Domingo Conversava com prédios coisas inconfessáveis, prendia a sua xícara de chá no vão da janela, enquanto vertia o cigarro entre quadriculados falhos da sacada, e derrubava algumas cinzas sem querer no andar de baixo.
Com isso olhava para o vão entre eles como luzes vazias em um eco de um corredor qualquer.
Nunca pensou em contar luzes unidas como uma nuvem cintilante de pessoas desconhecidas.
Mas sempre escorava repentinamente e memorizava os movimentos da avenida para logo esquecer antes de fechar a cortina.
Em certos dias assim, tinha a imaginação do que poderia estar debaixo do azulejo. Pratos de porcelana, cabelos cinzas presos com alguns fios soltos, cachorros pequenos e inquietos, nhoque, pisos de madeira, TV, barrigas, outras luzes refletidas de outras janelas.
Olhava para o céu antes de dormir.
E depois , era como um fechar de cortinas involuntário.