Farofa
A fila de ônibus se estendia até a outra avenida, mas todos ficam ali, impávidos, aguardando a sua hora de entrar.
Nuvens imensas e dispersas, que vem de tudo quanto é esquina, cobrem as suas cabeças que continuam baixas, e cansadas do longo dia de trabalho.
A fumaça que vem das barracas de churrasquinho exala o cheiro de frango, lingüiça, carne, e se mistura com o aroma de pipoca com bacon do carrinho ao lado.
Nessa noite todos se respeitaram e ninguém causou tumulto entre si, que é o mais indigno quando acontece já que as pessoas não se unem para protestar contra o estilo de vida escravocrata que levam, mas na maioria das vezes chegam uns próximos aos outros apenas para empurrar ou brigar.
Um repórter e seu assistente que deveriam fazer alguma matéria sobre o meio de transporte que continua sendo o mais utilizado (lotado) pós-PCC iluminam aquela escuridão do ponto de ônibus com o flash da câmera e do refletor e alguém bate nas costas de um rapaz que está na mira do equipamento:
“Vai aparecer na Globo hein rapá!”
O garoto que levou o tapa sorri, um sorriso rápido, e volta a sua atenção ao movimento da fila a sua frente, aguardando o momento para subir as escadas do coletivo.
Lá dentro escolho o lugar de frente a porta de entrada, aquele de um banco só, e me revolto quando vasculho a bolsa e não encontro o meu livro. Lembro que esqueci na mesa do trabalho e me conformo em olhar as pessoas enquanto passam na catraca do meu lado. Aquele não é o ônibus que eu sempre pego, nem sempre tenho essa visão, então um dia sem o meu livro não vai me fazer mal algum.
Homens com suas pesadas bolsas a tiracolo, entram com uma lata de cerveja na mão, e um espetinho na outra. A farinha cai no bigode e na primeira arrancada do motorista, um gole de cerveja quase é perdido... mas graças a enorme bolsa que passava antes na catraca, o liquido é absorvido pelo tecido.
Os companheiros de trabalho falam piadas entre eles e sorriem enquanto bebem e comem a carne do espetinho. Estão felizes, pois mais um dia acabou e eles voltam para casa, onde a esposa provavelmente os espera com um prato imenso de comida e irão digeri-lo enquanto assistem o Jornal Nacional. Depois das crianças dormirem eles se refugiam em seus quartos, talvez façam mais um filho por descuido,e aí o país continua cheio de gente sem emprego e sem futuro.Nada contra o nascimento de mais crianças feitas com amor, mas é nítido a disparidade do número de filhos de um casal pobre a um casal rico. Parece que pra compensar a ausência de eletrodomésticos de ultima geração eles querem encher a casa de filhos.
Pergunto se o senhor que estava encostado próximo ao meu banco quer que eu segure a bolsa e ele me entrega. Cochilo com a cabeça escorada na janela e acordo, como se tivesse calculado um ponto antes do que eu tinha que descer.
O trajeto do corredor até a porta é longo e tortuoso. Senhores de meia-idade, aqueles mesmos que se entupiam com o espetinho com farinha balbuciam obscenidades com os amigos do lado enquanto olham na altura dos meus glúteos.Não desejo mal algum a eles, apenas imagino que a carne possa estar intoxicada já que não podemos confiar na higiene dos alimentos feitos a céu aberto.
Desço as escadas e chego à minha rua ... é nessas raras vezes que fico aliviada ao voltar para casa.
3 comments:
Eu sou sempre a primeira a comentar nesta merda??? (merda carinhoso ta)
ahahahah ai ai...vc me mata de rir quando escreve sobre o cotidiano.
1- Do jeito q vc é meio desligada aposto q vc levou a sacola do moço para casa.
2- Isso que da morar longe, engraçado como vc nunca pegou ônibus com um índio.
3- quando eles olharam para os seus gluteos aposto que foi outra coisa q vc desejou para eles...
q o pinto deles caisse, acertei???
ficou com vergonha de falar isso hahahah...
ahuahauhauahuahuahuahu
Gabi! vc revelou o q eu penso qd estou c. raiva de algum ser masculino..hehehe
I like it! Keep up the good work. Thanks for sharing this wonderful site with us.
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