Wednesday, August 30, 2006
Mas não é só de suicídio que figuram os mortos desse mês: Em Agosto de 1888, morre Mary Ann Nicholls, primeira vitima confirmada de Jack, o Estripador.
No ano de 1997, a princesa Diana, sofre um acidente terrível de carro depois de uma perseguição de um paparazzi.
Apesar de todas essas tragédias, no mês de agosto não houve em sua maioria óbitos de pessoas públicas, mas nascimentos, como de Calígula, o famoso Imperador Romano.
Há alguns anos, em 23 de agosto, bandidos assaltaram um banco em Estocolmo na Suécia, e as vítimas mulheres, casaram posteriormente com os respectivos. Desse episódio ficou conhecido a "síndrome de Estocolmo" termo utilizado por psicólogos que definem a patologia de algumas pessoas estarem propensas à "paixão bandida".
Para se ter idéia de como toda a desgraça começou, os romanos acreditavam na existência de um dragão enorme, horrível, que, cuspindo fogo pelas narinas, passeava no céu durante todo o mês de Agosto.
As mulheres portuguesas não casavam nunca no mês de agosto, época em que os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Casar em agosto significava ficar só, sem lua-de-mel e, às vezes, até mesmo viúva. . Na cidade de Nova York, no dia 6 de agosto de 1890, o primeiro homem foi eletrocutado numa cadeira elétrica.
No dia 1º de agosto de 1914 começou a 1ª Grande Guerra Mundial. Em 2 de agosto de 1932, Hitler assume o governo da Alemanha. Mais de duzentas mil pessoas morreram nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, quando as cidades de Hiroshima e Nagazaki foram destruídas pela bomba atômica. No dia 13 de agosto de 1961 foi iniciada a construção de um muro, em Berlim... Bom, eu sei, repeti o mesmo texto do ano passado, mas com algumas inclusões na pesquisa...
E um dia antes de completar 25 anos, estou mais negativa do que nunca.
Mas é que acabei de voltar do hospital. Hoje de manhã, em uma das minhas crises alérgicas, eu tossi tanto que travei a coluna. É, a coluna travou. Não conseguia voltar a posição normal e tive que ir ao médico, para tomar inalação e injeção.
Acho que ate amanha dia 31 de Agosto de 2006, estarei melhor.
Porque apesar de toda essa nuvem cinza que paira sobre esse mês, eu nasci no ultimo dia, quando as sombras vão sendo dispersas, e um sol tímido, aparece no horizonte...
Monday, August 28, 2006

Uma garrafa de água pela sede
Um copo de cerveja por um cigarro
Um intervalo por uma fofoca
Um casaco por uma ventania
Uma bronca por um motivo
Um tapa por um descontrole
Um grito por uma raiva
Um beijo por uma vontade
Um passo por um caminho
Uma dor por machucado
Um olhar por alguém
Uma lagrima por uma face
Um acidente por um descuido
Uma culpa por um remorso
Uma tristeza por música
Uma colher por xícara
Uma saudade por pensamento
Um coração por um suspiro
Um susto por uma emoção
Um sorriso por rosto
Uma mesa por jantar
Um cansaço por corpo
Um clique por janela
Uma volta por minuto
Um café pela manhã
Um abraço pelo momento
Uma pista para dançar
Uma lua por noite
Um
Único
Universo
Único.
Não há relatividade.
Quando é um por um.
Pode ser mais.
Mas enquanto dura o momento,
Um é sempre um.
Thursday, August 24, 2006
Foram décadas de espera e finalmente uma das suas obras foi publicada,e seus amigos que não a visitavam há muito tempo iriam até a sua casa, em uma cidade no leste da França.
Ela chegou às escadas, abriu a leve porta com algum esforço, porque naquela época do ano, alguns blocos de neve entravam na cozinha, por baixo da porta.
Colocou sobre a mesa as sacolas das compras e foi até o bar no sótão, pegar uma garrafa de whisky Glenfiddich 21 anos.
