Garota dos olhos

Ontem no meio da multidão avistei uma pessoa que tentava se esconder, a procura de alguém. Todos que estavam do meu lado,inclusive a quem ele tentava achar, não o viram.Eu fiquei bem pela felicidade momentânea da minha amiga por essa visita, apesar da angustia do não encontro.
Depois no ponto de ônibus a metros de distancia e algumas 30 cabeças na minha frente, vejo uma pessoa com quem eu sempre preciso conversar.
Isso foi alguns dos fatos que só reforçam essa minha visão de raios-X e esses meus olhos de coruja!
Como alguns já sabem e outros devem suspeitar, eu tenho menos 15 % de audição no ouvido esquerdo.
E isso me atrapalha algumas vezes. Porque na maioria das conversas a longa distancia ou com muito barulho ao redor quando eu não falo no ouvido da pessoa, eu falo alto .E há pessoas que falam muito, muito baixo.E eu tenho que ficar encontrando infinitas formas de retomar algumas palavras perdidas com uma dialética irritante como “O que?” “Oi?”
“Desculpa, não entendi?”“ Hã?” “Hummm?” “Eu sou surda mesmo, fala de novo?”.
Mas o que isso tem a ver com encontrar pessoas no meio da multidão?
Simples de entender... Quando se tem uma deficiência, outros sentidos são mais aguçados.O cara que tinha problemas mentais desenvolveu grandes obras de arte com o seu pé esquerdo!
É claro que eu não vou ser convidada para o FBI ou alguma rede de inteligência que procura criminosos a milhas de distância ou para tentar localizar corpos desaparecidos por baixo da terra.
Mas alguns fatos na vida, por mais estranhos e infelizes que sejam, iluminam outras áreas e no meu caso, literalmente...
Presto tanta atenção no visual ao meu redor que vejo o que ninguém vê.
Percebo tanto as pessoas que em alguns momentos chego a ler o que os seus lábios dizem.
Acabei me interessando muitas vezes em observá-las somente, porque algumas quando conseguem ser escutadas, não dizem o que eu quero ouvir.

A contradição é uma cabeça de duas faces..

Estava ali atônita em frente ao computador, e não conseguia soluções. Talvez fosse preguiça ou o sono que nunca se extirpava. Às vezes olhava para o corredor e sorria brevemente para alguém, ou então resolvia fumar no corredor enquanto ouvia histórias inesperadas.
As unhas curtas quebravam com facilidade e o esmalte saia junto aos poucos. Dessa vez era lilás, e ela gostava dessa cor, apesar de não usar muito.
A rinite atacava novamente e a dor de cabeça tinha voltado essa manhã. Um pouco de café pode ser bom,já que Neosaldina também contém cafeína...
A fumaça dos cigarros das outras salas incomodava.. E ela se irritava com os outros fumantes.
Muita gente fala alto e ao mesmo tempo ... E a dor aumenta..
Já é quase hora do almoço, mas uma bala não pode tirar sua fome.Apesar de não gostar muito de doces, principalmente de balas.Gosta de sabores azedos como maçã verde e limão.Uva não é amarga e ela gosta também, mas o sabor artificial nunca é bom.
Perdeu-se por um momento olhando para os prédios pela janela da frente... Um rapaz talvez pensou que ela estivesse o mirando..Mas ao perceber isso voltou para a tela do seu computador, um pouco indignada por não poder focar o seus olhares sem direção.
As mesmas noticias surgem, mas ela não sabia se precisava de novidades. Tava tudo tão confuso que não havia espaços ou o problema era ela, que não arrumava espaço para todas as coisas.
Algumas pessoas gritam, e a dor de cabeça voltou.
Precisava sair para o almoço, o sol da praça talvez fizesse ela se sentir bem.

Da série “Ditos Populares”

Deus não dá asas às cobras porque elas já possuem.

Você já deve ter escutado essa frase na versão original tantas vezes,e chegou a se confortar que se Deus existe,arrumou uma fórmula de impedir que as cobras voassem na natureza e metaforicamente.
Mas é só olhar para esse mundo de seres tão ínfimos, para perceber que existem anomalias.
O dilema é se o que deveria ser descartado no processo de criação somos nós ou as cobras voadoras.
Porque tem seres humanos que parecem viver seguindo os preceitos de um mundo particular arrogante.
E o que questiono, é se estou no lugar errado, eu que deveria estar fora daqui, em outra órbita, que não é terrestre.
E as cobras com suas asas gigantes dominariam o planeta, com todo o seu poder de ganância e tomariam conta de tudo, assim como ditam os regulamentos humanos de convivência .
E aí sim, aqui seria um lugar ideal para se reunir em discussões sobre as conquistas materiais,e o ganho de um espaço cada vez maior , com a exclusão dos menos favorecidos, no caso aqueles que não tem asas ou dinheiro para comprá-las.
Além de um acúmulo de sonhos tão mesquinhos, que agregariam valor em seus egos cada vez mais inflados e perdidos na sua própria ilusão.
Mas por enquanto vivo aqui, sem asas, com grandes sonhos obstruídos e procurando a cura para esse veneno nocivo...

