanderia. E a mulher lava roupa para fora, dentro de um condomínio! Imagina a quantidade de roupas, e a pressão na máquina de lavar, bem sobre as nossas cabeças! Acho que por isso começou aquilo tudo.
-Eu não consigo lixar as unhas. Por quê? Ah, porque sempre fica torto, ai eu tento igualar a outra unha com a primeira, e acabo entortando todas as unhas! Preciso marcar manicure, mas como estou com aquele problema lá na unha , sabe? Eu te falei? Então, a menina, uma carniceira, acabou com essa minha cutícula, aí eu conversei com uma manicure de confiança que eu tenho, e ela disse que é melhor eu ficar umas semanas sem fazer e sem ter contato com produtos de limpeza. Ontem eu já comecei a brigar com meu marido porque ele tinha que lavar a louça, não eu, nessa situação...
-Oi? Deixa eu ver, ai espera aí que eu sou cega, eu tenho que trocar essa lente, mas na ótica que eu sempre vou, eles me passaram um valor absurdo e eu não troco enquanto ganhar um desconto.
-Então, amanhã vou chegar um pouquinho mais tarde porque tenho que ir ao dentista. É, aquele problema do siso. Eu com essa idade tenho que extrair esse dente. Dói muito e a dentista disse que vai ter que abrir a gengiva para tirá-lo de lá, não dá para puxar assim. Mas eu quero ir em outro consultório para ter uma segunda opinião, porque medico e dentista é tudo louco.

Thursday, March 15, 2007



O tempo não deixa as teclas se juntarem às suas mãos para aquelas criações.
A criatividade está pensativa e se recusa a furtar novas letras de suas idéias.
Por enquanto só pensa, age, e se recolhe.

Apenas uma crise de criatividade temporária aliada à falta de tempo.

Tuesday, March 13, 2007




Muda
A voz se esvai

Muda
De flores murchas
Muda...
...e dessa vez sem querer mudar


I am the key to the lock in your house

That keeps your toys in the basement

And if you get too far inside

you'll only see my reflection

(Climbing Up The Walls - Radiohead)

Thursday, March 08, 2007



"Às vezes me sinto como algas marinhas secas ao vento, sobre um prato de bolinhos de camarão ao molho shoyu."
It won't do
to dream of caramel,
to think of cinnamon
and long for you.
(Caramel - Suzanne Vega)

Wednesday, March 07, 2007


Linhas do tempo...


Ela ouve a noticia de mudança de tempo, e espera ouvir a repórter mandar levar o guarda-chuva.
Sai de casa sem o guarda-chuva, e folheia uma revista com poucas intenções.
Lê uma matéria em 2 minutos, e o que a anima é ainda haver o ineditismo.


Pensa nos anos que se passaram, e nas coisas que nunca mudam ao seu redor.
20 anos físico.
25 cronológico.
76 mental.
Em alguns momentos, no máximo 11.
Qual seria a época ideal?
Há um século atrás se sentiria avançada.
Algumas décadas à frente, com ideais antepassados.
Às vezes sonha que o seu vestido pesa, em um salão de danças na década de 40.
Em outras, não consegue se comunicar com pessoas sem sentimentos em alguma nação experimental.
Agora, suas roupas são leves e ela está cansada de falar.
Respirou, e ficou quieta.
A única certeza são as letras... que são capazes de exprimir tudo o que não diz nessas tantas frases faladas sem linhas para descansar.

Thursday, March 01, 2007


Tudo


Se for se destruir, não se preocupe com a estética.Desabe de cara no asfalto e quando levantar não esconda o sangue que secou sobre as feridas.

Se for para acreditar, acredite com fé e sem resquícios de desconfiança.

Se for para errar, erre feio, para aprender com o erro e aceitar a mudança mais drasticamente.

Se for para amar, ame em todos os sentidos e sem medo de sofrer.

Se for para mudar, mude quando estiver preparado de verdade.

Se for para sofrer, seque todo o liquido do corpo em lágrimas, e se enfie em porões escuros para assim aprender de verdade a lidar com a dor.

Se for para arriscar, aceite os riscos sem fugas .

Se for para querer, queira intensamente a ponto de sentir o que deseja.

É a isso que damos o nome de vida.
Algumas coisas precisam acontecer moderadamente e ao seu tempo.
A isso damos o nome de maturidade.
Mas ela só chega efetivamente enquanto vivemos.

For as long as I know how to love I know I'll stayalive,

I've got all my life to live;

I've got all my love togive,

And I'll survive, I will survive,

Hey, Hey!

(Gloria Gaynor- sim, Gloria Gaynor mesmo.hahahahahah)

Wednesday, February 28, 2007




...E era aquele momento em que o sol finalmente se põe por completo, e algumas nuances mais escuras invadem os quintais.


O calor é ameno, mas a sensação de paredes confortáveis a céu aberto fica intacta.
A garotinha de cinco anos, a puxou pela mão e apontou com susto e curiosidade para uma lesma que andava nas paredes lá fora.
Ela era enorme, sua cor verde musgo reluzia o brilho daquela pele gosmenta e ao mesmo tempo rígida.
Como algumas brincadeiras sórdidas atravessam décadas, pediu para que sua tia fosse com ela até a cozinha para pegar um pouco de sal e voltar lá para fora.
Entre uma jogada e outra de cloreto de sódio, o molusco que sofre com a desidratação ao ter esse contato, foi logo esmorecendo...
O rastro luminoso que deixava no muro aos poucos ia tomando forma dos seus tentáculos.
-Ela está diminuindo, olha!
-Que nojo, ela caiu...
E assim foi, até despencar da parede até o chão. Aos poucos aquele corpo tomou forma de uma minúscula poça de gosma verde e fluidos transparentes.O processo é relativamente rápido, haja vista o metabolismo tão lento do ser.
Sem nenhum grito, nem um alarde, apenas a limpeza de sua parede foi feita. Nem piedade era possível sentir, pois ela não demonstrava dor. Pobre ser...Desapareça! E assim mantenha minhas paredes limpas.



Tuesday, February 27, 2007

Doce




Ela aguardava seu quinto filho, e sobre a barriga que parecia ter já uns seis meses, carregava um recém-nascido enrolado na coberta, embalado na sua mão direita. Com a mão esquerda, segurava uma criança de aparentemente cinco anos que olhava com apetite para o carrinho de doces ali do lado. A sua irmã alguns anos a mais, colocava a mão na boca e fitava as balas, chicletes, e chocolates como se pudesse sentir o paladar entre a sua saliva seca. Essa era repreendida pela mais velha de todas, que olhava com irritação para as duas, sem deixar de mirar nas embalagens coloridas tão próximas dali.
De repente a mãe, que carregava no braço direito a bolsa do bebê, retirou entre uma mamadeira com o bico totalmente rasgado, uma carteira e a deu para a mais velha.
As duas observavam ansiosas enquanto constratavam a cara de choro com a expectativa daquele ato.
A menina, que vestia uma blusa uns seis números abaixo do seu tamanho, mostrava a barriga sobre uma calça de lycra suja e surrada, assim como a da sua mãe.
As outras, por mais que estivessem parecidas, conseguiam um ar de asseio e cuidado com as suas pequenas tranças amarradas com elásticos de bichinhos.
O rapaz que vendia os doces olhava para baixo com impaciência para a garota enquanto ela perguntava o preço de cada item.

- Não tem nada de 0,20 centavos?

Voltou com três chicletes e distribui para as outras, que mudaram totalmente a fisionomia, e agora conseguiam fazer brincadeiras em volta da mãe.
Logo após chegou uma mulher para comprar balas e enquanto olhava no carrinho o rapaz passou a mão sobre as embalagens, como se estivesse mostrando serviço, aguardando a sua decisão.

E as crianças?
Elas saíram com aquela momentânea felicidade na barra da blusa da mãe, até o irmãozinho mais novo crescer, e dividir aquelas moedas que sobravam para elas... Ou enquanto um novo filho ainda não era gerado nesse intervalo...

Monday, February 26, 2007



Hã!!! Que susto!! Você estava aí?
Achei que não tinha chegado ainda...Está tão quietinha ...

Silêncio.
Uma dádiva.
Podemos ficar invisíveis por horas e horas...

É um poder momentâneo de quem consegue ficar consigo mesmo sem se abalar com os contatos externos, quando é preciso.
Experimente se transportar para outro mundo mesmo estando aqui, e sem usar drogas!
Quando ouvir alguém te chamando impaciente há extensos minutos é porque você conseguiu!

Friday, February 23, 2007

créditos da foto: Monique Kovatch

Sobre a saudade

No meio de um caminho tortuoso e deserto você avista uma casinha que acompanha seus passos enquanto você a observa.
Um dia de repente você pega um barco e o que vê é ela se afastando cada vez mais, até desaparecer completamente. Embora ter sido você que entrou mar adentro e deixou ela para trás, a ilusão que a partida causa é que ela que está se esvaindo...
Apesar de não conseguir a ver mais em determinado ponto da viagem, aquela casa fica ali, na memória, e aí que se definem vários tipos de sentir falta de algo que aqui estava.
Porque a casa pode ser destruída, e você nunca mais avistá-la, o que torna vazio o lugar, o alcance visual, mas não a memória.
Anos poderão se passar, mas se a casa estiver lá, a saudade nunca vai atrapalhar a sua tarefa de reencontrá-la.
Outras casas até mais curiosas surgirão em caminhos inimagináveis, mas aquela casinha, por mais que fique apagada da memória com o passar do tempo, nunca terá outra igual que a substitua, portanto, não sairá da mente.
Podemos retornar, no mesmo barco, e visitar a mesma casa quantas vezes quisermos, mas a saudade vai sempre existir a cada ligada do motor do barco. O que consola, é que a cada descida em terra firme, a ansiedade de ver o que ficou na memória toma conta de todos os nossos sentidos e é como se víssemos aquela casa a primeira vez, com mais intensidade a cada volta.

Friday, February 16, 2007



"...avise a quem quiser , que ficarei sem dar aquelas mesmas noticias..."

Thursday, February 15, 2007

"...e quando nada acalma seus braços, a única coisa que conforta é o amor..."

Monday, February 12, 2007


Vida


Quantos morrem ainda vivos, quantos escondem seus viços e pulsações... E ainda assim procuram argumentos para justificar a ausência deles consigo mesmos.
Ser vivo é perigoso, nocivo e cruel.
Estar vivo é uma condição natural e cômoda para alguns, exceto quem está com alguma doença grave, vive sob ameaça de guerra, ou é perseguido por algum grupo terrorista.
Cada passo dói profundamente, para quem pisa com força, mas ainda sim é melhor, do que se arrastar acrescendo peso aos pés.
A vida não é bela, não é esperança, não é Deus, não é luz, não é sol...
Esses elementos estão intrínsecos à ela, mas não a tornam ser o que são.
Pois viver é arriscar, é sofrer, é machucar ferida sobre ferida, é querer fugir quando as escadas dão para porões escuros. Mas mesmo sendo tão injusta para alguns, há sempre um momento gratificante, quando podemos suspirar e nos sentir aliviados por um frio que passou aqui dentro.Porque eu prefiro o frio na barriga à barriga vazia !
Durante muito tempo quis morrer, e apesar de ainda ter asco a alguns fatores desse mundo, à espécie humana em seu ápice de hipocrisia, mediocridade e mesquinhez, eu desejo agora não estar, mas ser viva. Embora mantenho um realismo mais cruel que o pessimismo, acredito em “pessoas-humanas”, aquelas que surpreendem, aquelas que nos fazem ser melhores e desejar ficar por aqui mais um pouco.
Sem parecer escritora de livro mais vendido na seção de auto-ajuda, eu posso afirmar que desejar a morte tão verdadeiramente me fez querer viver.
Podemos acusar a nós, somente a nós mesmos. Isso é assustador ,é como se apontássemos a arma para o nosso peito. Se não for assim, não vale a pena viver, não vale a pena mofar dentro das nossas cabeças.
Há mais vida no erro, do que na polidez, e enquanto o pulso ainda vive, polimos o que é preciso ser polido, dentro da nossa casa, colocando o pó para fora, para depois tentar limpar o quintal ou a rua. Enquanto a rinite congestiona nossos narizes dentro do quarto, não podemos ver os lugares já limpos ali fora, e acabamos por não encontrar a sujeira realmente.

Friday, February 09, 2007


Batatinha quando nasce...
...desiste de morrer


Saudade é como vento
Passa forte e tumultua
Mas dizem que o que cura
É deixar passar o tempo

Pensamento segue por horas
E alivia o que há por dentro
Mas parece que agora
O que fica é o tormento

Tentei apressar os passos
Para tirar roupas do varal
Mas como lá não tinha seus braços
O que ficou foi o vendaval

A janela bate forte
E a chuva cai devagar
Já me esqueço da sorte
E no chão resolvo ficar

Tanto faz se agora o sol se deita
E no escuro eu me vejo
Ainda não encontrei a receita
Para esquecer o que desejo





Thursday, February 08, 2007

Humanos



"...A natureza divide o homem em duas classes: uma inferior, a dos ordinários, espécie de matéria, tendo por única missão reproduzir-se; a outra superior, compreendendo os homens que tem o dever de lançar no seu meio uma palavra nova. As subdivisões apresentam traços distintos bem característicos.
À primeira pertencem, em geral, os conservadores, os homens de ordem, que vivem na obediência e têm por ela um culto. Na minha opinião, são até obrigados a obedecer, porque é essa a missão que o destino lhes impõe, e isso nada tem de humilhante para eles.
O segundo grupo compõe-se apenas de homens que transgridem a lei, ou tentam transgredi-la, segundo os casos. Naturalmente os seus crimes são relativos e de uma gravidade variável.
A maioria deles reclama a destruição do presente por causa do melhor. Mas, se em defesa da sua idéia ,forem forçados a derramar sangue, a passar sobre cadáveres, eles podem em consciência fazer uma coisa e outra - no interesse dessa idéia ,é claro.(...)Demais não há motivos para nos inquietarmos a esse respeito: quase sempre as massas não lhes reconhecem esse direito : cortam-lhes a cabeça ou enforcam-nos , e desse modo exercem a sua missão conservadora até o dia em que essas mesmas massas erigem estátuas a esses mesmos supliciados e os veneram .O primeiro grupo é sempre senhor do presente, e o segundo é o senhor do futuro. Um conserva o mundo, multiplica-lhe os habitantes; o outro move o mundo e o dirige. Estes e aqueles têm absolutamente o mesmo direito à existência (...).”
Fiódor Dostoiévski em Crime e Castigo

Tuesday, February 06, 2007




....e quando estamos sóbreos , o mundo torna a girar, e a impressao que se dá é de uma nova ressaca...
"...De ontem em diante serei aquilo que sou no instante agora.."
O Teatro Mágico

Thursday, February 01, 2007



Do outro lado da janela



Sonhei que eu podia fumar um cigarro dentro do seu carro, enquanto conversávamos sobre a vida.
Você me deixava abrir os vidros mesmo com a garoa chata que caía lá fora.
Eu me olhava no retrovisor ajeitando os cabelos, e sentia alguns fios molhados daquela chuva.
Você erguia uma mão só no volante e a outra apoiava a cabeça na janela fechada, olhando para frente com um olhar de cansaço, e a boca entreaberta, como se ensaiasse um desabafo.
Eu notava os motivos pelos quais eu também me inquietava e iniciava a conversa.
Você não hesitava em confirmar, e dizia:
-Nem tudo deve ser tão perfeito, perfeito. Não dá tempo de viver assim...Você vê, estamos todos estressados, e infelizes...
Acordei e te vi no corredor, da porta do meu quarto.
Você estava parado na outra porta e me olhou simpaticamente, como se estivéssemos realmente tido aquela conversa.
Me senti extremamente bem e não tive dúvidas.

Tuesday, January 30, 2007





Em minhas linhas...



"...Pintou minhas unhas de rosa e me fez bonita assim.
Resgatou o que havia de bom aqui dentro.
Descobriu o que nem eu conhecia de mim..."



Me guiou nas noites sombrias.
Me alertou para o perigo.
Me brindou de boas coisas.
Me resgatou das esquinas escuras
Me incentivou a acreditar em mim mesma.
Me entendeu quando eu confundia.
Me libertou de todos meus suicídios.
Me abraçou quando eu precisei.

Me...

Me segurou antes que eu me jogasse.
Me amou quando eu menos mereci.
Me livrou de antigos vícios.
Me viu quando todos só me olhavam
Me obrigou a destruir minhas máscaras.
Me uniu ao que é bom.

Me deu tapas que foram melhores que afagos.
Me encarou de frente quando eu estava de costas.

Me transformou em alguém melhor.
Me ocupou de boas lembranças.
Me disse o que eu não pedia para ouvir.
Me olhou a distancia.

Me mostrou a realidade.
Me apareceu como um anjo.
Me levou consigo...

Monday, January 29, 2007



Se algum dia perguntarem do seu amor.
Não olhe com desdém como que se não ligasse mais.
Ou não dê respostas vazias, ao tentar fugir.
Apenas diga que foi bom, ou ainda é, enquanto o tempo te permite.
Ignore apenas os hipócritas, que não acreditam no que vêem.
Curve-se aos limitados, quando estes não entendem.
Ultrapasse os conselhos, que procuram soluções imediatas.
Só quem viveu sabe as respostas, se ainda assim quiser encontrá-las...



Friday, January 26, 2007













In
In-útero


Intro
Introspecção
Intransigentes
Inter
Interpelou
Interpretada
Intransponível
Intragável
Indagação
Indiscutível
Indignada
Integrada
Independente
Inconseqüente
Incongruente
Indução
Indelegável
Infelicitável
Importunação
Inoportuna
Inegável
Incandescência
Influentes
Inibições
Inexplicável
Imprudência
Incoerente
Impaciência
Interligação
Insolente
Instinto
Insônia
Insatisfação
Intuiu

Whatever it takes I'm giving
It's just a gift I'm given
Try to live inside
Trying to move inside
And I always thought that it would make me smarter
But it's only made me harder
My heart thrown open wide
In this near wild heaven
Not near enough
(Near Wild Heaven- R.E.M)

Monday, January 22, 2007


O homem da rua

O cheiro de urina invadiu o ônibus e extraiu testas franzidas de cada rosto.
A única frase dita através de uma voz estranha e anasalada era: “... é só cinqüenta centavos gente, eu to com fome.”.
Achou estranha a calça surrada, que trazia linhas pretas costuradas desde o cós até a barra.
A blusa de lã não parecia velha, mas havia um grande rasgo abaixo do braço.
O tênis era limpo e tão novo que chamou-lhe a atenção sobre aquele homem de barbas crescidas.
Enquanto comprava uma cartela de adesivos do Bob Esponja olhou para a face do individuo e se deparou com um homem jovem, e muito bonito.
Na sua imaginação e curiosidade natas, chegou a se aprofundar em seus pensamentos e até achou que ele poderia ser um artista amador, daqueles que vivenciam uma rotina para encarnar o personagem. Chamou amigos para mijar sobre a calça, costurou-a em ziguezague após surrá-la no asfalto e rasgou o antebraço da blusa com um canivete em capa de couro de jacaré.
Loucura dizer isso para alguém.
Ainda mais publicar um texto acerca desse relato.
Mas ela sempre presta muita atenção às pessoas ao seu redor, mesmo enquanto lê quieta no ônibus, olhando atenta somente para as linhas que se contorcem na tentativa de fugir dos seus olhos, durante os trancos do veículo. Não se trata de se interessar pelo homem com cheiro nada agradável , assim como a maioria das pessoas quando ouvem essa história pensam, o que não evita ser tragicômico.
Mas já reparou em meninas que vendem balas pelos bares? Antes de dizer não, obrigado, já as viu? Reparou que muitas são belas, dignas de um papel no próximo filme infantil, ou em uma campanha de roupas?E se um dia não continuasse a conversa na mesa do bar e parasse alguns segundos e percebesse boa dicção, força de vontade, e aquela beleza trágica, que carrega no rosto algo furtivo e indigno da sua situação, pensaria:“ Que pena, não sou empresário ou coisa do tipo.”
Ou talvez concluiria que a beleza tem vários tipos de fome, e às vezes anda de pés descalços sobre o asfalto.
E assim, Deus, o Diabo, ou a genética afirma que nem tudo é o que parece ser, ou os fatos não são, a todo o momento, exatamente como deveriam...

Thursday, January 18, 2007

Tell me your favorite song





Sem vontade de voltar para casa, não podia ficar ali, nem andar na garoa.
Resolveu mentalizar onde estivesse, aquilo que queria enquanto não há escolhas.
Jantar com frutos do mar era servido no mesmo P.F de cinco reais.
Uma casa nova e vazia de papeis lá mesmo onde espaços ainda faltavam.
Passarelas limpas e cheias de cachorros simpáticos enquanto transitava no odor de urinas envelhecidas.
Pessoas que amava ali do seu lado ao contar historias repetidas vezes, sem que o roteiro a cansasse.
Cartas afetuosas durante o dia, sem a surpresa de pré-conceitos sem lógica.
Um sono tranqüilo enquanto todos dormiam, e ia acender mais um cigarro na janela.
A paz necessária quando os telefones não param de tocar.
Respostas para todas as coisas que agora não possuem.
E assim, aos poucos, tudo toma a forma do que pensa e o que espera, cada qual no seu lugar...

Wednesday, January 17, 2007


Um pequeno feixe de contradições



“Pode me dizer exatamente o que é isto? Que quer dizer contradição? Como acontece com tantas outras palavras, pode significar duas coisas: contradição de fora e contradição de dentro. (...)Já disse a você, certa vez, que possuo dupla personalidade. Em uma delas encontra-se minha alegria exuberante, que faz graça de tudo , meu entusiasmo e principalmente a maneira como levo tudo na brincadeira.(...)Você precisa compreender que ninguém conhece o lado melhor de Anne, e é por isso que a maioria das pessoas me acha insuportável. Se durante uma tarde faço uma porção de palhaçadas, todos se fartam de mim por um mês. Realmente, é como filme de amor para pessoas de mentalidade séria:simples distração que diverte, sem chegar a ser boa.Envergonho-me de contar isso a você , mas como é verdade, vou falar.Meu lado superficial e frívolo está sempre mais alerta que o lado profundo, e por isso há de sair sempre vencedor.
Você nem imagina quantas vezes tentei empurrar pra longe essa Anne. Tentei mutilá-la, escondê-la, porque, afinal de contas, ela é apenas metade do total que se chama Anne; mas não adianta,e eu sei, também, por que não adianta.
Tenho muito medo de que as pessoas que me conhecem superficialmente venham a descobrir que possuo um outro lado, melhor, mais bem-cuidado. Receio que riam de mim, me achem ridícula e sentimental, que não me levem a sério.Estou acostumada a não ser levada a sério, mas só a Anne despreocupada que se acostumou a isso e o suporta. A Anne mais profunda é sensível demais para tal. Se realmente obrigo a Anne boa a ir para o centro do palco, nem que seja por quinze minutos, ela se encolhe toda e acaba cedendo o lugar à Anne numero 1, e antes que perceba o que se passa, vejo que desapareceu.
A boa Anne, portanto, não aparece quando tem gente, até hoje nunca se mostrou, nem uma só vê, mas é a que predomina quase sempre quando estamos a sós. Sei exatamente como desejaria ser, como sou, aliás... lá no intimo.
Infelizmente sou assim só para mim mesma. E estou certa que é por isso mesmo que eu digo que intimamente tenho um gênio bom e que os outros pensam que exteriormente é que tenho gênio bom. No íntimo sou guiada pela Anne pura, mas exteriormente não passo de uma cabritinha travessa, à solta.
(...) A Anne jovial dá risada, uma resposta atrevida, sacode os ombros com indiferença, comporta-se como se não ligasse, mas as reações de Anne silenciosa são exatamente o oposto. Para ser sincera , devo admitir que isso me magoa, que tento mudar por todos os meios, mas que estou sempre em luta contra um inimigo muito mais poderoso.”(...)

Anne Frank, Holanda, terça-feira, 1º de agosto de 1944.

Ultimo texto do diário da pequena judia antes da Polícia de Segurança alemã, acompanhada por alguns holandeses nazistas, darem uma batida no escritório onde Anne e sua família se escondiam há mais de dois anos. Sua mãe foi assassinada e após alguns meses ela e sua irmã mais velha(Margot) contraíram tifo no campo de concentração. Um dia, Margot tentou levantar-se ao lado da irmã, mas, enfraquecida, caiu ao chão. No seu estado de doença e fraqueza, o choque foi mortal. A morte da irmã fez a Anne o que nada até então conseguira fazer: quebrantar seu espírito. Alguns dias depois, em principio de março, Anne morreu.

Tuesday, January 16, 2007


Na ponte


E ontem acima de todos aqueles carros que paravam o transito eu vi o céu.
O sol já estava se pondo e havia um misto de tons alaranjados com um azul vivo e escuro, quase violeta.
Mas não podia deixar de lembrar que uma vez, cientistas divulgaram que esse fenômeno acontece devido à excessiva emissão de poluentes dos veículos durante o dia.
Muita gente não sabe, mas às vezes um céu tão encantador é resultado de pura poluição.
É um raro momento em que a natureza aceita alguns produtos nocivos e se torna estranhamente bela.

Friday, January 12, 2007

Os olhos incharam inexplicavelmente e em especial o esquerdo parecia pesar uns 20 quilos a mais.
Olhou no espelho por diversas vezes e não conseguia achar explicação pelas dores que sentia quando olhava para os lados.
Foi até o oftalmologista de plantão e o mesmo lhe disse que ela acordaria com os olhos vermelhos e lacrimejantes na manhã seguinte , e te deu um prenúncio da epidemia de conjuntivite.
Comprou o colírio receitado e foi para a casa, pensando em se manter longe de todas as pessoas para evitar a contaminação.
No outro dia acordou com os olhos mais límpidos que água, e o peso parecia ter aumentado. Não conseguia olhar para baixo ou para os lados, e o inchaço ia aumentado cada vez mais.
Resolveu ir novamente ao oftalmologista, descartando a hipótese da sua hipocondria nata.
O outro especialista resolveu levantar suas pálpebras e avistou um gigantesco tersol.
Sim, havia um caroço branco enorme lá dentro da pálpebra.
Nada que um cotonete embebido com colírio antiinflamatório não resolva.
Algumas dores a mais para eliminar o caroço e pronto, o inchaço sumiu.
Voltou para casa agora enxergando sem peso e questionando se alguém no mundo já teria tido um tersol dentro do olho...

Tuesday, January 09, 2007


" A falta do que se dizer agora reflete a paz que o silêncio traz..."

Friday, January 05, 2007

Brisalend Island

Saiu de casa feliz e ansiosa, apesar do peso nas costas.
Mas ainda assim, resolveu levar mais um repelente para se prevenir dos perigos da mata fechada.
Mal sabia ela, alergica desde crianca, que um ser mais poderoso a atacaria .
Ele se chamava Bond. Mari Bond.
Ainda nao se sabe se foi o responsavel a seu ataque de coceiras e vermelhidoes da raiz do cabelo ate a sola dos pés.
Talvez tenha sido a ansia de comer camarão em águas desconhecidas.
Resolveu até ficar com o brilho eterno de um camarão sem lembranças, para nao arriscar outra ida ao posto de saude local.Onde há somente um curandeiro, que para tudo tem o melhor remedio: injecao de Fenergan no músculo, assim, como cavalos.
Apagou durante 15 horas, e seus amigos a lembraram de mais uma hipotese para a crise. Talvez ter rolado na grama durante um longo tempo tenha causado aquilo .
Preferiu esquecer aquilo tudo, mesmo porque o posto de saude nao funcionava todos os dias. E a dose era tamanho temporada mesmo...
Ficou com as tardes de cantoria pela Radio Mill Cossa Nova Fm. Aquela que toca o que o coracao quer ouvir. Quáz Quáz!
Além de sorrisos durante a trilha pelo Smile gigante que feliz, andava por mais uma rota, batucando as suas palavras para qualquer ocasião.
Tudo que o Smile Gigante queria era só sombra e água fresca..geladinha, sempre! E um camarãozinho com uma cataia para arrematar, , antes do por do sol.Depois, mais um banhozinho para relaxar na barraca de astronauta.
O homem cueca ainda tentava o tirar lá de dentro, mas mesmo o ameaçando com seu linguajar mano e perigoso , de nada adiantava.
Embora o flipper tenha se assustado com a linguagem baliense, a Dori nao se cansava e tentava se comunicar com o alegre animal. Enquanto patolino discutia com os pássaros, Frajola aprendeu a lingua da tribo Xun Xin Nuham e tentou até dar tchau para uma india, que não o entendeu, tão bem como o monitor ambiental, que contava as peripecias noturnas na noite anterior durante a volta da cachoeira. Empolgada com a fluencia da lingua, ela acabou caindo no meio do mato, e atrapalhou um pouco o percurso dos turistas que ali estavam.
Um pouco de saudosismo, e rebelando-se contra o contrato impostor da Warner, resolveu resgatar o Baby, da Familia Dinossauros, na tentativa de ter alguma atividade, ali , onde fazer nada é lei.
A não ser olhar a chuva dentro da barraca, e imaginar que o mar a leva para algum lugar distante...
Ao entardecer, entrar no mar sozinha durante a chuva, e voltar correndo pela trilha , fazendo os urubus e gaivotas voarem enquanto passa pelo longo caminho.
Tentar chegar ao mar durante a noite, e perceber que ele está extremamente baixo. Olhar ao redor e tentar registrar aquela imagem eternamente na sua mente. Parecia um sonho, algo muito bom para ser vivido só por tres pessoas abencoadas ali naquela hora...Ou talvez seria por isso que nao havia um ser humano por lá naquele momento...
Fazer mais de uma contagem regressiva, e ter um ano novo próprio, reservado para quatro pessoas!!!
Dançar só com outra pessoa do lado a acompanhando no maracatu.
Lembrar de músicas que não ouvia há anos, e ficar horas na pista, enquanto seu colar balança de um lado ao outro...
Voltar sobre as ondas, em paz e renovada...
Olhar para a janela do carro e não conseguir jogar a bituca do cigarro no asfalto. Esquecer o barulho dos motores, pessoas apressadas e luzes por todos os lados.
Será que aquele povo que vive ilhado, ou somos nós ?