Friday, July 28, 2006

UTILIDADE PUBLICA

Receita anti-pulgas para cães

Refogue um pouco de alho,e misture na ração.
O alho entra na corrente sanguinea e faz com que as pulgas rejeitem esse tipo de tempero.
Muito mais econômico que shampoos ou produtos anti-pulgas.
Não e a toa que para espantar sanguessugas como os vampiros as pessoas usavam correntes de alho penduradas no pescoço.Mas elas não sabiam que deviam consumir o alho. Assim,os vampiros jogavam as correntes pro alto e usufruíam do belo pescocinho da vitima.
Populações inteiras da Pensilvânia teriam sido salvas se alguém tivesse sentado na praça na hora do almoço , e conversasse com uma mulher que não parava de falar como cuida dos três lindos cães que brincavam por ali.


Importante>>> Se você conhece alguém que não suporta o sabor do alho , fuja, pois pode ser um vampiro.

Thursday, July 27, 2006

NO2

E mais uma vez você trocou a fumaça do seu cigarro pelo gás que é expelido na sala de inalação do hospital.
Por 4 vezes, em intervalos de 20 minutos, a enfermeira volta e liga o inalador, que te conforta com mais uma dose de Nitrato de Oxigênio.
Você respira fundo e olha para todas aquelas pessoas na sala, a maioria crianças com seus pais, e se sente bem apesar disso.
Chega a pensar que NO2 é melhor que qualquer outra droga porque te deixa calma e traz de volta o ar que faltava lá fora.
E olha pra cima e vê mais fumaça: fumaça, fumaça, fumaça...
Poluição dos carros, nuvens sonhadoras, pensamentos eliminados, súbitas preocupações, ausência de cores...
Já reparou que a maioria das coisas se desintegra em seu estado gasoso e não vão embora tão cedo?
Se fosse sólido eu largaria em algum lugar, e se fosse liquido acabaria derretendo com o calor ou... virando fumaça...

Wednesday, July 26, 2006

Releituras...

Sem tempo, paciência ou pensamento?Ressucito um poema de 2005..

Paralelismos

E era o mesmo medo de engasgar com a água.
Os cachorros quando a cercavam na noite escura.
Uma tontura sem explicação.
Sentimentos inorgásmicos.
Contas que não se pagam.
Abraços se esvaem.
A música não fica.
Gritos sem retorno.
Chama de velas sem sentido.
Crescem os poros que trata.
Mutilação e vento oposto.
Fim da composição.
E o barulho de sonhos mudos.
Quer um manual que não te explique.
Chora por não precisar.
Era assim o sono inconstante.
Suave cheiro amargurado de brilhos.
Ofegante e trôpego, perfume caricato.
E era o mesmo medo....

