"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
Clarice Lispector
Monday, October 30, 2006
Friday, October 27, 2006
7h35
Acordo.
Sem despertadores, celulares, ou alguém que entra no quarto.
Tento levantar dos pesados cobertores.
Te vejo .
Você sofre , você sorri e chora , enquanto corre pela casa.
Tenta me dizer algo, mas o som não sai.
Seu olhar é de desespero, e desolação.
A cena do quarto acaba.
Um homem sai.
Você surge em vozes novamente.
Ouço no meu quarto.
Abro a janela.
Vejo você flutuando lá fora.
A cena me assusta mas eu não saio dali.
Desço correndo e tento fazer algo.
Pessoas me puxam com medo, e nos trancamos num outro quarto.
Você grita e emite sons estranhos, enquanto arranha a porta.
As pessoas choram, porque não sabem o que fazer.
Querem te matar.
Abrem a porta.
E você está irreconhecível...
Eu sinto medo, mas quero te ajudar.
E no final estamos num campo enorme.
Várias pessoas sentadas observam.
Nenhuma palavra é dita.
No final eu morri.
Você também.
Mas eu ainda vejo a cena.
Nós nos matamos.
Seu pescoço tem cortes profundos
Vejo nitidamente.
Um tufo de cabelo cai da minha cabeça, e vejo o sangue cair na grama verde.
As pessoas saem dos muros e se amontoam ao nosso redor.
8h18
Acordo com o susto.
Foi só um sonho...
Acordo.
Sem despertadores, celulares, ou alguém que entra no quarto.
Tento levantar dos pesados cobertores.
Te vejo .
Você sofre , você sorri e chora , enquanto corre pela casa.
Tenta me dizer algo, mas o som não sai.
Seu olhar é de desespero, e desolação.
A cena do quarto acaba.
Um homem sai.
Você surge em vozes novamente.
Ouço no meu quarto.
Abro a janela.
Vejo você flutuando lá fora.
A cena me assusta mas eu não saio dali.
Desço correndo e tento fazer algo.
Pessoas me puxam com medo, e nos trancamos num outro quarto.
Você grita e emite sons estranhos, enquanto arranha a porta.
As pessoas choram, porque não sabem o que fazer.
Querem te matar.
Abrem a porta.
E você está irreconhecível...
Eu sinto medo, mas quero te ajudar.
E no final estamos num campo enorme.
Várias pessoas sentadas observam.
Nenhuma palavra é dita.
No final eu morri.
Você também.
Mas eu ainda vejo a cena.
Nós nos matamos.
Seu pescoço tem cortes profundos
Vejo nitidamente.
Um tufo de cabelo cai da minha cabeça, e vejo o sangue cair na grama verde.
As pessoas saem dos muros e se amontoam ao nosso redor.
8h18
Acordo com o susto.
Foi só um sonho...
Wednesday, October 25, 2006

Algumas vezes resfriados são mais incômodos do que gripes.
Algumas vezes o sono bate logo quando se acorda.
Algumas vezes o machucado dói quando cicatriza.
Algumas vezes um paciente morre depois que a doença foi eliminada.
Algumas vezes um suicida se arrepende quando pula da ponte.
Algumas vezes a chuva volta quando o sol sai.
Algumas vezes a comida do congelador queima após segundos na panela.
Algumas vezes o cão não reconhece o dono.
Algumas vezes o ônibus não passa durante horas.
Algumas vezes aparecem rugas em crianças.
Algumas vezes gatos gostam de banho.
Algumas vezes há aplausos antes do fim.
Algumas vezes senhas são descobertas.
Algumas vezes pássaros andam.
Algumas vezes lágrimas param no meio da face.
Algumas vezes relógios atrasam-se.
Algumas vezes o transito fica silencioso.
Algumas vezes manchas de pó não saem.
Algumas vezes a unha não cresce.
Algumas vezes o giz não pega.
Algumas vezes padres são exorcizados.
Algumas vezes todos falam ao mesmo tempo.
Algumas vezes os olhos não piscam.
Algumas vezes o chão não suja.
Algumas vezes o cigarro apaga sozinho.
Algumas vezes placas não indicam.
Algumas vezes drogas não fazem efeito.
Algumas vezes velhos querem brincar.
Algumas vezes plantas não morrem.
Tuesday, October 24, 2006
Monday, October 23, 2006

