Thursday, November 30, 2006



Muito além da bipolaridade

Sinto que estou estranha por um lado, ótima por outro, surpresa na diagonal, repentina na horizontal, e inquieta na vertical vou andando ,eternamente fiel aos meus sonhos ...

Wednesday, November 29, 2006

Big Monkeys



São quatro horas da tarde e ela está na rua Oscar Freire voltando de mais um dia de trabalho fútil para a humanidade.
Lembra que há duas bananas na bolsa: não deu tempo de comer desde que as colocou ali dentro pela manhã. Olha pausadamente e o que vê são duas bananas amassadas.
Volta para a rua e se depara com sacolas circulantes dotadas de vida própria: carregam com pressa relógios Mont Blanc, óculos Oskley, carteiras Versace e tênis de grife.
Espera o farol ficar verde para atravessar, e parece que todos os celulares tocam ao mesmo tempo.
A rua está em obras e algumas garotas tropeçam com seus chinelos de pedrarias finas nos tijolos sobrepostos.
Pessoas sorriem em slow motion nos cafés e fazem caretas treinadas ao tomar sorvete de papaia com cassis.
Homens semi-carecas donos de fios grisalhos e ondulados precisam puxar as suas calças beges até o umbigo antes de acenderem um charuto na porta do restaurante.
E ela lembra que há bananas amassadas dentro da bolsa...
Algumas pessoas a encaram entre as travessas e ela não sabe se é sua saia curta ou o barulho do seu salto direito que soltou de novo, e o prego bate na cerâmica da calçada escandalosamente.
Continua caminhando e o fluxo de pedestres parece aumentar. Se tivesse algum pesquisador do IBGE para calcular ela atestaria que muito mais da metade da classe rica da cidade trafegava ali, naquela tarde.
E queria encontrar também um psicanalista para entender como ela e suas bananas amassadas foram parar ali no meio.
Mas o que falta naquele lugar são bananas.
Consistência
Massa
Encefálica.
Aflorando sua contradição nata, vê que por outro ângulo, o que se tem ali são apenas bananas.
Bananas por toda a parte.
O conteúdo é tão frágil quanto as suas cascas.
E são baratas porque qualquer preço as conquista.

Monday, November 27, 2006

Roda Viva

E agora, nesse minuto, já se passaram 24 horas.
A sensação de estar
caindo
em
um túnel
era passageira.
Mas não existem remédios, e o que era para ser um sintoma, virou o problema.
Não adianta dormir, mesmo porque quando se acorda, surge uma falsa sensação de alivio, mas a tontura não passa.
Parece incomodo com o verão, um simples mal estar e até mesmo uma ressaca das mais bravas.
Tentar esquecer é falho, porque agora o sobe e desce não tem fim.
Serão os labirintos a sua sina?

Wednesday, November 22, 2006

Banco Vago



Seus pés sujos balançavam suspensos naquele banco que faziam os chinelos se desprenderem para o corredor.
Com a mesma estática no olhar permaneceu entre os braços do pai que mirava em direção contrária à porta.
A porta refletia o sol quente que parecia secar a lama de suas pequenas pernas que descansavam inquietas.
A expressão envelhecida, o cansaço e a preocupação não o atribuíam à cronologia que o pertencia.
Nada mais o preocupava: nem a falta de brinquedos, comida ou noites dormidas em colchões limpos.
O que faltava era algo além de problemas urbanos ou crises existenciais.
Nem as pessoas perfumadas e bem vestidas que passavam apressadas por ali o faziam curvar as suas cabeças.
O pai não incitava perigo, nem medo de quem sentava em bancos próximos.
Eles não existiam, assim como o movimento naquelas retinas.

Tuesday, November 21, 2006

Teimosia
Teima
existir.
Nessa vida, quem não teima?
Já que precisa existir...
Há os que acreditam que ganham alguma coisa.
Mas o que não é a ilusão, do que falsas crenças?
Aqui nada se ganha, nem se perde.
E na natureza só há conseqüências.
A pressa precipita essa verdade, e a culpa a retrai.
Pensar muito sobre o que não se deve fazer só estimula a fazê-lo.
Decidi não pensar.
Pois já dizia minha mãe:
O que não tem remédio, remediado está.