Tuesday, July 25, 2006

Seu Jorge *

Ele cumprimentou quase todos que estavam ali no bar naquela segunda-feira.
Puxou a cadeira e sentou-se à mesa sem qualquer cerimônia.
Com as suas mãos impregnadas de graxa acendeu um cigarro e encheu o copo de cerveja.
As outras pessoas que não se viam há um tempo conversavam sobre as ultimas novidades entre elas: a viagem do fim de semana, festas, amores...
Ele ficou quieto batucando na cadeira o som que haviam escolhido na juke box do bar ao lado. Arriscou seguir uma letra do Ira, mas logo parou.Uma menina passava ao lado vendendo doce e alguém comprou e ofereceu pra ele com insistência, que acabou aceitando.Sorriu com seus poucos dentes:
-Não posso comer doce porque o dente de trás dói.
-Ah, leva para alguém.
-É, o senhor não tem filhos?
-Tenho.
-Então, leva, quando o senhor chegar em casa.
-Mas eu não vou chegar em casa hoje, eu moro em um albergue...
E começou a falar que queria voltar cedo, pois tinha que escrever uma carta para a assistente social, relatando a tirania, palavra que escolheu para definir o segurança.
-Ele esquece que já morou em albergues. Se ele sentir um cheiro de cerveja ele humilha, mas se perceber que o cara tá maluco de crack não faz nada.
Fez um gesto em V com os dois dedos e os levou aos olhos vermelhos de ódio, afirmando que seus companheiros estavam de olho nele.
-Se ele cruzar a esquina e trombar com um de nós...
Começou a relatar as dificuldades que teve para conseguir comprar um carrinho de engraxate.
Mostrou a sua imensa lista de clientes com horários, nomes e locais.
-O senhor não pára né?
-Não, nem um minuto. Mas eu prefiro assim.Quando eu era segurança de banco eu me estressava muito.Tava cansado de assaltos. Era um por semana.
Curvou-se para o lado e disse que queria voltar para sua terra: comprar um barco e ganhar a vida só com a pesca.
-Uma vez eu vi um documentário no National Geographic, sabe? Então, falava dos métodos de pesca. Eu quero voltar para Pernambuco e trabalhar com isso.
- O senhor sabe pescar?
-Não. Mas é só querer, que a gente aprende né?.... queria pescar tubarão!...Se um dia você se ver perdida no mar e tiver um tubarão vindo em sua direção, o que você faz?
-Ah.. Se eu não tiver nada na mão pra me defender eu não sei... Tento nadar... É, mas acho que vai ser inútil tentar fugir... Aí eu desisto...
-Bata no nariz dele. Disseram que o sensor do tubarão, tipo um radar sabe, é centralizado no nariz. Aí além de confundir o faro dele, vai ficar zonzo e não te ver direito... Mas você só tem uma chance de acertar...Ou acerta, ou morre.
Fiquei pensando na conclusão das metáforas que fiz com as ultimas frases e Seu Jorge foi embora, sorrindo...

*Não é o Seu Jorge do "Tive razão, posso falar..."

Monday, July 24, 2006

Estação Cidade Jardim

Desembarcou naquela mesma estação de trem para fazer integração para o metrô.Subiu as escadas apressada, pois o relógio do celular marcava 21h00 e era exatamente o horário que encerrava a integração.
Ficou descrente com a cura do seu atraso patológico, e indignada do caminho que agora teria que fazer.
Olhou ao redor e uma garota e um rapaz pareciam murmurar sozinhos e por um segundo trocaram olhares de desespero.Desceram as escadas...
- Ai, eu estou perdida.
-Agora tem que voltar para o trem que eu tava, e descer no final e depois fazer integração em Osasco e...
-Eu sempre me atraso, mas pensei que dava tempo.
- Eu acho um absurdo. Não tem uma tolerância ,logo no dia que as ondas de ataque do PCC voltaram...
-... você vai para onde?-... vamos todos para lugares diferentes mas o caminho do trem é o mesmo...Vocês tem um isqueiro?...só um minuto, vou pedir ali...
-... e depois que eu voltei para o Brasil eu já fui assaltado três vezes.
-Ah acho que não me assaltam porque eu tenho cara de maloqueira.
-... fui perseguida...e ai desde então eu não desço mais aquela rua de madrugada...
-Eu moro lá perto, mas eu só passo por lá quando eu ia no...
-Ah você ia pra lá também?Nossa que mundo pequeno...
-... É lindo...chama..Dançando no Escuro!Eu gosto da Byork, mas de musical eu prefiro os Irmãos Blues, você já viu também?
-... e para cuidar de pessoas assim tem que ter um estomago de avestruz ...
-... sempre quis aprender violão também mas minha vida sempre foi tão tumultuada, que nunca sobrou tempo pra nada, eu sai de casa muito cedo, eu tinha 15 anos, a minha mãe...
-...por que?... você tem algo contra a alguém gostar de Shiny happy people?
-Ahahahahaha...
-... ah, deixa que eu mato! Adoro matar barata.
-Nossa tem um texto da Clarice Lispector que ela fala sobre o desafio dela com as baratas...
-... e agora eu tou lendo um livro sobre a doença maníaco-depressiva, uma amiga quis me emprestar.....
-... e eu percebi que nenhuma desgraça é para sempre, se você não permitir ,porque...
- Agora eu vi... tem mil ratos ali nos trilhos..ai...eles conseguem subir até 8 andares!
-Eu sempre fico na estação olhando para eles. Se você não observar bem, é capaz de não conseguir ver...
-... eles se camuflam, é da mesma cor...consegue contar?...
-... e hoje eu estou aqui, indo para a casa da minha namorada, em paz ...
-... o ser humano é mesmo muito limitado, ele nunca vai entender certas coisas.
-... eu confesso que quando vi vocês dois ali me senti tão tranqüila, mesmo atrasada.
-... a vida é estranha né? Não sei, do nada a gente se conheceu aqui...
-Eu sei que não vamos nos ver mais, mas...por isso mesmo...eu amo vocês!

