Da série: Auroras
Cinza
Quem vive aqui, está habituado a andar em bandos,
A fazer transito em cada canto , rua, calçada, avenida.
Gosta de apressar o passo, mesmo que não esteja com pressa
Quem mora aqui, é sucumbido a andar deselegante, com pausas curtas entre uma perna e outra, a correr pelas escadas por não querer se embrenhar no meio da rolante.
As pessoas desse lugar estão sempre cansadas, de mau humor, e muitas são agressivas
Não relutam em dizer uma palavra áspera, nem titubeiam em atropelar as outras, mesmo que seja através de um bruto esbarrão de braços, sem pedidos de desculpas.
Aos que acordam sob esse céu, frequentemente estão deprimidas, e não ficam tristes com isso. As chuvas torrenciais, as garoas finas e irritantes, as poças de água que molham os sapatos finos no fim do dia.
Os que conseguem dormir na metrópole, ou estão deveras exaustos ou já iniciaram algum tipo de terapia para fugir da loucura
Yoga, meditação, pilates, qualquer coisa da moda que os reeduquem, palavra preferida dos modernos que simplesmente define a falta de inteligência de alguns...
Para respirar, para ver, ouvir, comer, viver...
Mas há os que desmaiam, por puro efeito dos copos, ou elementos quase imprescindíveis para sobrevivência nesse ar cinza , esfumaçado, denso, torpe, sujo.
Alguns o fazem para comemorar, outras para esperar o transito passar, aqueles não sabem marcar outra coisa que não seja isso...E ali tem, mais uma mesa com um único.
Em prédios vários, habitam outros que compartilham a presença apenas com a luz de um equipamento, ou em seu quase raro contato com a natureza, embalam conversas irreais com seus gatos e cachorros.
Tornaram-se tão egoístas e mesquinhas, que nem sabem os motivos que assim são.
Há ainda os piores, os ambiciosos, que a maior parte transitável em grandes empresas, usam palavras, trejeitos e cursam a mesma escola da aparência, da plasticidade, e imprimem sempre a mesma marca, doutorados em convencimento de outros com ainda mais vácuos internos.
Lá fora estão todos falando alto, animados com mais uma sexta feira, e vibram com uma sensação de libertação , de algo que nunca deixarão de estar presos.
Possuem também a ilusão de que são avançados, em relação a outras cidades.
Mas são meros copiadores de moda da novela das 8.
Se vestem também de acordo com os outros habitantes, pois haverá sempre um lenço quadriculado de varias cores pendurado nos pescoços pálidos por aqui.
Todos costumam pensar que há lugar suficiente, que basta “mostrar o seu melhor”, mesmo que as pérolas sejam nada autênticas.
E essa é a grande ilusão dos que ali habitam.
Se acham tão importantes, e não representam nada .
Para as massas, para os números, para todos.