Quando subia a escada de cascalho cinza, olhou para o fundo da geladeira aberta, e viu que havia umas cinco garrafas daquelas vazias no chão.
Pensou em agachar rapidamente, mas logo puxou seu casaco verde musgo e fechou, como se estivesse se conformando da perda da resistência física e muscular.
Ela conseguia esticar o braço até o fim da mesa de madeira pinhão para pegar o seu cigarro. Enquanto o isqueiro tentava acertar uma chama ela olhava de novo pra baixo da geladeira e do armário do lado, e lembrava de quando uma dose de whisky daquela era tão cara para os seus poucos trocados que carregava sempre em uma bolsinha de mão preta, pelas ruas de um outro país.
Sentou com um pouco de cansaço e colocou a base da palma da mão direita sobre a testa, com o cigarro já acesso entre os dedos. Assim sempre fez quando tentava achar a solução dos seus tantos problemas .Alguns reais, outros rondavam ficcionalmente aquela mente tão confusa e infantilmente madura.
Percebeu que nada havia mudado ali dentro, apenas as garrafas, que ficavam ali, sem ninguém reclamar do quanto estava bebendo ou de quanto tinha gasto.
Assim adormeceu, e despertou com algumas luzes do sol que se refletiam pelas arestas da sua grande janela, e a faziam tossir compulsivamente por 5 minutos seguidos.
As janelas que ela tanto amava agora a atacavam com punhais de uma estrela não tão bem quista desde os dias de sua juventude.
Apoiou as mãos frágeis sobre a mesa e foi andando até a sua cadeira de madeira naquela sala escura e displicentemente iluminada.
Abriu uma fresta da cortina e ficou atônita de como a temperatura havia mudado de um dia para o outro.
Andou até o corredor para ler novamente um dos seus livros esquecidos na estante empoeirada.
Passou por algumas páginas e lembrou que sempre foi ranzinza, mesmo quando suas palavras pareciam sorrir.
Devolveu o livro naquele monte de pilhas de pó e preciosidades e resolveu tomar um chá antes de receber os amigos.
E a sua intuição voltou a funcionar: foi só pensar naqueles que dividiam a sua volúpia em anos retrógrados, que logo ouviu as vozes a chamando na sua porta.
Passou pelo corredor dos livros empoeirados e a crise compulsiva da tosse voltava com muita força. Sem conseguir olhar para o chão pelos espasmos, não percebeu que uma garrafa de whisky vazia estava sobre uma pedra de neve e gelo, que haviam adentrado pela sala na noite passada, quando deixara a janela aberta.
Mas o sol, que tanto a perturbava pelas manhas, derreteu aquela frieza, e quando encostou seu chinelinho de tafetá vinho na garrafa, a tosse a confundiu e ela escorregou, batendo a cabeça no vidro da porta da sala, e caindo brutalmente no chão das escadas.
As pessoas inconformadas depois da tragédia comentavam entre si: as garrafas realmente mudaram o rumo de sua vida ...
Monday, August 21, 2006

…E na infância ela gostava de fazer montinhos de arroz. Molhava com o suco e criava montanhas de gelo imaginárias.
Conversava com o boneco de neve quando, no mesmo montinho, colocava pedaços de almôndega para ilustrar a boca e os olhos dois grãos de feijão preto. No centro, um pequeno pedaço de cenoura, representava um nariz congelado, quase vermelho, ainda laranja.
Sempre roubava do armário aveia Quaker e adicionava água, dizendo que era um novo tipo de cosmético para o rosto de suas bonecas.
Misturava vários tipos de refrigerante para ver que cor ficava no final. Isso tudo dentro de uma garrafa, deixava em cima da mesa e abaixava o rosto nessa altura, imaginando que as cascas de pão francês que ficava embaixo da garrafa, eram pessoas lá dentro, dançando em uma espécie de submarino moderno, com o patrocínio da Fanta ou Crush, na época.
E a mãe sempre brigava, e tentava convencê-la que as brincadeiras com a comida deviam se restringir às palavras e frases criadas com as letrinhas coloridas da sopa.
