Sunday, January 31, 2010


Sobre a teoria das lacunas


Já estava antevisto o que poderia acontecer na propensão de lugares lotados de pessoas não existentes.
Pois não há como existir corpos que apenas se locomoveram para ter o esperado mesmo.
Dificil causar uma transição de fluxo quando o que está em matéria, atrai maior movimento.
Mas há luzes que se apregoam ao espaço em lacunas, que como o branco está alí para criar.
Nessa névoa de curvas ou brechas entre o que se esgota, demonstra onde se retrai.
Para nao movimentar os ventos ausentes do limite, cria-se um aprisionamento de retornos que se fixam.

Monday, January 25, 2010


Ah você deveria falar
Falar, por que não fala?
Fale o porquê, deveria.
Não guarde nada, diga.
Diga o que deveria.
Não deveria ser assim
O que guarda.

Saturday, January 23, 2010

Não lembro do ontem.
Porque não vivo do hoje
E quando estiver mais velha
Lembrarei de hoje
Só porque não olharei para o futuro.
Ninguém nunca está
Porque realmente não existe
São apenas pontos presentes
para outro dia.

Wednesday, January 20, 2010


A noite do dia passado dos últimos tempos


Perdeu lápis no caminho incerto das paredes limpas com oxigênio

Transcreveu linhas solúveis em uma parede de cascalho disperso do concreto

Suicidou-se em demasia para arrancar aquelas páginas unha a unha

E formou um livro de entulho.

Friday, January 15, 2010


Porta-aviões



Minha vida voa

Lá no alto

Rápida e serena

Em um avião

Mas tem horas que do céu ela cansa

E o avião resolve abrir a porta

E tudo cai

Lá do alto

Lentamente assisto um balé de coisas no ar

Até reduzirem no campo de visão como ínfimas

Pois chegam a realidade

E eu preciso descer para arrumar uma enorme bagunça

Até que outro avião surja

Lá no alto




Thursday, January 14, 2010


Antes
de tocar as teclas ou tintas de uma caneta qualquer, alongo os braços, bocejo, me contorço, provoco estalos nos dedos, coço os cabelos, enrolo os fios entre as mãos, faço ar de desespero, amplio pausas.
É como se estivesse diante um exercício dificultoso, como uma sequencia aeróbica, ou a construção de um muro.
Quando começo a verter junções horizontalmente num espaço branco e imaginário, é como se estivesse sentada a beira de um lago límpido e puro ou um rio denso e poluído, e de acordo com tal perspectiva, jogasse pedaços destroçados de alimento para que os respectivos seres desses ambientes se juntassem ali.

Respiro aliviada com o resultado que quis, ergo as pernas que estavam relaxadas diante dessa formação, levanto e avisto de longe as palavras que o objeto de meu alimento compôs, mesmo que para isso alguns seres tenham se trucidado.

Wednesday, January 13, 2010

vida.

por vezes são as mãos que suam, em outras são os olhos.

Monday, January 11, 2010


Não vai mais sair ninguém que reluzia jaz lá dentro.
Não vai mais entrar ninguém que relutava em estar latente

Não vais má naquela trilha

Não entra ninguém com matizes

Ninguém sai sem retornos equiparáveis

Friday, January 08, 2010


Algumas gotas de anestésico, para relaxar alguns músculos exaltados

Que tentam lutar ainda contra o torpor das direções

O sol forte não desperta, e por mais que traga algum embate, nada dói.

Machucados exaltam a cicatrização morosa, e a sensação inócua ...

...Paralisa entre faróis e volta entre algumas avenidas sem saber se suspende o ir

Não ouve, e apenas vislumbra o movimento de lábios, gestos e expressões que tentam transmitir, com preguiça, alguma mensagem.

Desvia formações com sentido que um dia criou para saber que no final, nada tem

Quer arrancar todas as peles, as unhas, cabelos, palavras não ditas, pensamentos equivocados.

A força

Ausente, retarda todas as coisas que te traz vida

Despreza a repetição doentia do sempre.

E tem aversão a sua própria animação repentina quando vibra na tentativa de se sentir humana.

Wednesday, January 06, 2010


Chuva



Cai em pedacinhos toda a imensidão de tua água
Cria movimentos perpendiculares a molhar apenas alguns
Desaba no chão e forma o que é por amplitude.
Olhada aqui de baixo é lenta, esparsa e iluminadora
Vista de cima é repleta de efeitos que pintam um chão gasto
Capaz de devastar civilizações, de desolar moradias
De causar paixões repentinas,
Ou de estressar um digno trabalhador
Provoca sonoridades que tranquilizam, ou atormentam
Batem a janela a pedir atenção ao teu espetáculo nunca quisto
Algumas começam arrebatadoras, sem avisar
Outras surgem aos poucos, a pingar alguns frangalhos de sua existência
Preenchem também as roupas, opacas pelo tecido
Leva pelos bueiros toda sujeira que existiu um dia
Causam uma sensação de companhia, em noites que esfriam

Tuesday, January 05, 2010


Sem titulo

E se lembrou dos horários que preferia
Escrever
De manha, assim que chegava a mesa de algum trabalho mais burocrático que muitas vezes nada tinha de beleza
Mesmo que fossem aqueles que traziam páginas que inspiravam cheiros de cosméticos ou qualquer outra coisa corriqueira, e que precisavam elevar-se a importância de algo coeso.
A junção de várias coisas que nada tinham em comum, o alterar de fatos que já se acostumara a briga incessante entre todos esses lados lá dentro, e nas ruas de pessoas várias não conhecidas mais ou nunca.
Precisava sempre sair dali, mas havia uma massa de ar com peso de fumaça inexistente que te levava de volta ao centro, o que se configurava mais como um andar para trás do que tal visibilidade.
Retornou ao que levou a pensar sobre tudo aquilo, como resoluções de fim de ano que não eram. Pensamentos absortos a qualquer momento, jogados num canto como papéis escoados pela água corrente dos bueiros. Juntavam-se entre si até secarem as idéias contidas em letras apagadas. Outras eram repaginadas, mesmo enquanto pensava em outros temas que a afligiam e passavam a pedir um novo texto, antes que terminasse a expor as primeiras angústias que viessem a sua mente.
Assustava-se em constatar que conseguira conversar com outras pessoas durante esse processo, e que não eram tão escapistas aquelas idéias vulneráveis.
Ignora sublinhados rubros em suas palavras inventadas, e acumula pesos das belas composições que lutam para não sair dali para qualquer momento.
Seca a boca no limiar das proporções desalinhadas que a infiltram num revés de termos e um meio fio sem fim.
Desestrutura as conjunções à procura de uma sonoridade implícita que tateia só quando relê.
Voltar a algo não quisto para aprofundar as suas eternas capacidades de superação insuportável e que implica em lesões invisíveis de pensamentos.
Destroçar-se em mil pedaços quando sorri para o previsível ou por sistemas lunáticos diários.
Afogar-se em gritos surdos quando afronta a sua tensão com uma paz que não sabe ser.