Friday, July 21, 2006

Menina-Veneno

Eu, desde criança, sempre gostei de estar no meio dos meninos.
Não por carregar algum sinal de perversão precoce, mas porque eles sempre me pareceram mais sinceros, menos birrentos e sem fricotes.
A minha opinião foi mudando mesmo porque na adolescência era complicado me manter muito tempo afastada das minhas amigas, pois todas passam pelas mesmas transformações, mesmos traumas e algumas sofrem torturantes processos de exclusão e tiração de sarro por algum “defeito” físico. Eu agüentei durante vários anos os apelidos mais grosseiros que uma garota pode ouvir sobre as suas pernas finas.É, eu tinha pernas finas ! Nessa fase difícil da minha vida eu cheguei a usar 2 calças legging por baixo do uniforme da escola. Nos dias que tinha aula de educação física eu rezava para que fizesse frio, para não ter que usar shorts ou uma calça só.
Com o passar dos anos eu voltei a ter muitos amigos meninos, não porque minhas pernas ficaram grossas, mas percebi que eu realmente tenho paciência com raros seres femininos. E eu posso até enumerá-los aqui, com reverencia, pois são pessoas iluminadas que conseguiram fazer parte da minha vida, efetivamente.
Talvez esse texto surgiu depois que eu me dei conta que trabalho rodeada de mulheres. Hoje eu contei.
Só na minha sala são 7. Na sala ao lado, - que é como se fosse aqui dentro, pois há somente divisórias de vidro-, existem 9. Isso sem contar nas adjacências e nos corredores.
E o que é contraditório é que as características delas me irritam ainda mais quando estou de TPM, sintoma típico de uma mulherzinha.

Se você está vestida com uma blusa, cinto, sapato e bolsa rosa, não leia os tópicos abaixo, você pode se magoar e ter que ir chorar no banheiro...

Estão sempre falando, todas ao mesmo tempo. E muitas tem vozes muito finas.
Parecem acordar sempre de bom humor. Ninguém me parece tão mal humorada quanto eu, de manhã.
Passam horas falando sobre que roupa vão comprar ou promovem um fórum de discussão para reunirem relatos acerca do sapato novo da amiga.
Algumas te olham com fisionomia triste e de pena quando você diz que não tem um namorado.
Estão sempre insatisfeitas, falando de dieta, da barriga, do cabelo, da unha que precisa fazer.
Gastam tanto tempo para dizer que não gostou do seu novo corte de cabelo ou da sua camiseta estranha... E isso porque você nem perguntou, elas acham que se forem grosseiras ou dizerem a verdade poderão perder a amizade. Pior que entre elas pode ocorrer isso e talvez eu seja a única que goste de dizer e ouvir as coisas de forma direta , sem rodeios.Como um delicado e feminino : “Tá horrível, tira isso!”.