Thursday, November 16, 2006

Vou-me Embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha Rainha falsa e demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei - Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
(Manuel Bandeira )


diferenças na distância mínima do significado das coisas.
Quem é esperto, não necessariamente é inteligente.
E quem é inteligente, muitas vezes é um poço de inocência.
Já os sábios, unem a esperteza no momento certo mais a inteligência adquirida com o passar dos anos.
Quem diverte não consegue alegrar às vezes.
Ninguém é feliz, pois felicidade é condição temporal.
Estamos felizes em alguns momentos mesmo quando não sorrimos.
Quem é depressivo, não necessariamente é triste a todo momento.
O ódio e o amor são duas facetas da mesma cabeça.
Estar nervoso pode ser cansaço.
E o limite pode anestesiar
...

Tuesday, November 14, 2006



Os departamentos pareciam repartições públicas. As salas ficavam fechadas e os móveis eram de madeira pinhão.
Os funcionários daquele setor eram em sua maioria homens mais velhos, carecas e casados.
Ela era incumbida das tarefas mais desprezadas: passar fax, buscar as garrafas de café na cozinha, distribuir os materiais de escritório.
Mas tinha uma na qual sempre se saia bem: encontrar coisas. Não importava qual documento fosse. Algo que ela nunca viu, letras minúsculas, numero de protocolos só no rodapé de paginas empoeiradas. Era só pedir , que ela encontrava.
Abria aquelas gavetas de aço pesadas do arquivo, colocava as pastas para fora e folheava de maneira aleatória.
Naquela época já trazia a alcunha de bagunceira e desorganizada. Não parava para arrumar as coisas, mas sempre acabava encontrando o que procuravam.
Pensou até em ser pesquisadora, arqueóloga, historiadora, ou até astronauta, e quem sabe conseguiria localizar um novo planeta...
Embora todos os sonhos típicos para a época a cerceasse, voltou a terra, fechou a gaveta, e foi até ao departamento, com o papel esperado pelo chefe que não encontrava mais unhas para roer.
Eram todos tensos em forma distinta.
Além dos dedos na boca, ele arregalava os olhos e os fios do cabelo pareciam estar sempre arrepiados.
O que mais a agradava, por mais quieto que fosse era o Carlos Eduardo. Conhecido por Dudu Stradvarius. O segundo nome de apelido era referencia a sua segunda função.
Dudu era violinista de uma escola adventista, e sempre colocava nomes e historias de artistas clássicos no meio das conversas mais corriqueiras.
-Minha mulher está grávida.
-Parabéns!!!
-Mas a primeira esposa de Johann Sebastian Bach morreu de repente, depois que deu à luz a sete filhos.
-Acho que tenho problema de audição, tenho que ir ao médico.
-Beethoven quase cometeu suicídio quando soube, mas por essa deficiência, introduziu mais contrastes, mais peso e mais drama que conseguia ouvir na forma sinfônica.
Fora o discurso clássico de todo dia, ele ainda tocava um violino imaginário ou um air violin, quando ficava nervoso.
Falava que um dia ia levar ao trabalho o instrumento e mostrar algumas notas. Ela aguardava ansiosa porque além achar lindo o som, queria aprender a tocar.
Um dia depois da conversa que tiveram a tarde toda sobre música, a filhinha que tinha acabado de nascer, a esposa que conhecera na adolescência, ela entra na sala esperando ver o gordinho na mesma mesa de frente à dela, com sua respiração ofegante por conta da asma.
Mas ele não estava lá.
Ele tinha morrido. Um bruto acesso de tosse asmática e foi parar no hospital. Faltou oxigênio no cérebro. Ele não tinha achado a bombinha a tempo.
Começou a chorar, mas depois de dois minutos, como cronometrados para o silencio, o seu chefe voltou a roer as unhas, e os telefones tocavam e fax e e-mails chegavam, e tudo voltava à normalidade. Será que se precisasse achar a bombinha para Dudu ela teria encontrado na hora certa?

