Wednesday, January 17, 2007


Um pequeno feixe de contradições



“Pode me dizer exatamente o que é isto? Que quer dizer contradição? Como acontece com tantas outras palavras, pode significar duas coisas: contradição de fora e contradição de dentro. (...)Já disse a você, certa vez, que possuo dupla personalidade. Em uma delas encontra-se minha alegria exuberante, que faz graça de tudo , meu entusiasmo e principalmente a maneira como levo tudo na brincadeira.(...)Você precisa compreender que ninguém conhece o lado melhor de Anne, e é por isso que a maioria das pessoas me acha insuportável. Se durante uma tarde faço uma porção de palhaçadas, todos se fartam de mim por um mês. Realmente, é como filme de amor para pessoas de mentalidade séria:simples distração que diverte, sem chegar a ser boa.Envergonho-me de contar isso a você , mas como é verdade, vou falar.Meu lado superficial e frívolo está sempre mais alerta que o lado profundo, e por isso há de sair sempre vencedor.
Você nem imagina quantas vezes tentei empurrar pra longe essa Anne. Tentei mutilá-la, escondê-la, porque, afinal de contas, ela é apenas metade do total que se chama Anne; mas não adianta,e eu sei, também, por que não adianta.
Tenho muito medo de que as pessoas que me conhecem superficialmente venham a descobrir que possuo um outro lado, melhor, mais bem-cuidado. Receio que riam de mim, me achem ridícula e sentimental, que não me levem a sério.Estou acostumada a não ser levada a sério, mas só a Anne despreocupada que se acostumou a isso e o suporta. A Anne mais profunda é sensível demais para tal. Se realmente obrigo a Anne boa a ir para o centro do palco, nem que seja por quinze minutos, ela se encolhe toda e acaba cedendo o lugar à Anne numero 1, e antes que perceba o que se passa, vejo que desapareceu.
A boa Anne, portanto, não aparece quando tem gente, até hoje nunca se mostrou, nem uma só vê, mas é a que predomina quase sempre quando estamos a sós. Sei exatamente como desejaria ser, como sou, aliás... lá no intimo.
Infelizmente sou assim só para mim mesma. E estou certa que é por isso mesmo que eu digo que intimamente tenho um gênio bom e que os outros pensam que exteriormente é que tenho gênio bom. No íntimo sou guiada pela Anne pura, mas exteriormente não passo de uma cabritinha travessa, à solta.
(...) A Anne jovial dá risada, uma resposta atrevida, sacode os ombros com indiferença, comporta-se como se não ligasse, mas as reações de Anne silenciosa são exatamente o oposto. Para ser sincera , devo admitir que isso me magoa, que tento mudar por todos os meios, mas que estou sempre em luta contra um inimigo muito mais poderoso.”(...)

Anne Frank, Holanda, terça-feira, 1º de agosto de 1944.

Ultimo texto do diário da pequena judia antes da Polícia de Segurança alemã, acompanhada por alguns holandeses nazistas, darem uma batida no escritório onde Anne e sua família se escondiam há mais de dois anos. Sua mãe foi assassinada e após alguns meses ela e sua irmã mais velha(Margot) contraíram tifo no campo de concentração. Um dia, Margot tentou levantar-se ao lado da irmã, mas, enfraquecida, caiu ao chão. No seu estado de doença e fraqueza, o choque foi mortal. A morte da irmã fez a Anne o que nada até então conseguira fazer: quebrantar seu espírito. Alguns dias depois, em principio de março, Anne morreu.

5 comments:

Monique K said...

e vc por acaso se encontrou neste texto ....
hehehe
beijo*

Anonymous said...

quero créditos do livro.

Suzanna Ferreira said...

pois eh, acho q sou a reencarnaçao dela..
creditos:?
ué foi vc quem editou o livro aqui no brasil?:
ahhahahah
eu naõ lembro quem editou, mas tá bom>>>
GENTE A LEITURA DESSE LIVRO SÓ FOI POSSIVEL PORQUE OLIVEIRA,RAMOS, GABRIELA ME CONCEDEU O EMPRÉSTIMO DO MESMO..
heheh

A grávida said...

ah, esse livro é legal, embora eu não simpatize muito com judeus.

acho que vc deve lembrar a frase clássica dela q eu repito, as vezes...

Suzanna Ferreira said...

tb nao simpatizo muito com judeus..
mas simpatizo com pessoas q sao tratadas sem humanidade como eles...