Mas ela ia além, e continuava a brincar com todo tipo de alimento...
...Hoje, seus romances não duram muito tempo...
Friday, August 18, 2006
Achei que eu já havia me superado...
SÍNDROME DE RILEY-DAY
As vítimas dessa doença não sentem dores, mas ficam muito mais sujeitas a sofrer acidentes porque param de registrar qualquer aviso de dano nos tecidos do corpo, como cortes ou queimaduras. Sem o aviso de perigo que a dor proporciona às pessoas comuns, a maioria dos doentes com a síndrome de Riley-Day tende a morrer antes dos 30 anos, por causa de ferimentos.
SÍNDROME DE COTARD
Depressão extrema, em que o doente passa a acreditar que já morreu há alguns anos. Ele acha que é um cadáver ambulante e que todos à sua volta também estão mortos. Em casos extremos, o sujeito diz que pode sentir sua carne apodrecendo e vermes passeando pelo corpo... Na fase final, a vítima deixa até de dormir e sua ilusão pode efetivamente se tornar realidade. Apesar de depressivo e certo de que está morto, o doente, contraditoriamente, também pode apresentar idéias megalomaníacas, como a crença na própria imortalidade.
MALDIÇÃO DE ONDINA
O nome é uma referência a Ondina, ninfa das águas na mitologia pagã européia. A doença faz com que as vítimas percam o controle da respiração.Se não ficar atento, o sujeito simplesmente esquece de respirar e acaba sufocado! A síndrome foi descoberta há 30 anos e já existem cerca de 400 casos no mundo. O sistema nervoso central se descuida da respiração durante o sono e o doente precisa dormir com um ventilador no rosto para não ficar sem ar!
PICA
Esse nome também estranho não tem nada de pornográfico: pica é uma palavra latina derivada de pêga, um tipo de pombo que come qualquer coisa. A síndrome faz exatamente isso: a pessoa sente um apetite compulsivo por coisas não comestíveis, como barro, pedras, tocos de cigarros, tinta, cabelo... O problema atinge mais grávidas e crianças. Após comerem muita porcaria involuntariamente, os glutões ficam com pedras calcificadas no estômago.Em 2004, médicos franceses atenderam um senhor de 62 anos que devorava moedas. Apesar dos esforços, ele morreu. Com cerca de 600 dólares no estômago...
SÍNDROME DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Doença que provoca distorções na percepção visual da vítima, fazendo com que alguns objetos próximos pareçam desproporcionalmente minúsculos. O distúrbio foi descrito pela primeira vez em 1955, pelo psiquiatra inglês John Todd, que o batizou em homenagem ao livro de Lewis Carroll. Na obra, a protagonista Alice enxerga coisas desproporcionais, como se estivesse numa "viagem" provocada por LSD. As vítimas da síndrome também vêem distorções no próprio corpo, acreditando que parte dele está mudando de forma ou de tamanho.
SÍNDROME DA MÃO ESTRANHA
"Minha mão agiu por conta própria..." Essa desculpa usada por alguns cafajestes pode ser verdadeira. A síndrome em questão alien hand syndrome, em inglês faz com que uma das mãos da vítima pareça ganhar vida própria. O problema atinge principalmente pessoas com lesões no cérebro ou que passaram por cirurgias na região. O duro é que o doente não presta atenção na mão boba, até que ela faça alguma besteira. A mão doida é capaz de ações complexas, como abrir zíperes... Os efeitos da falta de controle sobre a mão podem ser reduzidos dando a ela uma tarefa qualquer, como segurar um objeto.
*descrições das síndromes por Marcelo Bortoli.
Thursday, August 17, 2006

...E agora é só você aqui.
Pra subir essas escadas, e apagar todas as luzes. Fechar a porta do corredor, da sala e do quarto.
Para reclamar consigo mesma, do barulho que faz quando chega.
Ninguém mais vai bater na parede ao lado ou gritar. Porque não tem ninguém no cômodo ao lado.E no seu quarto já se foram dois há muito tempo.
