Tuesday, July 25, 2006

Seu Jorge *

Ele cumprimentou quase todos que estavam ali no bar naquela segunda-feira.
Puxou a cadeira e sentou-se à mesa sem qualquer cerimônia.
Com as suas mãos impregnadas de graxa acendeu um cigarro e encheu o copo de cerveja.
As outras pessoas que não se viam há um tempo conversavam sobre as ultimas novidades entre elas: a viagem do fim de semana, festas, amores...
Ele ficou quieto batucando na cadeira o som que haviam escolhido na juke box do bar ao lado. Arriscou seguir uma letra do Ira, mas logo parou.Uma menina passava ao lado vendendo doce e alguém comprou e ofereceu pra ele com insistência, que acabou aceitando.Sorriu com seus poucos dentes:
-Não posso comer doce porque o dente de trás dói.
-Ah, leva para alguém.
-É, o senhor não tem filhos?
-Tenho.
-Então, leva, quando o senhor chegar em casa.
-Mas eu não vou chegar em casa hoje, eu moro em um albergue...
E começou a falar que queria voltar cedo, pois tinha que escrever uma carta para a assistente social, relatando a tirania, palavra que escolheu para definir o segurança.
-Ele esquece que já morou em albergues. Se ele sentir um cheiro de cerveja ele humilha, mas se perceber que o cara tá maluco de crack não faz nada.
Fez um gesto em V com os dois dedos e os levou aos olhos vermelhos de ódio, afirmando que seus companheiros estavam de olho nele.
-Se ele cruzar a esquina e trombar com um de nós...
Começou a relatar as dificuldades que teve para conseguir comprar um carrinho de engraxate.
Mostrou a sua imensa lista de clientes com horários, nomes e locais.
-O senhor não pára né?
-Não, nem um minuto. Mas eu prefiro assim.Quando eu era segurança de banco eu me estressava muito.Tava cansado de assaltos. Era um por semana.
Curvou-se para o lado e disse que queria voltar para sua terra: comprar um barco e ganhar a vida só com a pesca.
-Uma vez eu vi um documentário no National Geographic, sabe? Então, falava dos métodos de pesca. Eu quero voltar para Pernambuco e trabalhar com isso.
- O senhor sabe pescar?
-Não. Mas é só querer, que a gente aprende né?.... queria pescar tubarão!...Se um dia você se ver perdida no mar e tiver um tubarão vindo em sua direção, o que você faz?
-Ah.. Se eu não tiver nada na mão pra me defender eu não sei... Tento nadar... É, mas acho que vai ser inútil tentar fugir... Aí eu desisto...
-Bata no nariz dele. Disseram que o sensor do tubarão, tipo um radar sabe, é centralizado no nariz. Aí além de confundir o faro dele, vai ficar zonzo e não te ver direito... Mas você só tem uma chance de acertar...Ou acerta, ou morre.
Fiquei pensando na conclusão das metáforas que fiz com as ultimas frases e Seu Jorge foi embora, sorrindo...

*Não é o Seu Jorge do "Tive razão, posso falar..."

5 comments:

Anonymous said...

Tive Razão...lá lá lá


grande seu jorge e seus 325.654.186.23,5 filhos bem criados...e sua mulher vidente...

A conversa sobre o tubarão foi bem produtiva, vc tirou como lição de vida e ele como lição de sobrevivência...

Vc acredita q estou com essa janela aberta desde a hora q vc falou q publicou e não consegui até agora fazer um comentário...rs

Beijos digo Tchau....

Anonymous said...

uhauhahuahua tive razão....

grande seu jorge!!! na hr q ele precisou ninguém ajudou... é foda

mas enfim... pessoas são assim msm....

bjnhssss suuuuuu

A grávida said...

conselho valiosíssimo esse dele. odeio mordida de tubarão, vc dá a mão e eles querem o braço e todo o resto...

Monique K said...

dãr...
eu sei quem é
e ele é mto mto mto .. alguma coisa boa que eu não sei definir
hahaha
beijinhu

Anonymous said...

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