The old man
Chego em casa e vejo meu pai assistindo TV a noite de óculos escuros. De moletom, meia, e um óculos estilo surfista, emprestado pelo meu irmão.
Apesar de saber o motivo eu começo a rir muito e ele nervoso com a minha tiração de sarro balbucia:
- As crianças da rua fizeram a mesma coisa que você quando eu sai lá fora.
-Também né, você não consegue viver sem televisão.
Meu pai operou da catarata e ainda está em recuperação. Como nesse período ele deve evitar o contato de qualquer tipo de luz ele arrumou um jeito de continuar no sofá, acompanhando toda a programação televisiva, como sempre faz.
Às vezes tenho a impressão que ele pode morrer assim, no sofá, estático.
Eu sou um tanto mórbida, eu sei.
Mas é essa impressão que ele me dá.
Como em uma cena do filme “Domésticas” em que o marido de uma das protagonistas vive de frente a TV e não se move para nada. Toda vez ela chega do trabalho e ele nem responde. Ele acaba falecendo e a mulher só vai perceber depois de uma semana.
Mas minha mãe não trabalha fora, nem como doméstica. Isso não poderia acontecer porque ele é o doméstico da casa. Ele levanta só quando a minha mãe manda ele ir lavar a louça, limpar o quintal ou outros afazeres do lar.
Eu até tentei incluí-lo nos grupos interessantes da terceira idade, mas foi em vão. Fiz a carterinha do Sesc para os dois mas durante todo o ano de matrícula nem sequer foram caminhar em alguma unidade.E isso porque eu imprimi toda a programação.
O carro fica na garagem só para servir de espelho, porque sempre tá lustrado.
Ele quase não sai de casa. Só quando minha mãe o obriga no caso de algum velório, um casamento muito importante ou em situações muito extremas.
No dia dos atentados do PCC eu achei que ele iria me buscar, já que não tinha ninguém na rua, nem ônibus, nem táxi e tava chovendo. Bom, ele não foi.Então eu não sei mais o que é situação extrema.Acho que além de todos os outros desvios eles devem ter síndrome do pânico.Vivem trancando todas as portas, com medo de tudo e de todos .
Apesar de outros fatores que me fazem não o admirar, eu gosto dele, ele é meu pai. E nesses dias em que consegui rir dele, quando chego à sala e vejo um velhinho embaixo das cobertas de óculos escuros, acho que o meu ódio se ausenta um pouco. E dá lugar a uma aceitação, incondicional.Isso não dura muito tempo,eu sei, mas pelo menos deu para escrever um texto sobre ele ...
6 comments:
Eo tô aquuiiiiiiiiiiiiiii...
Bravinha...(este bravinha vai ser comentado, quer apostar?)
Então,
meu vô tb operou da catarata (não que eu esteja chamando seu pai de velho), mas meu vô tb usa óculos escuros, no ano novo ele assistiu a queima de fogos com oculos escuros...mas seu pai é bem mais moderno, usa óculos surfistinha, meu vô usa o óculos do exterminador do futuro 2, só que marrom, nossa quanta coisa inútilidade em um comentário só...
Ah! E legal eu ouvir que vc ama algum membro da sua família, está evoluindo...
Besos
quanta coisa inutil...corrigindo
bravinha..ahauhaua
no diminutivo..
multiplique o nervoso q vc conhece em mim por 34..É mais ou menos isso..nossa hj eu to com uma nuvem imensa na minha cabeça soltando raios e muita chuva..
acho q vou alí me jogar do 6º andar......
apesar disso consegui fz um texto "meigo" para o meu pai, vc viu??hauahuauha
vc trabalha no sexto? ai meu deus...
não tem grade???
Fala, Suzans!!! Então, é clichezão eu falar o que vou falar, mas me lembro qdo eu tinha uns atritos parecidos com minha mãe. Depois que fiquei 1 ano e meio longe dela, aí sim, putz, senti o tanto que ela fazia falta, mesmo com os arranca-rabos que a gente tinha de vez em sempre. Hj, muita coisa mudou entre eu e ela. Como mudou. E vc, pelo que eu li, tá percebendo isso tb...
Nossa, muito legal ter fucionado o lance do link! Ah, não conheço essa revista não, mas minha namorada falou que é sobre entretenimento/atualidades em geral. É isso? Eu jurei que era alguma coisa sobre bandas.
Valeu pela visita, Suzaneeera!
beijão!!
hahaha ai su vc me surpreende a cada dia viu...
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