Para não quebrar a brincadeira....
O coelho maligno dos 6 segredos:
Eu tenho medo de dormir no escuro e no silencio absoluto.
Eu já quebrei a cama da minha irmã de pirraça depois de pular em cima até quebrar o estrado e cair no chão.(eu tinha 8 anos )
Às vezes eu choro quando estou feliz, e dou risada quando estou triste.( não se trata de falsidade, apenas reações contrárias e complexas)
Se pudesse passaria horas olhando para o céu da janela.
Eu e dois amigos,gostavamos de jogar, todas as noites, os pneus que ficavam do lado de fora da borracharia da avenida, e ficavamos olhando até eles chegarem no fim da rua. (isso foi na época de escola, o borracheiro tinha que recuperar todas as manhas os pneus , mas nunca descobriu quem jogava..)
Eu tenho problema de audição no ouvido esquerdo.
Os próximos:
http://endorfina8.blogspot.com/
http://cantodoinsano.zip.net/index.html
Wednesday, October 11, 2006
Rastros

...E procurou encontrar pistas por onde ela poderia estar.
Revirou armários, cadernos e roupas de quatro bolsos que ainda estavam pelo chão.
Vasculhou seus diários, leu suas receitas médicas, olhou bem para o seu cachorro.
Perseguiu taxistas, credores, assassinos e professores.
Visitou hospícios, casas de arte, bares e cabines telefônicas.
Cheirou as marcas dentro dos seus livros e passou a mão entre travesseiros.
Quebrou garrafas, jogou tapetes e lençóis para o alto.
Decifrou códigos, escutou CDS, varreu o chão.
Esteve em tribunais, e em corredores gélidos.
Gritou seu nome na rua, tocou campainhas e ateou fogo em casas abandonadas.
Perguntou para o louco, chorou ao lado de vendedores de capas de chuva.
Observou crianças e descansou sobre túmulos.
Parou carros no farol, gesticulou veemente, desesperou-se.
Pulou em rios, subiu trinta andares, e se escondeu até o eco dos seus passos silenciarem.
Mas nunca mais a encontrou, pois ela mesma estava perdida...
Monday, October 09, 2006
A folha pesa no chão molhado pela chuva.
Quando o vento é contrario, tenta se fixar do outro lado.
Em meio a outros papeis, perde a sua leve liberdade.
Quando se prende entre portões de ferro, ela fica ali, suspensa, mas presa.
Rasgada, pisada, amassada ou picotada, ninguém a reconhece como já foi um dia.
Com escritos confusos, ao passar do tempo que apaga as suas linhas.
Dobrada, dividida, sempre esconde o texto inteiro.
Entre livros é vulnerável a perdas, ou quedas.
Quando segurada entre os dedos, ela se contorce, quando solta, ela foge.
Quando o vento é contrario, tenta se fixar do outro lado.
Em meio a outros papeis, perde a sua leve liberdade.
Quando se prende entre portões de ferro, ela fica ali, suspensa, mas presa.
Rasgada, pisada, amassada ou picotada, ninguém a reconhece como já foi um dia.
Com escritos confusos, ao passar do tempo que apaga as suas linhas.
Dobrada, dividida, sempre esconde o texto inteiro.
Entre livros é vulnerável a perdas, ou quedas.
Quando segurada entre os dedos, ela se contorce, quando solta, ela foge.
Thursday, October 05, 2006
Não vai doer,só preciso tirar 10 ml de sangue.