A esperança é a primeira que morre!...

Um dia desses voltando do bar... da faculdade na verdade, peguei um ônibus (....ando falando muito de coletivos ultimamente!) com um amigo que se encontra em uma maré de azar , segundo ele.
O carro que ele tinha comprado quebrou depois que um motoqueiro surgiu na sua frente.
Acabou perdendo a direção e atropelando o cara, que está bem agora, ganhando apenas uns arranhões. Aí ele arruma outro carro ,que acaba sendo roubado, mas recuperado no mesmo instante.Ao ver o veiculo que havia deixado estacionado na rua passar em sua frente em alta velocidade, saiu correndo atrás por impulso, e de repente o cara bate no poste! Depois de uma discussão com o bandido, conseguiram recuperar o carro, quebrado.
Além desses danos materiais, outros problemas sérios aconteceram simultaneamente, mas não vem ao caso eu falar sobre eles aqui...
Meu amigo, pasmo com todas as coisas que estava acontecendo ao mesmo tempo com ele, parou de beber e fumar, começou a freqüentar a Seara Bendita, instituição espírita, e a se interessar pelos cultos religiosos do Santo Daime, uma doutrina que mistura cristianismo com espiritismo, xamanismo e ritos tribais.
Agora ele diz que está bem, mais leve, e acha que tudo isso vai passar, mas acredita que o azar manifestou toda a sua força nesses últimos dias na vida dele.
Eu, que sou a pessoa mais pessimista da face da terra, falei que ele anda com muita sorte e devia ter mais esperança das coisas melhorarem.
Porque parece que algumas coisas precisam acontecer para dar um novo rumo a sua vida. Não é papo cabeça de pessoas que se dizem espiritualizadas.Minha alma inclusive vive perdida por aí, sem direção, cometendo infortúnios.
Mas o cara que ele atropelou podia ter morrido, o bandido podia ser um bom piloto e não ter ido parar no poste, ou então, poderia estar armado e matar todo mundo.
Acontecimentos mais negativos, simples para eu conseguir imaginar...
Mas se você perde a esperança, as outras coisas também vão junto.
Porque não existe uma pessoa frustrada na vida,que ainda tenha um vestígio de esperança,mesmo que ouça palestras motivacionais, que passe por uma regressão ou freqüente ritos para reafirmar sua fé.
Quando se perde a crença que algo ainda pode dar certo, se perde tudo...
Se a esperança morresse no final de tudo, a pessoa não teria se tornado desanimada com a vida e seus destinos..Ela não abandonaria nada e seguiria o curso da sua sorte.
Quando as esperanças se esvaem antes de qualquer coisa passamos anos a esmo, como se fossem perdidos.
Mas na maioria das vezes, em algum momento da vida, ainda conseguimos recuperar alguma seqüela de força e voltar a segurar as coisas que realmente são importantes na nossa vida, como a esperança ...

