Wednesday, April 18, 2007


(...)

-Porque nosso mundo não é o mesmo de Otelo. Não se pode fazer calhambeques sem aço. – e não se pode fazer tragédias sem instabilidade social. Agora o mundo é estável. O povo é feliz; todos têm o que desejam e nunca querem o que não podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não tem medo da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se afligem com pais e mães; não tem esposas, filhos nem amantes a que se apeguem com emoções violentas; são condicionados de modo a não poderem deixar de se comportarem como devem.

(...)

- Mas vocês gostam de ser escravos? Estava dizendo o Selvagem quando eles entraram no Hospital.Tinha as faces coradas, os olhos brilhantes de ardor e indignação. Vocês gostam de ser bebês? Sim, bebês.
Babando e chorando, acrescentou exasperado pela sua estupidez de animais, a ponto de atirar insultos naqueles que se propunha a salvar. Os insultos deslizaram sobre sua espessa carapaça de estupidez; eles o olharam espantados, com o olhar vago, cheio de ressentimento. Sim, babando! Gritou ele incisivo. Dor e remorso, compaixão e dever-tudo agora estava esquecido e de certo modo absorvido num ódio intenso que dirigia contra aqueles monstros subumanos. Vocês não querem ser homens e livres?Não podem compreender o que significa ser homem e ser livre? A fúria tornava-o fluente, as palavras vinham-lhe facilmente, aos borbotões. Então, muito bem, prosseguiu feroz. Vou ensiná-los; vou torná-los livres quer queiram quer não.

(...)

-Decerto. A felicidade real parece bem sórdida e comparação às compensações que se encontram na miséria. E sem dúvida a estabilidade não é tão bom espetáculo quanto à instabilidade. E estar contente nada tem do encanto de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de uma batalha contra a tentação, nem de uma derrota fatal pela paixão ou pela dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.


Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo

Wednesday, April 11, 2007


Quando


Quando amamos é
Quando odiamos alguém?
Quando amamos alguém e
Quando odiamos alguém é quando?
Quando amamos alguém...
...é quando há qualidades de quando odiávamos
Quando amamos alguém...é quando há qualidades até nos defeitos
Quando odiamos alguém...
...é quando os defeitos escondem as qualidades
E assim o ser amado é venerado por qualquer ato imbecil
E o odiado torna-se insuportável apenas pela sua existência
Humanos.
E as formas exageradas e egoístas de sentir.

Tuesday, April 10, 2007


Feitiço




Existe uma distância mínima para nos tornarmos aquilo que criticamos


Monday, April 09, 2007



"Prefiro ser odiada com coerência a amada sem razão."


"She tries not to shatter, Kaleidoscope style

Personality changes behind her red smile..."

(Siouxsie And The Banshees)

Thursday, April 05, 2007


Nobre horário

Ele pulou o muro, olhou para você.
Você anda mais rápido, mas ele está quase te alcançando, com a mão por baixo da blusa.
Você não pensa duas vezes e sai correndo, caminha junto a uma mulher, mas ele está correndo também.
Você volta a correr e entra em casa ofegante, não brinca com a cachorra e apaga as luzes.
Alguns minutos depois alguém toca a campainha, era seu vizinho, dizendo que o viu te seguir, e olhar por baixo do portão quando você entrou.
Seu celular recebe uma mensagem, a mãe de um amigo morreu.
Você liga para ele, que está acabado, e ouve de fundo o som no volume máximo da TV, sintonizada na Globo.
Nesse momento todas as pessoas estão de frente à televisão. E é muito perigoso voltar para casa sozinha no horário da final do Big Brother Brasil.

Tuesday, April 03, 2007



Quando só vi uma criança em mim enquanto eu envelhecia.
Quando visualizei meus erros pela ótica da condenação.
Quando me esqueci em quartos empoeirados.
Quando me uni a incompreensão dos outros sobre mim mesma.
Quando me indaguei sobre coisas que eu não queria saber.
Quando subi num palco para mostrar os meus erros enquanto atiraram pedras.
Quando esperei os tapas de olhos fechados.
Quando não escapei da máquina de rótulos.
Quando me violentei nua por baixo de holofotes.
Quando fui ao encontro de dedos apontados sem ao menos tentar me esquivar.
Quando pensei só em defeitos enquanto eu crescia.
Quando economizei para não comprar as minhas próprias brigas.
Quando fui cruel comigo mesma.

Monday, April 02, 2007


Ferida

Caminhava naquele mesmo cruzamento no fim da noite, enquanto observava os malabarismos do engolidor de fogo no farol.
O espetáculo era o mesmo, mas ficaram ali por alguns instantes, para ver as labaredas que se dispersavam , e se movimentavam lentamente pelo ar.
O vermelho já mudava para o verde quando um loiro alto gordo e fascista chegou e socou o rapaz, que caiu no chão. Ele , na tentativa de se defender, foi caminhando em sua direção e jogou uma tocha que não o atingiu. As pessoas já se aglomeravam ao redor e o agressor ficou ali, estático, apenas gesticulando ao recuar.
Covardia e intolerância contra quem é diferente de você.Coisas que não tem explicação, seja o tipo de dogma que a pessoa tenha. E assim o mundo se move.


"Please could you stop the noise, I'm trying to get somerest

I may be paranoid, but not an Android (…)

you will be first against the wall With your opinion which is of no consequence at all..."

(radioh...)