Tuesday, April 30, 2013

Tarde vazia


Esvaia-se como que um vento fugidio.
Acordou pra retomar o tempo.
O tempo que te cantou e entorpeceu.
Retoma o ar faltante e distraído.
...
Não sabes se foi um dia triste.
Tristeza não se combatia.
Pensou que ela poderia ficar. Se não a entristecesse.
Como se a recebesse com um sorriso.
Não faz jus mais ao que sentes.
...
Quantas tardes passariam assim, em dúvidas de canto.
Outras tantas, sem fôlego ou espanto.
Ausência dos ecos do vento.
Quando passa e nada diz.


Tuesday, April 23, 2013

Passou.


Descobriu-se daquelas cenas intocáveis, atravessou a rua, com pressa, a calcular a distância do carro por uma nota sonora, sem olhar para o lado e apenas para a frente;
arriscando alguns atropelos.

A ponta do dedo do pé, arranha no canto da bota que esquiva-se em um passo de vento frio, a  adentrar num espaço fino entre as linhas e o fecho.

Não era um sorriso, apenas a mistura de saliva com os fios de cabelo insistentes a confundir o seu rosto.

Dói. Aqui no canto esquerdo das costas, logo abaixo de um osso recalcado, na angústia dúvida do que se pode ser.

Receia o intervalo entre um respiro de nenhuma palavra para captar o ar enquanto falta algo no pulmão, talvez silencie.

Tanto lhe disse e o que ouviu?


Mas passou... Os carros e a fumaça, delirando entre um balé desgovernado num misto de dor e gritos suaves de sussurros.

Não reconheces, pois as pessoas estão sempre deixando algo por entre os seus dedos, enquanto crescem ou enrugam, descascam, nas unhas que tentam falar algo.

Agora estamos em outro espaço de combinações de paredes, que se dobram entre os dias e os anos que você não suspeita, sob sonhos indecifráveis esquecidos em copos deixados na ponta da mesa, palavras encurtadas em um eco esofágico.

Digeres a vida meu amor, como uma última folha de papel de tintas borradas que carregaste por alguns segundos entre seus dedos.

Lá vai, a esquina das gotas de dias a apagar as marcas da sua voz que dizia algo que não vai nunca lembrar, fica no espaço como suor perdido.

E ninguém quer perder nada. Até que se lembre. 

Algumas pessoas precisam guardar coisas que não precisam.
Outras passarão a vida sempre com saudades, entrecortando cenas do que não pode ter espaço pra assistir.
Sem terminar, foi quando inspirou e parou. Com algo ali que cabia mais do que uma página, um caderninho de anotações, a palma da mão, uma conversa que faça sentido.

Rodopiar, até que canses na volta de seus braços. Por detrás dos olhos, em algum canto de intervalo entre suas piscadas, todo sorriso passa algo incompleto.