Wednesday, November 29, 2006

Big Monkeys



São quatro horas da tarde e ela está na rua Oscar Freire voltando de mais um dia de trabalho fútil para a humanidade.
Lembra que há duas bananas na bolsa: não deu tempo de comer desde que as colocou ali dentro pela manhã. Olha pausadamente e o que vê são duas bananas amassadas.
Volta para a rua e se depara com sacolas circulantes dotadas de vida própria: carregam com pressa relógios Mont Blanc, óculos Oskley, carteiras Versace e tênis de grife.
Espera o farol ficar verde para atravessar, e parece que todos os celulares tocam ao mesmo tempo.
A rua está em obras e algumas garotas tropeçam com seus chinelos de pedrarias finas nos tijolos sobrepostos.
Pessoas sorriem em slow motion nos cafés e fazem caretas treinadas ao tomar sorvete de papaia com cassis.
Homens semi-carecas donos de fios grisalhos e ondulados precisam puxar as suas calças beges até o umbigo antes de acenderem um charuto na porta do restaurante.
E ela lembra que há bananas amassadas dentro da bolsa...
Algumas pessoas a encaram entre as travessas e ela não sabe se é sua saia curta ou o barulho do seu salto direito que soltou de novo, e o prego bate na cerâmica da calçada escandalosamente.
Continua caminhando e o fluxo de pedestres parece aumentar. Se tivesse algum pesquisador do IBGE para calcular ela atestaria que muito mais da metade da classe rica da cidade trafegava ali, naquela tarde.
E queria encontrar também um psicanalista para entender como ela e suas bananas amassadas foram parar ali no meio.
Mas o que falta naquele lugar são bananas.
Consistência
Massa
Encefálica.
Aflorando sua contradição nata, vê que por outro ângulo, o que se tem ali são apenas bananas.
Bananas por toda a parte.
O conteúdo é tão frágil quanto as suas cascas.
E são baratas porque qualquer preço as conquista.

4 comments:

Anonymous said...

adorei suh...faz tempo q não lia texto assim no seu blog...hahahahahahahahahaa...olha literalmente eu gostaria de coçar o "saco" e escarrar no chão ali no meio...

e vc trombadinha do jd. angela, com banana na bolsa (porra! banana, não rolava uma maçã não?) e seu sapato infernal andando na oscar freire...imagino o que estava fazendo...o q mais deve te deixar triste é ter q sobreviver e trabalhar para pessoas assim...

beijos

A grávida said...

haushaihsua, eu tb gostei!

sei lá, tenta se divertir ao menos, eis algumas dicas:

- olhar atentamente pra ver quem é rico fino ou quem é rico emergente

- entrar num restaurante, olhar o cardápio, e depois dizer pro garçom: "sabe, avise ao cheffff que não vou comer uma porcaria de uma carne sangrenta, sabe?!!!"...

e por ai vai...

A grávida said...

ah, sim e se ver uma mulher saindo de uma das lojas cheia de sacolas, pode apostar q é rico emergente, pq rico fino sai das lojas só com uma sacolinha discreta, ou seja, rico fino investe, e quando compra conserva por aaaaanos e anos, motivo pelo qual eles adoram se gabar: "comprei este tapete tabriz há 15 anos atrás, veja como ainda está conservado, olha a textura..."

Suzanna Ferreira said...

ahuahuahuauahuahua
capim... pois eh , tinha q ser do jd angela, as bananas sao mais baratas q maças.fora q maçãs eu nao consigo comer fácil por causa do aparelho....e da proxima vez vou começar a dançar maria rita lah no meio..boa idéia..ahahahhaha
e cris, acho q a maior parte dos ricos brasileiros sao emergentes... ricos finos nem batem perna pra comprar pedem para alguma assessora ir comprar...hehe
beijuuuu