Ainda há o mesmo casal, deitado no quarto da frente.
Mas hoje, depois de uma semana do portão fechar, você percebeu que está, de uma vez por todas, sozinha. Você ficou por ultimo.
Eles passaram, e nada mais volta, embora não pudesse ser diferente, você se espanta.
E uma súbita e estranha carência faz voltar imagens à sua mente.
Cadeados no guarda-roupa.
Bebidas indo pelo ralo.
Lágrimas compartilhadas.
Cartões de natal pedindo desculpas.
Sessões de filme sábado à tarde.
Pudim de leite moça.
Hematomas.
Barulho de salto pela escada.
E como foi difícil eu acostumar a dormir sozinha naquele quarto.
Porque sempre tinha alguém para apagar a luz pra mim, e a perguntar no meio da noite se tava tudo bem quando eu gritava enquanto tinha um pesadelo.
Tinha alguém pra me defender nas brigas do colégio.
Tinha outro alguém pra me dar de presente roupas roxas desde criança.
Pra me inspirar com seu cabelo raspado e suas roupas estranhas.
Pra me assustar como no dia em que tentou ir embora de vez.
Você vestia um roupão amarelo, e não saia daquele quarto cinza... que assim continua, mesmo quando abro a janela.
Você sorriu e disse:
-Está tudo bem, vai ficar tudo bem.
Eu tinha 8 anos ou menos e vi você acabar com seu estoque de calmantes.
E agora você diz a mesma frase, só de olhar pra mim, enquanto desabafo todas aquelas coisas que esquece às vezes.
Já você me faz falta pelo equilíbrio que eu nunca tive.
E mesmo quando eu te achava fria, eu tentei ser igual você.
Eu queria ter controle das coisas, ou ao menos parecer, assim como você. Saber de todas as respostas, não demonstrar desespero, ter voz firme pra falar o que as pessoas precisam ouvir, até o fim, sem perder o rumo da discussão.
Eu lembro de você pelas músicas que ouvia, pelos filmes de terror e desenhos.
Eu lembro de você quando conheço pessoas muito calmas, que me transmitem segurança.
Eu lembro das suas mãos frias e suadas, mas que eram mais seguras que qualquer coisa para mim.
E o ultimo, já me faz falta, por mais esquisito que pareça esse sentimento, depois de tudo... Todas as palavras não ditas, todas as conversas que não tivemos, vão ficar aqui, na minha memória. E eu vou lembrar delas , como se tivessem acontecido, para eu nunca, esquecer de você.
Tuesday, August 15, 2006

Sobre o nada
Uma garrafa de água, um copo grande de café.
Fica pensando no dia, as coisas para fazer, e tenta descobrir por onde começar.
Lembra de pessoas, frases, a cabeça dói e a internet saiu do ar de novo.
As mãos suam, e ela lembra do café. Ele esfriou, mas até que é bom assim.
Consegue tomar de uma vez, sem se preocupar em queimar a língua ou esquecer dele de novo, ali do lado.
As coisas instantâneas são um remédio para os ansiosos. Não tem um período, nem intervalos, só o imediato.
A internet não voltou.
Já está uma hora atrasada então resolve olhar para a mesa.
Mas ela não consegue terminar o texto.
Tinha como costume, escrito algo na noite anterior, e obviamente, pela manhã o que lê já não é o mesmo que pensa agora.
Talvez porque não deva ser declarado assim, o que passa em sua cabeça enquanto o sono não vem.
Sempre foi assim, desde criança.
Aqueles diários que declaravam uma distância do mundo, dos brinquedos, dos pais, da escola.
Eles ainda estão guardados, ali, em alguma gaveta.
Às vezes relê e se assusta em ser tão mutável e ao mesmo tempo continuar a mesma.
Ontem havia sonhado com alguém questionando os seus textos vazios e dispersivos.
Questionavam até quando teria versões do mesmo tema.
Ela dizia que enquanto a dor existisse, haveria o que escrever.