No ônibus hoje de manhã…

Ao passar pelo corredor sempre tento escolher bem um lugar para sentar.
Quando está vazio, olho para o fundo e fico atônita em direção aos últimos bancos antes da porta, aqueles mais altos, que dão um ar de superioridade em relação aos demais passageiros durante a viagem. De lá dá para ver tudo...A rua e os passantes com mais detalhes e também as caspas e camisetas furadas das pessoas que sentam no banco da frente.
Mas em um instante lembro do assalto que eu passei bem no meu lugar favorito do ônibus, e decidi desde então sentar no primeiro banco, grudada no cobrador.
Hoje era dia de optar com quem sentar, pois em todos os bancos duplos havia alguém no lugar da janela. Nesses casos enquanto passo pela catraca, olho para todos os seus rostos, e tento imaginar quem poderia me encher o saco no meio da viagem, olhando para o que eu leio, ou tentando puxar assunto sobre o transito, o tempo , assassinatos ou acidentes.
Ah, uma velhinha com casaquinho e toquinha de tricô! Velhos em ônibus geralmente são chatos, mas eliminei esse preconceito, pois ela me parecia tão amável e silenciosa.
No instante que eu sento ela começa a falar algo, mas para si mesma, ao mesmo tempo em que move a cabeça para os lados e gesticula as mãos, indignada.
Loucos, eu não tenho medo nenhum deles... Vivem na normalidade de um mundo próprio e se assustam com essa estranheza do nosso cotidiano, nada mais natural.
Mas depois de uma meia hora a mulher deu um pulo do banco...
-É aqui? É aqui a Marginal?
Silencio tedioso... E ninguém responde a pobre senhora que perguntava aos ventos.
-Não, ainda não.
-EU PRECISO DESCER NA VERBO DIVINO!
-Ah, a senhora desce no ponto do Carrefour, e volta uma rua. Eu aviso quando tiver chegando.. vou descer depois mesmo.
-Ah tá... brigada... É porque a fulana me falou que era para descer no ..e bla bla bla...
Esse trânsito de hoje tá muito...... e eu achei q não ia estar tão frio assim e.....
Mas aí eu tinha parado de andar de ônibus sabe, porque essa violência minha filha... (Algumas coisas eu realmente não consegui ouvir, pois desliguei o meu senso de percepção a coisas externas)
Continuo lendo e me lamentando que a velhinha não era louca.
Mais um pulo..
-É AQUI QUE EU DESÇO:?
-Não, tá longe, calma... Eu aviso a senhora quando estiver chegando..
-Ah ta... brigada...Desculpa, não queria atrapalhar, você tá lendo não é? Hummm.. Informação... É sempre bom né?...Se bem que eu parei de ver o jornal sabe... Tanta desgraça minha filha e bla bla bla.....
Aí uns três pontos antes um cara do lado grita..
-SENHORA, É O PRÓXIMO!
E eu tento consertar...
-É depois de dois pontos, se a senhora quiser ir passando para trás já adianta...
E a mulher dá o sinal.
O moço que tinha orientado antes, ainda tão prestativo grita...
-NÃO TIA... NÃO É NESSE..A TIA VAI DESCER NO PONTO ERRADO HEIN?Hehehe..

"...Ela não consegue relaxar
Ela não consegue nem, nem ao menos dormir...
Ela é tensa só porque seu amor não vive
Em São Paulo, nem em Porto Alegre,
E em lugar nenhum..."
Miss Lexotan 6mg (Jupiter Maçã)


O almoço hoje não tava muito bom..
Mas temos que ir todo santo dia no restaurante do japonês(onde quase nunca tem sushi)pelo acordo da empresa...
A porta da cozinha fica aberta, e aquela fumaça do frango e de qualquer outro ser infeliz que foi frito impregna nas nossas roupas e cabelos...
Não entendo porque o lugar tá sempre cheio, e hoje tava mais ainda.Acho que o frio deixa as pessoas preguiçosas ,que procuram o lugar mais perto para comer, aí andam menos, consomem mais calorias para esquentar e ficam cada dia mais gordas! ...
E por que será que insistem em discutir sobre o tempo?
Quando ocorrem mudanças bruscas de temperatura aí que é o ápice da conversa,todos querem dar a sua opinião sobre os motivos de tais fatores climáticos...
E nada pior que um dia depois do feriado ter que ouvir como foi a páscoa.Que perguntinha mais imbecil e que falta de assunto ...interessante, claro.
Acho que algumas pessoas não pensam, ou esquecem que possuem esse recurso em seus cérebros.
Como daqui a pouco quando pego o trem para a faculdade. Na entrada, aquela multidão se empurra, aos socos e pontapés, e eu espero esses vândalos passarem por mim, e o vagão tá vazio, com lugares para sentar.O desespero é só um mecanismo de defesa natural deles, que é ativado quando encontram outros estúpidos e sem educação em comum.
Para sair é a mesma coisa...Você está na porta esperando para sair e vê um aglomerado de 100 pessoas já se socando lá fora, para entrar. Não é mais fácil esperar todo mundo sair , entrarem em uma fila e aí sim, pegar o trem?Pura perda de tempo....ai ai!..
...É ,e esse texto mal-humorado não fala nada com nada..!Mas é melhor assim...

nossa!esse texto tava parado aqui na bagunça do meu computador..estou com preguiça de escrever sobre alguns fatos..