Pra ver porque as tonturas, essa fraqueza e a palidez repentina.
Aí descobrimos como está a taxa de colesterol, a diabetes e os glicídios.
Senta aqui , você vai sentir um barulho ensurdecedor, mas não tira o aparelho do ouvido.
Entra dentro da cabine, e levanta a mão cada vez que ouvir o som, por mais baixo que pareça.Não está ouvindo nada agora?
Isso, encoste bem na cadeira, não puxe os eletrodos, preste atenção nas luzes vermelhas que passam no painel, sem mover a cabeça e sem piscar.
Olhe fixamente na luz até ela sumir da tela preta e volte o olhar quando outra surgir no canto direito.
Agora você pode ficar um tanto tonta, vou girar a cadeira para ver como está seus reflexos.
Qual o nome da fruta que mais gosta? E a de que não gosta?
Você estuda onde? Onde trabalha?
Agora deite , vai soprar um vento gelado no seu ouvido esquerdo, e você pode ficar ainda mais fraca.
Qual o nome da revista?
Você tem namorado? Ah, é bom ficar solteira né, você é nova...
Bom, agora ouvido direito,você pode sentir o corpo mover-se para o lado esquerdo, mas fique calma.
Fale o nome de um garoto que você gosta.
E de uma garota.
O que você sente agora? Muita tontura?
É a mesma sensação que costuma ter?Mais forte...
Parecia que estava bêbada, saindo de uma sessão espiritual, em que o pai de santo vestido de branco, no caso a médica, estava querendo saber detalhes da minha vida, desde a fruta que eu gosto até como está minha vida amorosa. Mas sei que estas perguntas “óbvias e fáceis de responder” eram para me manter acordada, pois eu estava quase desmaiando,na fase lisérgica do exame.
Tentei me sentir bem quando ela pediu para eu abrir os olhos, olhar para o teto branco e imaginar qualquer imagem que me viesse à mente.
Mas em seguida, ela pediu para que eu abaixasse a cabeça e ficasse alguns segundos assim, até eu voltar ao normal.
Naquela cadeira mais alta, com todos aqueles eletrodos na minha cabeça, me senti como uma nova criação da medicina.Alguma anomalia humana, ou um ser muito perigoso para a sociedade. Talvez eu levaria alguns choques ainda, porque a cadeira era idêntica àquelas usadas para criminosos indiciados a pena de morte.
No final do exame, ela me entrega o envelope, que deve ser levado ao meu medico no dia da consulta.
Na conclusão estava:
“Síndrome Vestibular Periférica Irritativa Bilateral”
Pesquisei na internet e achei isso: “Os pacientes com SVPIB apresentam prejuízo na qualidade de vida, em relação aos aspectos físicos e emocionais.”
Bom, não vou tirar nenhuma conclusão até a próxima consulta, mas acho que depois disso eu seja isolada do mundo, ou alguém descubra enfim, que eu não sou daqui, e me mande de volta ao meu planeta de origem.

Pra ver porque as tonturas, essa fraqueza e a palidez repentina.
Aí descobrimos como está a taxa de colesterol, a diabetes e os glicídios.
Senta aqui , você vai sentir um barulho ensurdecedor, mas não tira o aparelho do ouvido.
Entra dentro da cabine, e levanta a mão cada vez que ouvir o som, por mais baixo que pareça.Não está ouvindo nada agora?
Isso, encoste bem na cadeira, não puxe os eletrodos, preste atenção nas luzes vermelhas que passam no painel, sem mover a cabeça e sem piscar.
Olhe fixamente na luz até ela sumir da tela preta e volte o olhar quando outra surgir no canto direito.
Agora você pode ficar um tanto tonta, vou girar a cadeira para ver como está seus reflexos.
Qual o nome da fruta que mais gosta? E a de que não gosta?
Você estuda onde? Onde trabalha?
Agora deite , vai soprar um vento gelado no seu ouvido esquerdo, e você pode ficar ainda mais fraca.
Qual o nome da revista?
Você tem namorado? Ah, é bom ficar solteira né, você é nova...
Bom, agora ouvido direito,você pode sentir o corpo mover-se para o lado esquerdo, mas fique calma.
Fale o nome de um garoto que você gosta.
E de uma garota.
O que você sente agora? Muita tontura?
É a mesma sensação que costuma ter?Mais forte...
Parecia que estava bêbada, saindo de uma sessão espiritual, em que o pai de santo vestido de branco, no caso a médica, estava querendo saber detalhes da minha vida, desde a fruta que eu gosto até como está minha vida amorosa. Mas sei que estas perguntas “óbvias e fáceis de responder” eram para me manter acordada, pois eu estava quase desmaiando,na fase lisérgica do exame.
Tentei me sentir bem quando ela pediu para eu abrir os olhos, olhar para o teto branco e imaginar qualquer imagem que me viesse à mente.
Mas em seguida, ela pediu para que eu abaixasse a cabeça e ficasse alguns segundos assim, até eu voltar ao normal.
Naquela cadeira mais alta, com todos aqueles eletrodos na minha cabeça, me senti como uma nova criação da medicina.Alguma anomalia humana, ou um ser muito perigoso para a sociedade. Talvez eu levaria alguns choques ainda, porque a cadeira era idêntica àquelas usadas para criminosos indiciados a pena de morte.
No final do exame, ela me entrega o envelope, que deve ser levado ao meu medico no dia da consulta.
Na conclusão estava:
“Síndrome Vestibular Periférica Irritativa Bilateral”
Pesquisei na internet e achei isso: “Os pacientes com SVPIB apresentam prejuízo na qualidade de vida, em relação aos aspectos físicos e emocionais.”
Bom, não vou tirar nenhuma conclusão até a próxima consulta, mas acho que depois disso eu seja isolada do mundo, ou alguém descubra enfim, que eu não sou daqui, e me mande de volta ao meu planeta de origem.
Wednesday, October 04, 2006
Dorme em paz...