Thursday, July 20, 2006

Farofa

A fila de ônibus se estendia até a outra avenida, mas todos ficam ali, impávidos, aguardando a sua hora de entrar.
Nuvens imensas e dispersas, que vem de tudo quanto é esquina, cobrem as suas cabeças que continuam baixas, e cansadas do longo dia de trabalho.
A fumaça que vem das barracas de churrasquinho exala o cheiro de frango, lingüiça, carne, e se mistura com o aroma de pipoca com bacon do carrinho ao lado.
Nessa noite todos se respeitaram e ninguém causou tumulto entre si, que é o mais indigno quando acontece já que as pessoas não se unem para protestar contra o estilo de vida escravocrata que levam, mas na maioria das vezes chegam uns próximos aos outros apenas para empurrar ou brigar.
Um repórter e seu assistente que deveriam fazer alguma matéria sobre o meio de transporte que continua sendo o mais utilizado (lotado) pós-PCC iluminam aquela escuridão do ponto de ônibus com o flash da câmera e do refletor e alguém bate nas costas de um rapaz que está na mira do equipamento:
“Vai aparecer na Globo hein rapá!”
O garoto que levou o tapa sorri, um sorriso rápido, e volta a sua atenção ao movimento da fila a sua frente, aguardando o momento para subir as escadas do coletivo.
Lá dentro escolho o lugar de frente a porta de entrada, aquele de um banco só, e me revolto quando vasculho a bolsa e não encontro o meu livro. Lembro que esqueci na mesa do trabalho e me conformo em olhar as pessoas enquanto passam na catraca do meu lado. Aquele não é o ônibus que eu sempre pego, nem sempre tenho essa visão, então um dia sem o meu livro não vai me fazer mal algum.
Homens com suas pesadas bolsas a tiracolo, entram com uma lata de cerveja na mão, e um espetinho na outra. A farinha cai no bigode e na primeira arrancada do motorista, um gole de cerveja quase é perdido... mas graças a enorme bolsa que passava antes na catraca, o liquido é absorvido pelo tecido.
Os companheiros de trabalho falam piadas entre eles e sorriem enquanto bebem e comem a carne do espetinho. Estão felizes, pois mais um dia acabou e eles voltam para casa, onde a esposa provavelmente os espera com um prato imenso de comida e irão digeri-lo enquanto assistem o Jornal Nacional. Depois das crianças dormirem eles se refugiam em seus quartos, talvez façam mais um filho por descuido,e aí o país continua cheio de gente sem emprego e sem futuro.Nada contra o nascimento de mais crianças feitas com amor, mas é nítido a disparidade do número de filhos de um casal pobre a um casal rico. Parece que pra compensar a ausência de eletrodomésticos de ultima geração eles querem encher a casa de filhos.
Pergunto se o senhor que estava encostado próximo ao meu banco quer que eu segure a bolsa e ele me entrega. Cochilo com a cabeça escorada na janela e acordo, como se tivesse calculado um ponto antes do que eu tinha que descer.
O trajeto do corredor até a porta é longo e tortuoso. Senhores de meia-idade, aqueles mesmos que se entupiam com o espetinho com farinha balbuciam obscenidades com os amigos do lado enquanto olham na altura dos meus glúteos.Não desejo mal algum a eles, apenas imagino que a carne possa estar intoxicada já que não podemos confiar na higiene dos alimentos feitos a céu aberto.
Desço as escadas e chego à minha rua ... é nessas raras vezes que fico aliviada ao voltar para casa.

Tuesday, July 18, 2006

Sem origens, sem destino...

A volúpia transcende todas as atitudes e palavras decididas e contradiz o que era há alguns minutos.

Todos os atos mutáveis reafirmam o que sempre foi: alguém que nunca é por muito tempo.

Seus momentos instáveis te reconfortam onde você quer se fixar, sempre em algo que
muda de lugar e te deixa insegura.

As suas idéias emergem, e uma contra a outra tentam ganhar um espaço dentro da sua mente.

Hoje eu não sou eu mesma.

Amanha também, talvez eu não me reconheça.

E é assim, que me afasto do reflexo, juntando os cacos, recolhendo a bagunça que deixei pelo chão.

Pode parecer perigoso acordar sendo outra, acordar sem saber como se vai reagir a situações novas.Mas por mais esdrúxulo que pareça é assim que me sinto familiar, e é assim que me sinto eu mesma...

Monday, July 17, 2006

“…And for a minute there, I lost myself, I lost myself
And for a minute there, I lost myself, I lost myself
For a minute there, I lost myself, I lost myself…”
(_Karma Police_Radiohead_)


