
A pasteurização nos sentimentos ou sobre como desisti da alta médica
Olhar desoladamente para o infinito com um ar triste, não achar graça em nada, sorver palavras melancólicas ao vento, e assumir que se toma remédios de tarja preta nem sempre ocorreu por real necessidade na vida de muita gente, já que não é só disso que se faz seres humanos problemáticos.
Exceto os casos de superação de traumas complexos, algumas pessoas que se dizem curadas da depressão são mera balela nos atendimentos psicológicos.
Não tenho mérito para falar com propriedade sobre o assunto, mas apenas minha vivência com o “distúrbio” (já que precisamos de rótulos, vamos lá!) me dignifica para refletir sobre o tema. Pessoas depressivas podem estar alegres em muitos momentos, podem tomar partido das suas vidas, e de repente estão só prestando atenção em algo ou raciocinando sobre o que observam. Assim como não se curam do mal com remédios que as levam da euforia ao sono em minutos.
Os médicos, a sociedade, o mundo cientifico tentam em vão curar, achar uma bula, ou um tratamento eficaz que elimine de uma vez por todas tudo que grita em seu corpo para que seja fácil se relacionar com pessoas iguais e com os mesmos sentimentos.
E como é difícil lidar com um louco! Seus devaneios, delírios, olhares repentinos, gestos desenfreados, teorias aparentemente sem sentido sempre confunde tudo que estava definido e em seu lugar.
Os mais conservadores poderão dizer que a depressão é uma doença reconhecida na OMS –Organização Mundial de Saúde-, e que o que estou dizendo é pura conclusão equivocada.
Uma doença. Assim poderia ser entendido os estágios de desequilíbrio nos níveis mais profundos do subconsciente, se este estivesse isolado a estímulos sociais e acontecimentos acidentais ou extraordinários.
Também há um outro fator que está relacionado à transmissão do distúrbio geneticamente. Talvez aqui faça sentido, mas se é esse o caso, analise se as pessoas envolvidas na família reagem da mesma forma a doença. Certamente não, porque cada uma possui os seus motivos próprios, que distanciam também a hipótese dessa segunda tese.
Acho que os seres humanos que crescem extirpando demônios, que se entristecem quando tudo está bem, que pagam o preço pela sensibilidade aflorada não possuem cura, e mesmo que encontrem um remédio ou um jeito de descansarem um pouco as suas cobranças internas e com o mundo, uma hora ou outra a “doença” volta à tona, e assim tudo está perdido, mais uma vez.
Em alguns casos, conseguem canalizar essa ira em obras geniais que geralmente são reconhecidas quando eles desistem de tudo. Mas nem sempre se transforma em produção todos esses complexos mentais. Em ambos os casos, tentar eliminar esse desvio é prova da fraqueza geral do ser humano. Pois como dizia um autor que eu não lembro agora, :“Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que se é”.
3 comments:
é do caetano essa frase.
talvez tudo isso seja só o eu amplificado... pessoas problemáticas atraem para si pessoas de igual nível de ser e por aí vai... psicólogos, às vezes, confundem mais ainda... remédios causam dependência... renato russo disse que o mal do século é a solidão. e eu diria que é a depressão mesmo.
e, no fundo, é tudo a mesma coisa.
e q estranho escrever esse texto enquanto estou feliz...!
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