Monday, May 30, 2011

Àqueles dias

Ir para a rua. Naquele sábado à tarde, era preciso muito.
Um pouco até, mas já que achávamos que tudo estava quase perdido...
Um resgate das flores que cresciam meses antes, para talvez mostrar o resultado dessa vez.
Das pessoas que esperavam, enquanto se movimentavam, por algo que poderia mudar o discurso resignado em suas impetrações.
E foram aos milhares, crescendo em mordaças, cartazes, gestos, gritos, cantos, sorrisos, olhares cada qual com seus sentidos, diante a um mesmo destino.
Uma fila de policiais militares parecia impedir o acesso livre, dos que estavam para ecoar por isso. Era preciso certa vontade, para passar por ali, pra fazer o que seria possível, até o fim que fosse.
Barulhos. Dessa vez não eram bombas quando vários rostos se viravam pra trás. Eram balões coloridos explodindo o seu vazio. Do silêncio, que não cabia naquele espaço.
Logo o que se viu foi a mistura de tantas manifestações em uma só via, e a caminhada seguiu tranqüila, Paulista, Consolação, República. Mais balões do alto dos prédios. Palmas, gritos, sorrisos, o peito sossegado, mesmo diante de tudo que ainda está muito errado.
Por algumas longas horas a paz parecia tomar conta de todos, como se tudo fosse mais possível de dialogo, de tentativa, de mudança.
Quem observava de fora, nos pontos de ônibus, nas esquinas e nos metrôs, logo vinha para manifestar apoio, para pedir algo, o que fosse, mesmo que contido em uma frase de continuem!
Crianças segurando faixas. Bebês sendo levados em uma manta de palavras.
Cachorros nos colos de seus donos carregavam no mesmo braço cartazes.
Minutos de silêncio seguidos.
E o barulho era a música, que não devia se calar. Falar enquanto soar.


Vitória


Era ela no fundo do bar, do lado do sexshop, na frente da avenida mais movimentada de domingo à noite.

O frio era cortante lá fora, mas lá dentro, bexigas coloridas, de várias cores, lotavam uma mesa grudada de vestígios de cerveja.

Com os cabelos longos e pretos, ela parou e olhou. Sorriu, com uma felicidade tão imensa por caber ali, sozinha.

À sua frente o som do funk, o cheiro de churrasco queimando, meninas dançando no ritmo, ou fora dele. O dono do bar havia saido, preso por algumas pedras de crack.

Ela tinha dito que era seu aniversário, fazia 9 anos. Mas resposta incrédula ou resignada , perguntei onde estavam os seus amigos, enquanto ajudava Vitória a preencher mais um espaço de ar em um balão, enquanto eles não chegavam.

Thursday, May 19, 2011

Mais uma vez seu corpo sai,
deixa ali,
volta,
olha ao redor.
Quase morre.
Em um espaço.
O coração parece que para. Os olhos não vibram. Sua alma,
Lá fora, em outro lugar.
Vai atrás.

Wednesday, May 18, 2011

Cetoprofeno 100 mg


Juntou pedaços caídos em alguns lugares, deixou outros, resolveu não buscar.
Para compor tudo de novo, as partes ainda não encaixam, mas um dia, tudo ia se moldar.

Thursday, May 12, 2011



No meu tempo

Não havia computadores, nem máquinas de escrever.
Na minha casa.
E naquela época,
Não existia a possibilidade de deixar um recado público.
E nem ao menos chamar alguém imediatamente para uma conversa.
Para marcar um encontro, era preciso ouvir a voz, ao menos pelo telefone.
Tomar coragem de pegar o telefone, discar o número que, romantizado em sua combinação, marcava o dia, as horas, e as intenções com sua sequência.
Não ligar mais, era um fator concreto, que poderia afirmar algo ou um simples esquecimento.
Que não seria lembrado com conversas banais online.
E não confundia intenções ou o tipo da conversa em um final de tarde entrecortado nas realidades distintas dos dois lados.
A saudade era mais possível.
O desgaste das fotos, dos perfis, das palavras, jogadas em uma página eletrônica não existia.
Para se ter noticias de alguém era preciso visitar essa pessoa, em sua casa, na escola, ou em qualquer lugar.
Impossível falar com mais de uma pessoa, sobre o mesmo assunto, no mesmo tempo.
As ligações de telefone também ficariam caras.
E talvez por isso, era preciso escolher, a quem ligar sob o que se pretendia.
Algumas vezes, ainda mais longe de hoje, ensaiava-se um diálogo imaginário, para não se perder tempo, em espaços mudos de conversas.
E todas essas parafernálias são para economizarmos nossos minutos frente à realidade imaginada.
É como se condensássemos a perda de tempo em vários profiles.
Ninguém escreve mais cartas, nem cartão de natal.
E há aquelas pessoas que acham que assim economizam papel, e reduzem o desgaste do planeta.
Será que alguém gastaria tanto papel e tinta de caneta falando besteiras?

Thursday, May 05, 2011

quem tem dor não tem tempo.

quem tem tempo

espera

Tuesday, May 03, 2011



Tanta coisa fora do lugar.
E você querendo arrumar.
Como se fosse tesouras picotando pontas de mesas gastas de plástico.
Colando encostos de cadeiras de papel nas cabeceiras das mesas
Servindo xícaras de chá em lustres empoeirados.
Derrubando café em estradas do ar.
Pingando gotas em nuvens brancas.
Aqui de baixo.