E ela ficou ali, inquieta, mas ao mesmo tempo imóvel, sem saber o que fazer.
As perguntas se repetiam e não conseguia ativar seu senso de persuasão ou criatividade para falar algo que pudesse arrancar alguma resposta com mais de duas palavras e sem pausas silenciosas perturbadoras.
Pensava sem dizer uma palavra que não era o fim de tudo, assim como ela havia deixado o medo transparecer em tons de egoísmo.
Mas algo havia acabado, ou tinha de acabar para que as mágoas criadas por ela ou as situações pelas quais se inseria não continuassem a ferir quem só te fez o bem.
Por outro lado, esse alguém poderia ter misturado tantas coisas e descontado uma magoa que não a pertencia, mas era preciso reconhecer o seu lado na história.
Olhou pra cima e oscilações entre querer e poder corroíam a sua mente sempre tão confusa.
Achou melhor ficar com as lembranças e a saudade do que pensava e os sentimentos que inexplicavelmente surgiram.
E por isso resolveu voltar alguns passos, para que alguém não se assustasse com a sua inconstância, loucura e imprevisibilidade.
São extremidades porque cada ponta está distante e carrega as suas diferenças intrínsecas.
E foi assim que ela tentou definir aquela relação para si mesma.
E foi assim que o tempo achou melhor separar de leve, o que ele uniu doce e suavemente.
O que ainda aumenta o amor é ver que ele carrega uma profunda amizade, que não se corrompe e não deixa se ferir, assim ela espera ...

Friday, July 14, 2006

“A pobreza amplia a tragédia”


Depois de ficar inconformada (inutilmente) com a noticia de que um motorista de ônibus da cidade de Nova Odessa teve 90% do corpo queimado durante um atentado, entrei em um misto de revolta com orgulho doentio da organização e inteligência das facções criminosas, que conseguem promover uma guerra para contestar os seus “direitos” e ainda manifestam em artefatos de revolução a sua ideologia.
Uma garrafa pet de plástico, cheia de pólvora e pregos, com dois longos pavios foi deixada depois de uma troca de tiros entre policiais civis e criminosos durante a tentativa de um atentado contra uma delegacia na Zona Leste.
Os suspeitos foram presos e abandonaram o artefato, que tinha essa frase aí do titulo colada.
Todo brasileiro que consegue usar o mínimo do seu nível de consciência e comoção nacional percebe que é obvio a progressão de tragédias quando a desigualdade é gritante.
Mas ainda assim, a via de acesso para expor essa idéia é sombria e ao mesmo tempo carrega uma estranha necessidade.
Desde que o mundo aprendeu a usar armas para lutar por objetivos justos ou ambiciosos, o sangue de inocentes foi derramado.
Fico perdida em números cada vez mais abstratos em relação a quantos “suspeitos” foram assassinados nessa guerra. Os jornais estampam algo em torno de 300 desde quando a guerra começou, em Maio. Já a lógica de um critico mais real e contundente como Férrez, aponta algo em torno de 500 entradas no IML. É como diz o secretário de segurança: “Até que se prove o contrário, eles são culpados”.Ou a célebre e fatídica declaração “Está tudo sobre controle”.
Não caiu nenhum político, nem artista Global, que mereça 1 minuto de silencio em rede Nacional, ou uma homenagem emocionante em que outros famosos vestem uma camiseta branca com dizeres de paz em protesto.
A classe média alta precisa se refugiar em casa depois de um dia difícil norteado de noticias alarmantes. Assim como a maior parte da população pobre , que sofre andando quilômetros na volta do trabalho com a ausência de ônibus .
A disparidade entre elas é que o rico relaxa em seus aposentos, saboreando um vinho alemão e agendando alguma viagem para fugir do caos durante esses dias. O cidadão comum lamenta as mortes dos seus amigos inocentes da periferia, e se cala com a boca seca , sem encontrar vias de acesso efetivas para falar sobre a sua angustia.
É o que nos resta ver cenas de velórios e familiares aos prantos na TV, clamando por justiça e direitos humanos. Mas quando essa guerra acabar, as pessoas voltarão à suas rotinas alienantes, trabalhando incansavelmente , servindo à patrões de poder vastamente centralizado e usando os seus míseros salários em parcelamentos infindáveis nas Casas Bahia e Marabraz, que ficaram fechadas durante os atentados.

Thursday, July 13, 2006

Aqui fora...

Unhas roidas e esmalte que se desgasta fácil
Hematomas por várias partes das pernas
Arranhões no antebraço
Novos roxos no joelho
Pequenas queimaduras de cigarro em pontos distintos da mão.
Um machucado próximo ao pulso que infeccionou mas que agora está tratado
Mordidas no rosto
Alergia à pulseira no braço esquerdo
Marcas, marcas e marcas.
Essas são visíveis...

Wednesday, July 12, 2006

Noite

E ontem quando vi a lua me perdi por alguns instantes esperando que as nuvens agitadas a cobrissem por inteiro.
Mas elas se esforçavam incansavelmente e não conseguiam envolve-la, e até mesmo as mais escuras dispersavam-se e encontravam um outro destino.
A luz que refletia no meu quarto em alguns momentos cessava enquanto no céu ela ainda encontrava meios de sobressair-se.
Fiquei dispersa em meus pensamentos sempre sombrios e não tive forças para chorar ,quando por alguns segundos voltei a atenção para minha cachorra que tentava pegar a fumaça do cigarro que saia da minha janela.
Ela fica sempre ali de pé, esperando alguma comunicação minha e quando fico assim , imóvel , corre para comer as cinzas que jogo no chão e mantêm-se inquieta ,derrubando coisas, latindo por todos os cantos e pulando na janela,como se quisesse evitar as minhas lágrimas.
Eu sorri , tranquei as portas , fechei a janela ,desliguei o rádio...
Fiquei no silêncio.
Dessa vez ele não incomoda, parece claro e constante.
Era o que eu precisava agora...

Monday, July 10, 2006

Agora toda sexta feira é a mesma coisa...
Ela sai de casa inesperadamente a convite de alguma festa,show ou comemoração e quando vê, está mais uma vez ansiando para estar de volta.
Passou a odiar as sextas mais do que qualquer segunda.
Os sábados também estão estranhos nessas últimas semanas, mais até do que domingos cinzentos.
Mas o que ela pensa agora é sobre as sextas.
Dessa vez perdeu mais uma de suas vidas.
Viu os dois descendo a rua escura, mas já não podia fazer nada, nem gritar, como faz nos seus sonhos.
Conseguiu uma discrição nunca antes vista ao pegar a bolsa que ainda estava dentro do carro e pensou que passava despercebida enquanto cruzava o portão.
Mas um brilho reluzente apontou para ela e o sujeito disse em tom de imposição:
-Volta, volta...!!!
Ela não podia pensar na hora, mas muito menos voltar.
Aproveitou a distração deles que tentavam ligar o carro e entrou no condomínio.
Uma das suas amigas também havia conseguido fugir e vocês correram muito, até entrar na casa e trancar todas as portas.
Mas todos ainda estavam lá fora, o seu amigo não quis arriscar a correr enquanto uma arma era apontada e ficou lá, com as mãos pra cima.
Depois de o carro arrancar, estavam todos dentro de casa, aparentemente seguros.
Enquanto esperavam a policia chegar, o carro roubado passa na rua de cima.
-Eles sabem que estamos sozinhos aqui!
-Eles vão querer roubar a casa!
E corremos mais uma vez a procura de um cômodo com chave.
Apesar da policia ter chegado à casa em poucos minutos e depois ter localizado o carro, estavam todos apreensivos, esperando noticias de quem ficara na delegacia.
Descobriu que estava mais uma vez inexplicavelmente salva, pois os bandidos haviam roubado mais dois carros e em um deles o motorista reagiu, levando um tiro na perna.
No sábado voltando da aula em um ônibus cheio para casa, vê um garoto sem uma parte do braço, vendendo doces.
Ele aparentava ter no máximo uns 6 anos, mas parecia forte e não sem esperanças.
De repente o ônibus freia bruscamente e ele cai perto dos seus pés.
Ninguém se move, ninguém faz nada, e você tenta levantá-lo puxando pela camiseta, já que estava com uma bolsa grande e pesada nas costas.
Os óculos escuros escondem todas as lágrimas e a revolta por haver tanta maldade e indiferença em cada ser humano.
Enquanto assaltantes te trazem cada vez mais traumas, e roubam para comprar drogas, armas ou por se sentirem excluídos da sociedade capitalista, há crianças que estão nas ruas implorando por um prato de comida.
E ela está muito triste, como nunca talvez esteve.
Chorando sozinha na janela, querendo fugir pra um lugar seguro.

