(...)
-Porque nosso mundo não é o mesmo de Otelo. Não se pode fazer calhambeques sem aço. – e não se pode fazer tragédias sem instabilidade social. Agora o mundo é estável. O povo é feliz; todos têm o que desejam e nunca querem o que não podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não tem medo da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se afligem com pais e mães; não tem esposas, filhos nem amantes a que se apeguem com emoções violentas; são condicionados de modo a não poderem deixar de se comportarem como devem.
(...)
- Mas vocês gostam de ser escravos? Estava dizendo o Selvagem quando eles entraram no Hospital.Tinha as faces coradas, os olhos brilhantes de ardor e indignação. Vocês gostam de ser bebês? Sim, bebês.
Babando e chorando, acrescentou exasperado pela sua estupidez de animais, a ponto de atirar insultos naqueles que se propunha a salvar. Os insultos deslizaram sobre sua espessa carapaça de estupidez; eles o olharam espantados, com o olhar vago, cheio de ressentimento. Sim, babando! Gritou ele incisivo. Dor e remorso, compaixão e dever-tudo agora estava esquecido e de certo modo absorvido num ódio intenso que dirigia contra aqueles monstros subumanos. Vocês não querem ser homens e livres?Não podem compreender o que significa ser homem e ser livre? A fúria tornava-o fluente, as palavras vinham-lhe facilmente, aos borbotões. Então, muito bem, prosseguiu feroz. Vou ensiná-los; vou torná-los livres quer queiram quer não.
(...)
-Decerto. A felicidade real parece bem sórdida e comparação às compensações que se encontram na miséria. E sem dúvida a estabilidade não é tão bom espetáculo quanto à instabilidade. E estar contente nada tem do encanto de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de uma batalha contra a tentação, nem de uma derrota fatal pela paixão ou pela dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.
Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo
-Porque nosso mundo não é o mesmo de Otelo. Não se pode fazer calhambeques sem aço. – e não se pode fazer tragédias sem instabilidade social. Agora o mundo é estável. O povo é feliz; todos têm o que desejam e nunca querem o que não podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não tem medo da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se afligem com pais e mães; não tem esposas, filhos nem amantes a que se apeguem com emoções violentas; são condicionados de modo a não poderem deixar de se comportarem como devem.
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- Mas vocês gostam de ser escravos? Estava dizendo o Selvagem quando eles entraram no Hospital.Tinha as faces coradas, os olhos brilhantes de ardor e indignação. Vocês gostam de ser bebês? Sim, bebês.
Babando e chorando, acrescentou exasperado pela sua estupidez de animais, a ponto de atirar insultos naqueles que se propunha a salvar. Os insultos deslizaram sobre sua espessa carapaça de estupidez; eles o olharam espantados, com o olhar vago, cheio de ressentimento. Sim, babando! Gritou ele incisivo. Dor e remorso, compaixão e dever-tudo agora estava esquecido e de certo modo absorvido num ódio intenso que dirigia contra aqueles monstros subumanos. Vocês não querem ser homens e livres?Não podem compreender o que significa ser homem e ser livre? A fúria tornava-o fluente, as palavras vinham-lhe facilmente, aos borbotões. Então, muito bem, prosseguiu feroz. Vou ensiná-los; vou torná-los livres quer queiram quer não.
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-Decerto. A felicidade real parece bem sórdida e comparação às compensações que se encontram na miséria. E sem dúvida a estabilidade não é tão bom espetáculo quanto à instabilidade. E estar contente nada tem do encanto de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de uma batalha contra a tentação, nem de uma derrota fatal pela paixão ou pela dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.
Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo





