Monday, January 22, 2007


O homem da rua

O cheiro de urina invadiu o ônibus e extraiu testas franzidas de cada rosto.
A única frase dita através de uma voz estranha e anasalada era: “... é só cinqüenta centavos gente, eu to com fome.”.
Achou estranha a calça surrada, que trazia linhas pretas costuradas desde o cós até a barra.
A blusa de lã não parecia velha, mas havia um grande rasgo abaixo do braço.
O tênis era limpo e tão novo que chamou-lhe a atenção sobre aquele homem de barbas crescidas.
Enquanto comprava uma cartela de adesivos do Bob Esponja olhou para a face do individuo e se deparou com um homem jovem, e muito bonito.
Na sua imaginação e curiosidade natas, chegou a se aprofundar em seus pensamentos e até achou que ele poderia ser um artista amador, daqueles que vivenciam uma rotina para encarnar o personagem. Chamou amigos para mijar sobre a calça, costurou-a em ziguezague após surrá-la no asfalto e rasgou o antebraço da blusa com um canivete em capa de couro de jacaré.
Loucura dizer isso para alguém.
Ainda mais publicar um texto acerca desse relato.
Mas ela sempre presta muita atenção às pessoas ao seu redor, mesmo enquanto lê quieta no ônibus, olhando atenta somente para as linhas que se contorcem na tentativa de fugir dos seus olhos, durante os trancos do veículo. Não se trata de se interessar pelo homem com cheiro nada agradável , assim como a maioria das pessoas quando ouvem essa história pensam, o que não evita ser tragicômico.
Mas já reparou em meninas que vendem balas pelos bares? Antes de dizer não, obrigado, já as viu? Reparou que muitas são belas, dignas de um papel no próximo filme infantil, ou em uma campanha de roupas?E se um dia não continuasse a conversa na mesa do bar e parasse alguns segundos e percebesse boa dicção, força de vontade, e aquela beleza trágica, que carrega no rosto algo furtivo e indigno da sua situação, pensaria:“ Que pena, não sou empresário ou coisa do tipo.”
Ou talvez concluiria que a beleza tem vários tipos de fome, e às vezes anda de pés descalços sobre o asfalto.
E assim, Deus, o Diabo, ou a genética afirma que nem tudo é o que parece ser, ou os fatos não são, a todo o momento, exatamente como deveriam...

6 comments:

Anonymous said...

e tudo isso p. dizer q vc paquerou o homem que vendia adesivos hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha...

Suzanna Ferreira said...

ahhahahahahhahahahha
ai ai Gabi.
tá vendo, vc não entendeu o q eu quis dizer c. esse texto...tsc tsc tsc.

Anonymous said...

eu entendi sim. era apenas uma brincadeira. esse não estava tão dificil assim;

beijo

Anonymous said...

Que show de texto, Suzana! Muito bom mesmo! E com a foto deu uma dramaticidade mais interessante ainda! Texto e foto se pertencem!

Cara, fiquei viajando no desmoronamento aí em São Paulo e imaginei, caramba, será que aconteceu alguma coisa com a Suzanet? Fiquei mais tranqüilo qdo vi que vc tinha postado. Que viagem!

ÓTIMO POST!
Beijo procê!

A grávida said...

hahaha.. o comentário da gabi! hhahahaha

agora chega de gracinhas... não sei se vc viu o filme diamente de sangue... um dos protagonistas (não o di caprio, o outro), já foi mendigo... aí um diretor o achou nas ruas e gostou, pq ele tem o corpo bonito.

Monique K said...

ahhhh
lembrei daquele dia lah no bar da augusta da menina linda q vendia balas e eu fiquei impressionada querendo levar a menina embora
beijo*