Friday, July 07, 2006

I just don’t know what to do with myselfI don’t know what to do with myself
planning everything for two
doing everything with you
and now that were through……
I don’t know what to do with myself
movies only make me sad
parties make me feel as bad
cause I’m not with you
I just don’t know what to do
like a summer rose
needs the sun and rain
I need your sweet love
to beat love away
well I don’t know what to do with myself……
planning everything for two
doing everything with you
and now that were through…
(White Stripes - I just dont know what to do with myself)

Depois de ficar aproximadamente duas semanas com um curativo grande na mão direita, ouvi todas as pessoas possíveis e inimagináveis com a seguinte questão:
-O que aconteceu? Você cortou os pulsos?
-É, tentei, não deu certo... (uma longa pausa com olhar triste e desolado) Calma gente, é brincadeira..!!

Acho que nunca vou “tentar” me matar... Para não ter que agüentar esse tipo de pergunta depois...

...Eu vou ser obrigada a acertar de primeira!

Thursday, July 06, 2006

The old man

Chego em casa e vejo meu pai assistindo TV a noite de óculos escuros. De moletom, meia, e um óculos estilo surfista, emprestado pelo meu irmão.
Apesar de saber o motivo eu começo a rir muito e ele nervoso com a minha tiração de sarro balbucia:
- As crianças da rua fizeram a mesma coisa que você quando eu sai lá fora.
-Também né, você não consegue viver sem televisão.
Meu pai operou da catarata e ainda está em recuperação. Como nesse período ele deve evitar o contato de qualquer tipo de luz ele arrumou um jeito de continuar no sofá, acompanhando toda a programação televisiva, como sempre faz.
Às vezes tenho a impressão que ele pode morrer assim, no sofá, estático.
Eu sou um tanto mórbida, eu sei.
Mas é essa impressão que ele me dá.
Como em uma cena do filme “Domésticas” em que o marido de uma das protagonistas vive de frente a TV e não se move para nada. Toda vez ela chega do trabalho e ele nem responde. Ele acaba falecendo e a mulher só vai perceber depois de uma semana.
Mas minha mãe não trabalha fora, nem como doméstica. Isso não poderia acontecer porque ele é o doméstico da casa. Ele levanta só quando a minha mãe manda ele ir lavar a louça, limpar o quintal ou outros afazeres do lar.
Eu até tentei incluí-lo nos grupos interessantes da terceira idade, mas foi em vão. Fiz a carterinha do Sesc para os dois mas durante todo o ano de matrícula nem sequer foram caminhar em alguma unidade.E isso porque eu imprimi toda a programação.
O carro fica na garagem só para servir de espelho, porque sempre tá lustrado.
Ele quase não sai de casa. Só quando minha mãe o obriga no caso de algum velório, um casamento muito importante ou em situações muito extremas.
No dia dos atentados do PCC eu achei que ele iria me buscar, já que não tinha ninguém na rua, nem ônibus, nem táxi e tava chovendo. Bom, ele não foi.Então eu não sei mais o que é situação extrema.Acho que além de todos os outros desvios eles devem ter síndrome do pânico.Vivem trancando todas as portas, com medo de tudo e de todos .
Apesar de outros fatores que me fazem não o admirar, eu gosto dele, ele é meu pai. E nesses dias em que consegui rir dele, quando chego à sala e vejo um velhinho embaixo das cobertas de óculos escuros, acho que o meu ódio se ausenta um pouco. E dá lugar a uma aceitação, incondicional.Isso não dura muito tempo,eu sei, mas pelo menos deu para escrever um texto sobre ele ...

Wednesday, July 05, 2006

Sobre o mundo glitter e suas mazelas
Porque nem tudo que reluz é ouro....


Sentada em um sofá perdida no espelho olhando a minha própria imagem , me questiono porque eu ainda estou aqui.
As palavras e cores esvaem-se dos meus ouvidos e é preciso muito esforço para manter a minha atenção ao que está sendo apresentado.Esqueço o nada que preenchia os meus pensamentos e volto ao assunto que provoca empolgação nas demais pessoas presentes na sala.
Cansada das mesmas noticias e das variações do mesmo tema, fico sem entender os motivos desse intenso debate.
Até mesma eu, que de tão subjetiva confundo os mais pragmáticos, chego à exaustão diante tantas possibilidades criadas acerca de algo que parece ser tão óbvio.
Alguém levanta a mão e a discussão continua, em meio à flashs, risadas, palmas e neologismos.
Sinto náuseas que não foram causadas pelo suco de abacaxi com hortelã e que transferem-se ao meu subconsciente.Ele me chama para o seu diálogo solitário e tenta me dizer: - “É hora de ir embora, já!!”

