Thursday, August 17, 2006

Éramos...?



...E agora é só você aqui.
Pra subir essas escadas, e apagar todas as luzes. Fechar a porta do corredor, da sala e do quarto.
Para reclamar consigo mesma, do barulho que faz quando chega.
Ninguém mais vai bater na parede ao lado ou gritar. Porque não tem ninguém no cômodo ao lado.E no seu quarto já se foram dois há muito tempo.
Ainda há o mesmo casal, deitado no quarto da frente.
Mas hoje, depois de uma semana do portão fechar, você percebeu que está, de uma vez por todas, sozinha. Você ficou por ultimo.
Eles passaram, e nada mais volta, embora não pudesse ser diferente, você se espanta.
E uma súbita e estranha carência faz voltar imagens à sua mente.
Cadeados no guarda-roupa.
Bebidas indo pelo ralo.
Lágrimas compartilhadas.
Cartões de natal pedindo desculpas.
Sessões de filme sábado à tarde.
Pudim de leite moça.
Hematomas.
Barulho de salto pela escada.
E como foi difícil eu acostumar a dormir sozinha naquele quarto.
Porque sempre tinha alguém para apagar a luz pra mim, e a perguntar no meio da noite se tava tudo bem quando eu gritava enquanto tinha um pesadelo.
Tinha alguém pra me defender nas brigas do colégio.
Tinha outro alguém pra me dar de presente roupas roxas desde criança.
Pra me inspirar com seu cabelo raspado e suas roupas estranhas.
Pra me assustar como no dia em que tentou ir embora de vez.
Você vestia um roupão amarelo, e não saia daquele quarto cinza... que assim continua, mesmo quando abro a janela.
Você sorriu e disse:
-Está tudo bem, vai ficar tudo bem.
Eu tinha 8 anos ou menos e vi você acabar com seu estoque de calmantes.
E agora você diz a mesma frase, só de olhar pra mim, enquanto desabafo todas aquelas coisas que esquece às vezes.
Já você me faz falta pelo equilíbrio que eu nunca tive.
E mesmo quando eu te achava fria, eu tentei ser igual você.
Eu queria ter controle das coisas, ou ao menos parecer, assim como você. Saber de todas as respostas, não demonstrar desespero, ter voz firme pra falar o que as pessoas precisam ouvir, até o fim, sem perder o rumo da discussão.
Eu lembro de você pelas músicas que ouvia, pelos filmes de terror e desenhos.
Eu lembro de você quando conheço pessoas muito calmas, que me transmitem segurança.
Eu lembro das suas mãos frias e suadas, mas que eram mais seguras que qualquer coisa para mim.
E o ultimo, já me faz falta, por mais esquisito que pareça esse sentimento, depois de tudo... Todas as palavras não ditas, todas as conversas que não tivemos, vão ficar aqui, na minha memória. E eu vou lembrar delas , como se tivessem acontecido, para eu nunca, esquecer de você.

3 comments:

Anonymous said...

Eh minha linda... Agora vc terah a vida q eu sempre tive... Eu, meu pai e minha mãe.... Mas sempre terah alguém partindo....
Em nossas vidas td vem, td passa... Mas o bom de td isso eh saber q um dia podemos nos reencontrar.... O triste de td isso eh acordar e ver q qm partiu nunca mais poderah voltar.....
Pra td se tem um jeito.... menos pra morte minha amiga......
Lembre-se disso, irmãos q se vão... são mais ksas para visitarmos e sermos queridos.....
Nd serah igual antigamente... muitas vezes passa a ser ateh melhor....

Bjussssssssssssssss

A grávida said...

seu irmão foi embora?

Anonymous said...

queria escrever tanta coisa, faz meia hora q eu estou com essa janela aberta, já li quinze vezes o texto, mas não sai uma palavra...

Daquela época só podemos sentir saudades e dizer que foi bom e ponto final...

agora é a sua vez...

vc sabe q o q precisar estarei aqui..

bessos