E , nos dias em que ela cessasse, falaria sobre as dores dos outros.
Porque a alegria não produz livros. Ela se esgota em si mesma, e não questiona o seu estado de espírito.
Por mais completa uma obra pareça existe sempre alguém do outro lado carregado de angustia.
E ela aprendeu que a angustia não é negativa.
A angustia incita a criar fôlego, a dizer algo, a mudar as coisas que não constroem.
Há sempre uma problemática dentro de cada um tentando achar a superação.
E a página em branco ainda não termina.
Tem dias que o que vê é só esse espaço.
Mil palavras se esgotam em sua alma e nada sai.
Há tanto o que se dizer, e milhares de possibilidades de frases, mas não se libertam.
A água esquentou e os dedos ainda estão no queixo, que mira para a tela do computador, inquieto, e inerte.
É essa a hora de uma mudança brusca de pensamentos para não se prender.
Não precisa mais de confusões, nem emoção, nem barulho, e tampouco cortes ou quedas.
Nem palavras talvez.
A página está chegando ao final e a morbidez volta a sua mente. Ficar sem falar por uma semana, duas semanas talvez, seria o ideal.
Não pronunciar uma palavra, não emitir um som... Ficar aqui dentro, pra tentar recuperar as palavras perdidas.
Mas o mundo lá fora grita, e assusta todas as conjunções, que se embaralham num esforço contínuo para dizer algo lógico e sem sentido...
Monday, August 14, 2006

A perturbação esconde toda a paz e dá lugar àquele sorriso.
Quero correr, mas preciso ficar aqui, sob o ar.
Como olhares gélidos...
Como tudo que é estranho, e normal.
Como tudo que se esconde, e explode nos seus olhos...
Já é tarde, e agora você precisa calar todas as vozes, que silenciosas te dão subterfúgios...
Mas qual a distância?
Entre a loucura e a sanidade...
Egoísmo e altruísmo...
Liberdade e prisão...
Amor e ódio...
Doçura e maldade...
Estão todos intrínsecos e parecem não se diferenciar na multidão.
Friday, August 11, 2006

Algum lugar
A cidade vista daqui do alto do Masp parece tão pequena...
São tantos prédios e os carros com suas luzes apressadas por entre pontes e viadutos me causam conforto.
Poderia ficar aqui a noite toda. Prestando atenção em pessoas correndo apressadas, atravessando fora da faixa, motoristas fazendo retorno na rotatória, garotos com suas balas todas iguais no farol.
Dessa vez já não tenho vontade de pular daqui de cima, e ao contrário, sinto medo de cair.
Cruzo as pernas e deixo só uma dependurada no muro, que abriga casais de todo tipo, grupos que se unem por fumaça, e mendigos procurando um apoio pra dormir.
Sinto cheiro do vento, que não anuncia nada: nem chuva, nem poluição. Apenas o cheiro do ar, que em alguns raros segundos aparece puro.
Volto a pensar que isso tudo ali embaixo me assusta em sua grandiosidade que é reduzida aos meus olhos.
Parece que a cidade ficou pequena pra mim e não há como mais eu me perder.
O guarda me chama, eu não escuto.
Me perdi por alguns segundos, mas agora sei voltar.
E assim toda loucura se esclarece, toda confusão se limita em si própria.
Thursday, August 10, 2006
Não dê ouvidos aos ruídos, essa falta de ar
Meu amor, não pense mais em nada
Feche os olhos e as janelas,
Deixe o sono te levar pelo escuro
Ser donzela ou matar mil dragões
Ter cautela ou seguir furacões
Deixa o sono te levar
(...)
Já é tarde pra mais uma rodada
Seus problemas e dilemas não estão mais aqui
Tanto faz ser vítima ou culpada
Abra os olhos e as janelas
Deixe o sol te iluminar
Deixe tudo pra lá
Se teus sonhos vêm na contramão
Se teus monstros vêem na escuridão
Deixa o sol te iluminar”
(Ludov)
Se a vida tivesse botões seria tudo mais fácil: Liga, desliga pausa, voltar alguns trechos ou editar algumas cenas. Sem áudio, com áudio sem imagens, trilha e efeitos sonoros.