Todos podem agora descansar.
Com luzes acesas ou rádio desligado.
No silêncio e com as cortinas amarradas.
Ao latir dos cães e com os pés para fora do lençol.
Não leva muitas horas do dia e ainda renova a pele.
Ajuda no raciocínio e pode até reduzir alguns quilos.
Tudo isso é de graça e não precisa de muito.
Uma cama, um colchão, um muro, uma rede...
E o que resta para todos é somente isso.
Para o pai que vê o filho passar fome, alivio.
Para o milionário que não tem sono, desespero.
Para quem não tem nada, mas o suficiente, a falta.
Tuesday, October 03, 2006
Íris

Vejo as placas de transito, igrejas, oficinas e de compradores de ouro.
Vejo o fim de rua quando ela começa.
Vejo a fome descalça com um bilhete na mão.
Vejo a sujeira quando tudo está limpo.
Vejo a conclusão de um muro inacabado.
Vejo o desenho da fumaça.
Vejo o medo nos sorrisos.
Vejo a pressa dos pés imóveis.
Vejo o tempo passar nos papéis que se movem no chão.
Vejo o som quando leio.
Vejo cenas em azulejos bicolores.
Vejo luzes nas calçadas úmidas pela chuva.
Vejo a sombra antes de mim.
Vejo o sono quando o sol é refletido na TV do meu quarto.
Vejo conversas entre cabeças.
Vejo coragem na sutileza.
Vejo sobras onde falta.
Vejo listras entrelaçadas.
Vejo o mesmo quando surge.
Vejo desespero nas costas retas.
Vejo brigas entre abraços.
Vejo passos quando escuto.
Vejo chuva em seus cheiros.
Vejo insegurança em regras.
Vejo tudo, e isso cansa todos os sentidos.
Monday, October 02, 2006

Loja de Departamentos
E quando está triste, ela gosta de comprar roupas para crianças que não tem.
Olha cada peça e suspende no ar pra ver como fica.
Ursinhos de pelúcia, sapatos, bolsas de todos os tamanhos, macacões rosa, azul claro e amarelo.
Cores tão suaves, nada chamativo.
Como se os bebês não fossem um dia se deparar com o que há de gritante no mundo.
Vasculha todas as seções.
Agora tem até mini casacos de tricot, aqueles na altura da cintura, para crianças de quatro anos.
Chega a ser engraçado, mas de péssimo mau gosto vender modelos de mulheres adultas em tamanho mini. Não gosta, mas depois disso volta para os rosas.E para menina é ditador: a tonalidade impera pelos cabides.
Como a sua mãe a vestia sempre de vermelho?Lembra que ela mesma costurava suas roupas. Colete, shorts, camiseta, saias, calça de moletom. Tudo na mesma cor ou com o tom em detalhes.
Vai até a farmácia com seu vestidinho rosa embalado para presente.
Pergunta para o garoto do caixa:
-Tem cartão para a Vivo?
-Tem só de 21 e 35.
-Vinte e um!!!?? Como assim..!!?!
-É por causa da promoção dos torpedos... Sabia que meninas que tem o cabelo vermelho não costumam se abalar com nada? Se joga, gata! Vai o de 21 mesmo?!
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