Foram décadas de espera e finalmente uma das suas obras foi publicada,e seus amigos que não a visitavam há muito tempo iriam até a sua casa, em uma cidade no leste da França.
Ela chegou às escadas, abriu a leve porta com algum esforço, porque naquela época do ano, alguns blocos de neve entravam na cozinha, por baixo da porta.
Colocou sobre a mesa as sacolas das compras e foi até o bar no sótão, pegar uma garrafa de whisky Glenfiddich 21 anos.
Quando subia a escada de cascalho cinza, olhou para o fundo da geladeira aberta, e viu que havia umas cinco garrafas daquelas vazias no chão.
Pensou em agachar rapidamente, mas logo puxou seu casaco verde musgo e fechou, como se estivesse se conformando da perda da resistência física e muscular.
Ela conseguia esticar o braço até o fim da mesa de madeira pinhão para pegar o seu cigarro. Enquanto o isqueiro tentava acertar uma chama ela olhava de novo pra baixo da geladeira e do armário do lado, e lembrava de quando uma dose de whisky daquela era tão cara para os seus poucos trocados que carregava sempre em uma bolsinha de mão preta, pelas ruas de um outro país.
Sentou com um pouco de cansaço e colocou a base da palma da mão direita sobre a testa, com o cigarro já acesso entre os dedos. Assim sempre fez quando tentava achar a solução dos seus tantos problemas .Alguns reais, outros rondavam ficcionalmente aquela mente tão confusa e infantilmente madura.
Percebeu que nada havia mudado ali dentro, apenas as garrafas, que ficavam ali, sem ninguém reclamar do quanto estava bebendo ou de quanto tinha gasto.
Assim adormeceu, e despertou com algumas luzes do sol que se refletiam pelas arestas da sua grande janela, e a faziam tossir compulsivamente por 5 minutos seguidos.
As janelas que ela tanto amava agora a atacavam com punhais de uma estrela não tão bem quista desde os dias de sua juventude.
Apoiou as mãos frágeis sobre a mesa e foi andando até a sua cadeira de madeira naquela sala escura e displicentemente iluminada.
Abriu uma fresta da cortina e ficou atônita de como a temperatura havia mudado de um dia para o outro.
Andou até o corredor para ler novamente um dos seus livros esquecidos na estante empoeirada.
Passou por algumas páginas e lembrou que sempre foi ranzinza, mesmo quando suas palavras pareciam sorrir.
Devolveu o livro naquele monte de pilhas de pó e preciosidades e resolveu tomar um chá antes de receber os amigos.
E a sua intuição voltou a funcionar: foi só pensar naqueles que dividiam a sua volúpia em anos retrógrados, que logo ouviu as vozes a chamando na sua porta.
Passou pelo corredor dos livros empoeirados e a crise compulsiva da tosse voltava com muita força. Sem conseguir olhar para o chão pelos espasmos, não percebeu que uma garrafa de whisky vazia estava sobre uma pedra de neve e gelo, que haviam adentrado pela sala na noite passada, quando deixara a janela aberta.
Mas o sol, que tanto a perturbava pelas manhas, derreteu aquela frieza, e quando encostou seu chinelinho de tafetá vinho na garrafa, a tosse a confundiu e ela escorregou, batendo a cabeça no vidro da porta da sala, e caindo brutalmente no chão das escadas.
As pessoas inconformadas depois da tragédia comentavam entre si: as garrafas realmente mudaram o rumo de sua vida ...
5 comments:
meu álter ego
Puta merda, foda, e eu pensei que a ausência de lágrimas estava dentre as minhas inúmeras mudanças.... Ledo engano.
Muito bom....
Bjão Suca
Acho q vc devia começar a ver os filmes do Bergman...
Puta merda!!!!!
Q história.....
Sodadi Suzyyyyyyyyyyyy
ahauahuahauhauahu
adoro o tragico(-cômico,claro)....
hehhe
Post a Comment