Se tivesse uma equipe para dar conta de tanta história, sobraria tempo pra viver também: roteirista, direção, fotógrafo, produção, elenco...
Mas a vida é essa aqui, sem pré-estréia e coquetel de lançamento.
Tuesday, August 08, 2006
Em duas lições práticas
Você chega a uma festa que foi muito divulgada há semanas, mas fica decepcionada com a discotecagem. Várias pessoas dançam animadamente ao som de techno e como se não bastasse a sua cara de nojo, você vira para o seu grupo de amigos e desabafa, enquanto imita os outros que estão na pista:
-Isso aqui ta a cara da Vila Olímpia. Meu, que bosta de som. E olha que eu fiquei tão animada para vir.
A organizadora da festa tinha recebido vocês minutos antes, e falado coisas do tipo “se divirtam” “tem vários gatinhos aqui” “aproveitem”.
- Como eu vou aproveitar aqui? Ai que saco.
Eis que você percebe que a sua amiga tenta se comunicar com uns gestos estranhos enquanto dança na sua frente. E aí você sente alguém te puxar pelo braço e dizer:
- Não ta gostando do som? Vamos lá mudar!
A garota que organizava o evento te arrasta até a cabine do Dj.
E você tenta convencer o dj a mudar um pouco o seu set.
-Ah, eu toquei rock dos anos 80 antes de vocês chegarem.
-Ahhhhhh.. Rock dos anos 80, hum hum. Tem mais “alguma coisa” ai?
-Ah, tem, eu vou tocar então esse som aqui pra você.
-Ah que legal, nossa, não imaginava que você ia ter.
-Bom, mas daqui a algumas “horinhas” porque a “galera” ta bem “animada”.
-Tem um amigo do meu namorado que quer te conhecer. Eu falei pra ele conversar com você daqui a pouco. Você ta vendo ele daqui? É aquele de blusa azul.
-Humm. Não tou vendo.Ah,já sei, vou até o banheiro.
-Viu?...Nem olhou né Suzana!
-Ah, eu olhei, mas de relance, não ia encarar o menino, que eu nem sei quem é direito.
Aí eu sento no sofá da balada para ver o show. E um garoto puxa assunto:
-Você acha o baterista bonito?
-Humm.. (ele deve ser gay) Não, não achei.(longa pausa pensativa) VOCÊ ACHA?
-Acho sim, ele parece comigo.
(Nossa que xaveco mais esquisito)
-Você gostou da banda?
-Não gosto desse discurso. E vira para uma amiga ao lado e discute , em alto e bom som:
-Pra que falar pra pessoa votar nulo? Se todos do país fizessem isso até que funcionaria, mas essa hipocrisia não vai resolver nada, e som punk meio tosco não faz meu tipo e blá blá blá.O garoto espera vocês acabarem e diz:
-Ah... eu gosto...!
Sua outra amiga volta:
-E aí, vocês conversaram?
-Ai meu Deus... Acabei de dar vários foras consecutivos...
-O pior é que o baterista da banda que ele falava é o irmão gêmeo dele...
***
Monday, August 07, 2006
O horário é que nunca combina
Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Quando pego o ponto
Ela termina
Ou quando abro o guichê
É quando ela abaixa a cortina
Eu sou funcionário
Ela é dançarina
Abro o meu armário
Salta serpentina
(Chico Buarque)
Loucura...
Você vai passar, assim como aqueles deslizes calculados que fazia na pilastra.
A vulnerabilidade são luzes que se acendem enquanto dorme.
A fuga não tem sucesso, pois não entende ainda seus motivos, assim, enquanto escapam aqueles sorrisos.
E algum controle surge por necessidade. Mas aqui não tem espaço...para cálculos.
Então talvez ela se interne em um manicômio, na tentativa de um suicídio mental ao menos, para tentar entender como é o mundo lá fora.
