Thursday, September 24, 2009


A casa da frente


Ela tinha um tucano, que quase falava, feito papagaio
A outra tinha uma galinha de estimação
Que andava presa a uma coleira
E assim também compartilhava a amiga da casa da frente
Que conhecia desde quando se entende por gente
A casa tinha cheiro de quadros antigos
Havia sempre algo no meio da sala de tacos de madeira
E nos dias chuvosos tinha brincadeiras de tabuleiros
Era tão escura, mas ao mesmo tempo naquela janela de aço entrava mais claridade,
Que a outra casa da frente
Existia um porão, como toda casa que tem história
Lá abrigava uma maquina de lavar antiga, papéis de revistas pela metade,
Poeira, carrinho de feira, coleira de cachorro inexistente
Era sempre fácil tocar a campainha e rostos mais familiares surgirem, a sorrir
Desciam as escadas a mexer o molho de chaves,
e já falavam um assunto que se iniciaria
Mais uma tarde de bolo com café ou pipoca para assistir um filme qualquer
O pai sempre balbuciava, e uma briga aconchegante surgia
A mãe reclamava, mas o som parecia música, e assim se sentia bem
Como aqueles adesivos da geladeira azul celeste
Queria ficar fixa ali, no quarto que abraçava com o teto baixo
Na penteadeira frascos de perfumes antigos
E as maçanetas das gavetas eram de cristal amarelado
Não parecia que algo de atrito estava no ar, e tudo era pacifico
Daquela varanda avistava a outra casa, e aquela visão era bem melhor daquele ângulo
Acenava para a mãe, e continuava ali, na casa da frente.

1 comment:

Bazar do Desapego said...

Suca!Minha companheira de dominó! Que delícia sua visita. Que suave seu texto, lindo! Com toda certeza, estarei sempre te visitando.
Beijo!