
Michê lê Maria.
Ele decidiu um dia mudar de casa,então teve que tirar as paredes esperadas e virou janelas.
Aberta, livre, para a brisa passar sem curvas.
De tanto espaço precisou ir para a rua. E lá fora às vezes é abafado.
Para sair do sufoco é preciso criar vento. Com as mãos.
E saia por ai, a trocar pés.
De tanto entortar as pernas longas sob um salto agulha branco, tornou seus passos tortos.
Andava por aí a gesticular, a tomar a rua com a sua voz rasgada.
Mas pensou muito antes de se dar esse nome.
E o sobrenome sempre foi para lhe proteger. Nome de santa, purificado, homenagem a sua mãe.
Mas ela nunca imaginou que isso a faria forçar a casta, virar puta.
Ficavam as duas por aí andando de mãos dadas, como uma possessão de espíritos bilateral.
E assim todas as vezes que abusava demais da noite que virava dia, entrava em uma igreja, ficava uns minutos sentada e ia embora, mesmo sob olhares assustadores das beatas. Mas isso nunca incomodou: nem putas, nem santas, pacatas.
Horas antes estava lá, a dançar entre os faróis dos carros, divina, e entorpecida, distribuia santinhos.
A maioria respeitou, e alguns até se converteram naquela mesma noite.
Ainda assim, fitaram os seus dedos cor prata de unhas grandes, passando pelas sandálias brancas, as pernas morenas, o volume que não mais existia entre a saia cotton preta, o piercing de brilhantes no umbigo, a blusa dourada, os ombros cavados, os fios pretos, o queixo bem delineado, a boca disforme, até olhar, e desviar.
3 comments:
Meu Deus! Você me mata de orgulho. Precisa fazer um livro dessas ideias maravilhosas.
Su, o texto é lindo. Não tem nada de depressivo. Nada mais triste, pra mim, do que o discurso da felicidade.
Beijo!
Caralho....
Foda, preciso te ler mais Suh...
Urbano mistico
Poético prosaico
Aquela famosa alegria de estar triste... Ou a tristeza de se estar alegre...
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