Não saber onde começa e termina a razão, talvez seja um dos motivos. Mas ela se acostumou a ver o extremo da razão como loucura, então agora é quase irreversível.
Percebeu com o sol desta manhã, que o melhor era ficar com as palavras, que exprimem toda a insanidade, sem interromper o fluxo normal do sangue ...
Friday, August 04, 2006
-Devo ter, ele ta conservado aqui , dentro de um cubo de gelo.
-Não é possível. Ele nunca bateu por ninguém?Sim, bateu tanto , tanto, que quebrou.Agora conservo ele nessa temperatura.
-Vou te levar ao cardiologista.
Hoje, depois que o despertador do celular tocou umas 7 vezes, acordei com um barulho na minha janela.
A voz da minha mãe , do meu pai e do meu irmão, arrastando algo.
- Não, assim não.
-Por aqui, deixa aqui, é melhor, caramba!
-Ai meu pé!
-Eu falei pra você fazer isso outro dia.
Tentei imaginar o que seria, e a imagem que me veio à mente enquanto fiquei quieta embaixo de 4 cobertores era que eles estavam movendo algum vaso de planta enorme pela área.
Foi quando ouvi um barulho mais estrondoso. Algo muito grande tinha caído.
-AIIIIIIIIIIII MEU DEUUUUUUUUUUUSS DO CÉÉÉÉÉÚUUU...
-VOCÊ É LOOOOOOOOOOOOOOOUCO MESMO !
-Não, tá tudo bem, tá tudo bem , TÁ TUDO BÉÉÉÉM!
Ah, deixa pra lá, o vaso de planta enorme deve ter caído.Ai eu lembrei que não temos vasos enormes de planta.
Levantei correndo com um pensamento mórbido:
-Ai que saco, tive que levantar cedo da cama, acho que alguém morreu.
Abri a janela do meu quarto e vi minha mãe e meu pai levantando uma escada grande do chão e discutindo com o meu irmão que subiu na laje para arrumar uma antena, e acabou derrubando a escada enorme, que na minha imaginação fértil era terra, minhocas , e um vaso enorme de planta.
-A cachorra tá bem?
Ai , que bom, agora posso voltar a dormir.
Thursday, August 03, 2006
Pelas praças, coletivos, cafés, bares e ruas que anda, ela nota alguma necessidade de fuga, que ressurge apenas em uma parte do olhar.
A maioria não assume, nem mesmo quando vão dormir nessas noites frias. Há muita coisa para se fazer no outro dia e não existe mais tempo para se pensar em sentimentos efusivos.
As conversas precisam ser diretas, práticas e interessantes, e não há espaço para tristezas ou lamúrias. Talvez excesso de insatisfação com as suas vidas se torne chato, quando exposto, mas elas precisam nunca demonstrar, mesmo que em alguns minutos de silêncio.
E ela já se acostumou com perguntas sobre seu estado de humor, porque chora, porque pensa, porque precisa caminhar alguns minutos sozinha de manhã, antes de começar mais um dia naquele trabalho que só a entendia, e a deixa mais angustiada.
Nesses momentos não há mais o que reclamar, nem para si, pois por mais difícil que pareça sempre se pode mudar o que não está bom.
Mas ela reflete ali naquele banco um pouco molhado ainda da chuva da noite anterior, a amargura de todos que passam.
A vida é assim, como cantou Cazuza através das palavras de Cartola. Aquela musica que insiste em andar ao seu lado...
Ainda é cedo amor.
Mal começaste a conhecer a vida.
Já anuncias a hora da partida.
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar.
Presta atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida.
Em cada esquina cai um pouco a tua vida.
Em pouco tempo não serás mais o que és.
Ouça-me bem amor.
Preste atenção, o mundo é um moinho.
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos.
Vai reduzir as ilusões a pó.
Preste atenção querida.
Em cada amor tu herdarás só o cinismo.
Quando notares estás à beira do abismo.
Abismo que cavastes com teus pés...