Monday, November 13, 2006

So this is permanence, love's shattered pride.
What once was innocence, turned on its side.
A cloud hangs over me, marks every move,
Deep in the memory, of what once was love.
Oh how I realized how I wanted time,
Put into perspective, tried so hard to find,
Just for one moment, thought I'd found my way.
Destiny unfolded, I watched it slip away.
Excessive flashpoints, beyond all reach,
Solitary demands for all I'd like to keep.
Let's take a ride out, see what we can find,
A valueless collection of hopes and past desires.
I never realised the lengths
I'd have to go,All the darkest corners of a sense
I didn't know.Just for one moment,
I heard somebody call,
Looked beyond the day in hand, there's nothing thereat all.
Now that I've realised how it's all gone wrong,
Gottas find some therapy, this treatment takes toolong.
Deep in the heart of where sympathy held sway,
Gotta find my destiny, before it gets too late.
(Joy Division - Twenty-Four Hours )


Azar no jogo… e a sorte, onde foi parar?


Os letreiros da fachada são sempre enormes, e a entrada é rápida e indolor.
Todos estão concentrados nos caça-níqueis e nos jogos eletrônicos .Mas na outra sala há centenas de mesas abaixo da penumbra de cigarros e senhoras atentas.
Se perdeu por uns segundos , mas na rodada seguinte a obsessão achou seus números.
-Falta só um para a linha e seis eu faço bingo!
-Essa é a ultima chance, não dá mais tempo.
2,4,6...
A cartela está cheia de pares e as esperanças estão todas vencidas.
É hora de desistir e parar o jogo.

Friday, November 10, 2006


Alphagraphics 24 horas


21h00
- Oi, estou atrasada.
E ai, conseguiram pegar a prova?
- A gente revisa ali no Giraffas.
22h07
-Podemos falar com a diagramadora?
-Ela chega às 22h30.
22h38
-É aquela que entrou correndo?
-Ah vamos dar um tempo pra ela.
-Vou fumar um cigarro.
22h49
-Senhor, elas estão aqui há muito tempo esperando.
-Mas são só uns detalhes.
-Que absurdo, querendo passar na frente.
-Aposto que ele ia deixar a gente esperando meia hora.
-Ainda bem que o moço da gráfica nos defendeu.
23h15
-Pode subir e mudar o que está errado.
-Gente, é rapidinho ta, senta aí.
1h29
-Qual o anuncio que eu coloco?
-Qualquer um, pelo amor de deus.
-É, pode ser de supositório,
lentinhas, fralda, é tudo a mesma coisa.
-O curso é Jornalismo, esqueceu?
2h48
-Ai quase me perdi nos porões da gráfica tentando achar o banheiro.
-Parece aqueles pesadelos que eu nao consigo sair do lugar.
3h54
-Vamos comigo pegar o carro?
-Tá vendo aquela loira bêbada ali na frente?
-Nossa, tá todo mundo igual.
-30 pessoas saindo da balada trançando as pernas e falando enrolado.
-Parece o clipe do Michael Jackson da volta dos mortos vivos.
-O que a gente não vê quando estamos sóbrias!
-Ainda bem que tem aquela vaga ali do lado da gráfica.
-Não acredito que um caminhão de lixo te cortou e pegou o lugar!
5h02
-Olha gente, nós somos muito sortudas,
começou a chover só agora que entramos no carro.
-Acho que eu vou assassinar um funcionário com o uniforme da Alphagraphics na rua.
e 5h25
-Gente, olha aquele moço carregando um quadro de lado.
-Não dá para ver os pés dele.
-Eu juro que é um quadro andando.
-Precisamos dormir.

Wednesday, November 08, 2006




"...E a liberdade é a unica coisa que te prende aqui ..."

Tuesday, November 07, 2006

"...Não pode ser levado o que não se encontra..."

Monday, November 06, 2006

"Cuidado com o que deseja...
...pois você pode conseguir…"

Wednesday, November 01, 2006



"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."

Fernando Pessoa