Tuesday, July 04, 2006

Inverno

É a mesma sensação do pé gelado, tentando se aquecer dentro da bota.
As mãos frias se escondem por baixo da manga do casaco, mas há momentos em que precisam se expor.
Os ossos do rosto são os mais vulneráveis, sempre sentem dor quando os ventos batem de frente.
Algumas correntes de ar entram por entre frestas que eu não sei de onde vem e por isso não consigo bloqueá-las.
Às vezes ocorre um tremor pelo corpo e os braços precisam se entrelaçar.
Os músculos se contraem na tentativa inútil de conter o calor no corpo.E enquanto você levanta necessita de um tempo para criar energia e se mover.
A água fria penetra nas juntas e articulações e talvez comecem a fazer parte da corrente sanguínea, pois o frio não cessa depois desse contato.
Um estranho rubor aparece na face, principalmente no nariz, quando a pele se choca com a temperatura contrária do corpo.
E não há como fugir dessas reações. Em algum momento do dia todas as pessoas do mundo, mesmo que sejam as mais protegidas com seus pesados casacos e a emissão de ar quente por todos os seus cômodos e veículos irão passar por esse desconforto.
Ninguém está livre à resposta do corpo aos sentidos externos.

Monday, July 03, 2006

…Broadcast me a joyful noise unto the times, lord, Count your blessings.
Embrace the lowest fear/Ignore the lower fears
Ugh, this means war.
Please don’t take a picture.Its been a bad day.
We're sick of being jerked around
We all fall down…(R.E.M)

-Tia, me arruma 0,65 para eu comprar uma bolacha ali na padaria?
O garoto devia ter uns 6 anos,tava descalço, e me acompanhava enquanto eu ia até o ponto de ônibus perto da minha casa.
Eu odeio dar esmola, porque sei que não resolve o problema, e por isso tantas crianças na rua se “alimentam” fumando crack ou cheirando algum solvente.Mas com um valor tão preciso assim o garoto só podia estar falando a verdade.
-Só 0,65?
-É, pra comprar uma bolacha, eu tou com fome.
-Ah tá ,arrumo.
E conversei com o menino até ele parar na padaria.
***********************
-Divinaaaaaa vem cá falar comigo.
Era um travesti todo sujo com feridas amarelas na boca vindo em minha direção enquanto eu andava muito rápido, quase no meio da avenida, pois já tinha o visto dançando na rua de longe.
Andei mais rápido,ainda traumatizada com o ataque no mesmo lugar há uma semana e indignada porque sempre tem alguém assim que vem até a mim.Não poderia ser atrás de um dos 34 passantes que estão na rua, no mesmo caminho?
-Nããaaaooo nãaaooo foge.Eu não vou te roubar.
Dei o cigarro ainda apagado que tava na minha mão inutilmente, porque ele ainda me acompanhava.
-Sabe o que é bixa, eu peguei o vírus HIV e tou passada, perdi meus clientes e preciso comprar alguma coisa pra comer porque eu vou morrer assim e ....
-Toma.-Tirei uns trocados no bolso-.
-Arrasou, tudo...!Fica com Deus iluminada.
-Você também....
Ela podia usar o dinheiro até pra se drogar pois pra quem tá na rua passando fome tem todos os motivos.Eu acho que pelo menos eles têm argumentos que justifiquem.
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Saindo da farmácia um menino veio pra cima de mim.
-Tia, me dá o troco?
-Ai que susto!Pra que você quer?
O menino era da rua, mas sorria sem sinal de fome.
-Pra comprar tinta de cabelo.
-Como assim?
-Calma tia, não é pra mim, é pro meu irmão...
-Ah...Por favor né....Tinta de cabelo não.
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Passando pela Paulista um mendigo não vem em minha direção.
Dessa vez atravessa na minha frente e vai até uma mulher que andava ali com o namorado.
Ele chega um pouco perto com a mão estendida pedindo algo.E ela já se assusta...
-AH VAI SE FUDEEER!!
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