Um dia desses, numa banca de jornal no vilarejo onde eu moro, procurava uma revista...
Cansada de tentar achar naquela bagunça de títulos pornô no meio de especiais de história, perguntei para a menina:
-Vocês tem a Bravo?
-Ah, temos sim.
A moça me traz uma revista com o título Bravo em letras redondas e coloridas:rosa,amarelo,azul claro...E com uma banda de garotos na capa, estilo B’roz, alguns sem camisa, calça branca agarrada, colares no pescoço, cabelo liso até os ombros, e olhar de sedução.Junto a revista vinha um par de pulseiras cor de rosa. Aquelas conhecidas , de plástico.
-É........ não é essa. Nossa, como pode ter o mesmo nome da outra revista?!.... Vocês não tem a outra Bravo,da Abril?
-Não.A Bravo que eu conheço é essa. Sobre que assunto essa outra fala?
-Fala sobre....É... Deixa pra lá.!Brigada...

Everyday I love you less and less..

Não quero te atingir e nem esperava conseguir ser tão direta assim quando escrevo o que sinto.
Mas quando penso em você sempre surge um enredo de alguma história, mesmo que triste.
O amor sempre gerou obras, poesias e roteiros para filmes, e enquanto caminhar junto com o sofrimento essa indústria nunca vai ter fim.
Porque quando estamos livres de angústias simplesmente vivemos a felicidade e não encontramos pausa para relatar sobre isso, apenas vivemos...
Talvez seja uma forma mesquinha de analisar os motivos que me levam a escrever tanto e sobre mim mesma.
Mas ao mesmo tempo acredito que a alegria sim é mesquinha, ingênua e sem produtividade.
A possibilidade remota de acreditar em um dia em que eu estiver completamente bem, me leva a imaginar que estaria escrevendo sobre o sofrimento do mundo e de outras pessoas.
Porque todo mundo sofre, até os hipócritas que não tem a consciência de sua dor.
Quando esqueço das minhas angustias, lembro das que ocorrem lá fora e elas se transformam
nas minhas dores, e aí volto a escrever. Concluo com isso que então estou falando somente sobre a minha tristeza, mesmo quando não é autêntica.
É muito fácil sermos amados quando temos essa certeza.
É muito fácil, ainda sem fazer quase nada e se emocionar com esse sentimento.
É muito fácil ficar magoado quando percebemos que alguém que nos amava incondicionalmente começa de repente, se distanciar.
É muito fácil, pois não é preciso fazer nada, quando não se quer.
Apenas não me peça para sofrer mais.
Eu não cobro a liberdade disso tudo porque sabe que ainda gosto de você, e isso é o que te causa confusão.
Mas eu só decidi sofrer cada vez menos.
Aqui dentro vai ficar vazio mais uma vez se você demorar, ou nunca chegar. Mas é melhor assim, do que grandes coisas aqui dentro, perdidas e sem direção.

Acho que não quero falar do meu fim de semana...
Apesar de ter sido bom, principalmente domingo, festa do site na Fun House não tão cheia e com a maquina de juke box liberada....!!!

Escrevi na sexta>>>

Aqui dentro

Encontrei hoje pessoas que não via há muito tempo. Algumas me olhavam com saudade e ao mesmo tempo estranheza.Alguém que me conhece diz que eu mudei mesmo tendo conversado sempre comigo.
Talvez o jeito de falar, os olhares, as intenções na vida ou a falta delas.
Mas me pergunto agora aqui sentada no chão desse quarto bagunçado se realmente algo mudou.
Ainda existem pilhas de revistas, mesmo que agora sejam as que nunca quis ler.Alguns sapatos pelo chão...uma revista que eu quero ler, aberta, ao lado de uma caneca vazia e alguns cigarros terminados.
Cobranças do banco, porta retratos derrubados, Cds esparramados, calças na cadeira, gavetas abertas, roupas escapando por entre as frestas, papéis com anotações em meio a cremes, sacolas e embalagens vazias.
Na cama edredons amontoados em cima de bolsas, Dvds,e um livro que eu precisava ler.
Amanhã é sábado , dia de arrumação no quarto, mas até quando ele se mantêm do jeito que eu deixar?
Alguns minutos bastam para eu voltar a ser tudo que sou, de novo.
A mesma pessoa que hoje se questiona porque desiste tão fácil e corre atrás em raras vezes.
O que poderia ter sido em todos esses anos se não tivesse esgotado infinitas possibilidades?...O que será a partir daqui se não resolver sumir e escapar das coisas que insistem em ficar mesmo largadas, esperando que eu vá resgatá-las.
...Ou a mim mesma, daqui de dentro...