Wednesday, August 02, 2006
“Isso aqui é o depósito dos restos. Às vezes é só resto, ás vezes vem também descuido. (...) Conservar as coisas é maravilhoso. Lavar, limpar e usar mais, o quanto pode. As pessoas têm que prestar atenção no que elas usam no que elas têm. Porque ficar sem é muito ruim.”
“Eu sou perturbada, mas lúcida. Eu sei distinguir a perturbação.”
“A solução é o fogo. Queimar tudo e pôr outros seres no lugar. E eu to dentro, pode queimar. Se for para o bem, para a verdade, pela lucidez de todos, eu posso ir agora, neste segundo.”
“Sabia que tudo o que é imaginário existe, e é, e tem?”
Essas frases são de Estamira, uma catadora de lixo com problemas psiquiátricos (ou sem problema algum), que virou personagem em um documentário de Marcos Prado, estreado no final de Julho, e que já ganhou 24 prêmios em festivais no Brasil e exterior.
Seu Jorge Parte II
Ontem depois de ler uns textos do Seu Jorge e ficar impressionada com a poesia, a lucidez ou a falta dela em algumas palavras que poderiam ser difíceis de surgir no seu vocabulário, quis ajudar de alguma forma. Divulgar seus escritos, conseguir fazer algo por ele, não sei...
- Ai eu queria tanto ajudar ele...
- Ajudar como Suzana? Levar ele pra sua casa? Fazer um filme com ele? Esse “assunto” já ta batido, ninguém quer saber mais.
E é verdade. Ninguém mais se interessa em historias de sobrevivência, nem como vivem pessoas na rua. A mídia já aprofundou tanto o assunto que não é mais novidade e não mais sensibiliza. A gente assiste a esses casos agora como se fosse um filme dramático qualquer.
E hoje, por coincidência ou não,quando li sobre essa mulher aí das frases acima tive a certeza que o assunto se excede, mas sempre haverá pessoas mais normais que o resto dos humanos pra jogar as verdades na nossa cara.
E essa realidade me traz uma estranha combinação de conforto e inquietude.
Tuesday, August 01, 2006
Mallboro Light
Esse produto é contra indicado para homens ou garotos que pegam no pé e ligam no dia seguinte dizendo que está com saudade.
Conseguiu uma parceria com a empresa de comunicação Nextel e ganhou o slogan “Esse é o nosso jeito”, depois que mostrou estar sempre antenado ao cotidiano.Cotidiano aliás que virou a trilha sonora da sua campanha, já que promove almoços em famílias e cuida das crianças.
Qualificações : Um grande compromisso com o meio ambiente.
LM
Esse produto é contra indicado para garotos que gostem de heavy metal e que circulam em bando de manha no Viaduto 9 de Julho.
Em alguns momentos parece muito nocivo ao usuário, mas os seus baixos teores de maldade o faz um produto de altíssima confiabilidade.
Conseguiu uma parceria com a cachaça 51 e com a Petybon, e desde então vem promovendo muitos eventos regados a caipirinha e macarrão penne.
Qualificações : Teores altamente confiáveis.
Free
Esse produto é contra indicado para mendigos ou assaltantes que desçam correndo ruas perigosas de madrugada à procura de uma mocinha indefesa.
Conseguiu uma parceria com todas as fornecedoras de vodka do mundo, mas há algumas semanas estuda algumas propostas dos distribuidores de Gin.
Muitos menosprezam o seu poder devido o tamanho reduzido, mas é capaz de manter o seu efeito alucinógeno depois de muitas horas da noite.
Qualificações : Muitos usuários relataram sensações de alegria instantânea.
Free Light
Produto instável, imprevisível e estranho. Pode causar súbitos ataques de suicídio ou homicídio, dependendo do usuário.
È contra indicado se ingerido concomitantemente com os compostos citados acima.
Os efeitos relatados após essa mistura foram:
Inquietude, ansiedade, loucura, felicidade momentânea, amor, paixão, carinho, afeto, solidariedade, ressaca, companheirismo e alegria suprema.